E se houver derramamento de sangue durante a votação do impeachment?
Psicopatia de Eduardo Cunha pode provocar tragédia durante a votação do impeachment. Muro, telões, carros de som, bonecos, adereços e transmissão ao vivo: emissoras já montam suas estações para a cobertura do "evento" no domingo. Os mais sensatos, porém, estão preocupados com a possibilidade de um derramamento de sangue (não só em Brasília, mas em outras cidades)
Pela primeira vez em quase 56 anos, a capital federal vive a inusitada situação de um ter um muro instalado na Esplanada dos Ministérios, dividindo a área para separar manifestantes contra e a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Sempre que são realizadas manifestações com grupos diferentes, a prática é ceder o espaço para quem fizer primeiro a solicitação formal, com os depois ocupando espaços próximos.
Desta vez, decisão conjunta do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) e do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acatada pela Secretaria de Segurança Pública do Governo do Distrito Federal, levou à construção do muro.
A ideia é fazer com que do lado esquerdo fiquem os manifestantes favoráveis à votação pelo afastamento, e do lado direito os manifestantes que apoiam a manutenção do mandato presidencial. A votação no plenário da Câmara está prevista para o próximo domingo (17).
Veículos de equipes de TV já montam estações específicas para a cobertura do domingo. O sistema começou a funcionar ontem à noite, mesmo com o muro inacabado. Muitos se preocupam com a estratégia.
“É muito temeroso. Não sabemos se esse reforço cairá ou será derrubado pelos manifestantes. Se isso acontecer, teremos pessoas feridas. Tomara que dê certo, mas estamos temendo uma grande confusão”, afirmou Adriano Caetano, servidor do Governo do Distrito Federal.
Representantes do movimento Vem Pra Rua, contrário ao governo, afirmaram que vão entrar com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir que a área seja ocupada por apenas um grupo de manifestantes, a serem escolhidos.
Eles querem que os demais manifestantes, com pensamentos divergentes, fiquem em áreas próximas como a frente da Rodoviária e o Eixo Monumental – que segue da rodoviária até o Palácio do Buriti, sede do governo local.
“A rigor legal, a Esplanada deveria ser nossa, pois registramos um informe de uso da Esplanada muito antes do outro grupo, mas o importante é que seja garantida a segurança. Ninguém está interessado em ver violência”, disse um dos coordenadores do movimento em Brasília, Jailton Almeida.
“Nada disso, eles fizeram o pedido em manifestações anteriores. Não vale para esta. Eles não podem ter o monopólio da Esplanada porque pediram para usar a área vários meses atrás”, contestou o servidor da Câmara e manifestante contra o impeachment Robson Andrade.
Sem privilégios
“Não concordo que um grupo seja privilegiado em detrimento de outro, mas é preciso cuidado. Talvez fazer com que os manifestantes se revezem em horários diferentes na área em frente ao Congresso, não sei. Mas já decidi que não trarei minha esposa e filhos para cá neste domingo. Isso aqui está nitroglicerina pura”, afirmou o engenheiro Alexandre Ferraz, assessor concursado da Controladoria Geral da União (CGU).
“Estamos fora do local, hoje, porque tiramos o dia para descansar, mas os colegas estão chegando. Vamos ficar aqui, sim, e se depender de nós não haverá bagunça, nem brigas. A bagunça é coisa de desesperados e desespero é o que não temos. É como diz nosso slogan: não vai ter golpe, vai ter luta. E luta não significa, necessariamente, troca de tapas”, disse o agricultor Antonio Tavares. Ele integra um grupo de trabalhadores do interior de Goiás, que ocupa Brasília desde a noite do último domingo. Eles estão instalados em uma área em frente ao estádio Mané Garrincha.
Na Câmara, o presidente da comissão especial do impeachment, Rogério Rosso (PSD-DF), manifestou sua preocupação. “Cada vez que se ergue um muro, se segrega um povo”, afirmou. “Não é hora de construirmos muros, mas de, independente do resultado que vier a ter a votação, buscarmos um consenso para unir o país. E os manifestantes que estarão lá fora também precisam ter esse sentimento.”
‘Muito perigoso’
O ex-deputado e assessor palaciano Francisco Escórcio considera alta a possibilidade de confronto entre os manifestantes. “Alguém acha que as duas multidões, provocando-se o tempo todo com palavras de ordem, não tentarão se atracar em algum momento, especialmente quando começar a ficar claro o resultado da votação, que estará sendo transmitido ao vivo?”, questiona Escórcio.
A jornalista e colunista política Tereza Cruvinel sugeriu que “Um grupo fique na Praça dos Três Poderes, entre o Planalto, o STF e o Congresso, e outro no gramado da Esplanada. Bastaria uma barreira nas duas pistas de rolamento, a que sobe e a que desce da Esplanada, esquema que apresentaria muito maior segurança para os dias críticos que o Brasil viverá no próximo final de semana, afastando o riscos de uma batalha campal perigosa”
“Até agora, felizmente, não se realizou o temor de Luiz Fernando Veríssimo quanto ao surgimento de um cadáver nas ruas.”, afirma Tereza.
Riscos em outras cidades
Apesar do foco em Brasília por motivos óbvios — é lá que os manifestantes estão se concentrando por ser o lugar onde ocorrerá a votação –, confrontos de menor natureza ou até mais graves podem acontecer em diversas cidades do Brasil.
As últimas manifestações contrárias e favoráveis ao impeachment já mostraram que ambos os lados são capazes de levar muita gente às ruas.
No próximo domingo, no entanto, será a primeira vez que sairão de suas casas, simultaneamente (e maciçamente), as pessoas que integram os dois espectros. Antes, os protestos aconteciam em dias diferentes.
A julgar pelo nível de ódio e histeria que imperam no cenário político atual, com pessoas sendo agredidas pelo simples fato de usarem, por exemplo, roupas vermelhas, o registro de ocorrências no próximo domingo não surpreenderá.
Tudo isso poderia ser evitado caso Eduardo Cunha não tivesse consigo o desejo de ver o circo pegar fogo. O presidente da Câmara decidiu pela votação em um domingo porque considera que, assim, há mais chances de o impeachment ser aprovado. Em um dia comum, não haveria mobilização e pressão popular, mas os riscos seriam reduzidos.
Como as decisões de Eduardo Cunha só podem ser revertidas pelo STF (a corte, até agora, não sinalizou que irá interferir) e toda a sua estratégia já está montada, o que resta é torcer para que a sensatez e a racionalidade prevaleçam, independentemente do resultado.
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com informações de RBA