Questão do Enem sobre Simone de Beauvoir irrita Feliciano e Bolsonaro
Jair Bolsonaro e Marco Feliciano reclamam de "doutrinação explícita" no ENEM 2015. Parlamentares ficaram irritados com citação da filósofa francesa Simone de Beauvoir na prova
Os deputados federais Jair Bolsonaro (PP/RJ) e Marco Feliciano (PSC/SP) usaram as redes sociais para atacar uma das questões do primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), realizado no sábado (24), em todo o País.
Em comentários postados ao longo do fim de semana, os parlamentares, que compõem as bancadas evangélicas e mais conservadoras do Congresso Nacional, expuseram repúdio ao fato de uma das questões da prova ter trazido uma frase da filósofa feminista Simone de Beauvoir, e chamaram a escolha de doutrinação ideológica por parte do governo Dilma Rousseff.
“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino”, trazia a questão, amplamente divulgada por políticos ligados a igrejas evangélicas no País – não só deputados federais, mas também de deputados estaduais e vereadores.
“Mais ou tão grave quanto a corrupção é a doutrinação imposta pelo PT junto à nossa juventude. O sonho petista em querer nos transformar em idiotas materializa-se em várias questões do ENEM (Exame Nacional do Ensino MARXISTA)”, escreveu Bolsonaro. “Essa canalhada deverá ser extirpada do poder em 2018 com o VOTO IMPRESSO, ou antes, da mesma forma como o Congresso, em 02 de abril de 1964, cassou o comunista João Goulart.”
“Esta frase da filósofa Simone de Beauvoir é apenas opinião pessoal da autora, e me parece que a inserção desse texto, uma escolha adrede, ardilosa e discrepante do que se tem decidido sobre o que se deve ensinar aos nossos jovens”, atacou o também deputado Feliciano, pré-candidato à Prefeitura de São Paulo. Ele citou o fato de a chamada “ideologia de gênero” – proposta em planos munipais e estaduais de Educação para que sejam debatidos nas escolas temas como machismo, homofobia, entre outros – ter sido derrubada por legisladores de todo o País ao longo dos últimos meses, o que, para ele, preservaria as crianças.
Elogios
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, rebateu os deputados em entrevista coletiva na noite do último domingo (25). Segundo o ministro, a escritora e filósofa teve “grande contribuição” sobre a condição da mulher na sociedade. Ele lembrou que, no passado, as mulheres não podiam votar e eram consideradas incapazes, sem direitos. “Esse é o contexto do debate. Pessoas podem divergir. Na educação, tem de estar aberto a discutir, a aceitar”, declarou.
Mercadante acrescentou que não teve acesso às questões antes da prova, por conta do sigilo imposto. “A prova é feita com total sigilo, eu só descobri o tema da redação no exato momento em que ele foi divulgado para vocês. São pesquisadores, professores universitários de competências reconhecidas nas suas áreas.”
Sobre o tema da redação, que abordou a violência contra as mulheres, ele afirmou que é um assunto importante e que ainda está presente na sociedade brasileira. Ele disse ainda que achou o tema “excelente” para que os mais de sete milhões de participantes reflitam sobre isso. “Em relação ao tema da redação, é inquestionável. Somos uma sociedade em que ainda há muita violência contra a mulher”, disse ele.
“Eu achei uma excelente escolha, defendo completamente a prova, estão de parabéns os que o fizeram. Quem sabe debatendo essa questão a gente consiga diminuir a violência, vai ser um grande avanço para a sociedade brasileira”, concluiu.