Processo sucessório paraibano
A tragicomédia continua, mas já se pode delinear o seu desfecho. O maestro Cássio sairá sempre por cima para a sua platéia de admiradores bem ou mal intencionados; entretanto, sua cova política, infelizmente visível apenas para pouquíssimos, está cada vez mais funda. E ele mesmo é quem a cava com suas estratégias caudilhescas extemporâneas para um país que, mesmo com lentidão e sofrimento, vem depurando suas práticas públicas e privadas.
Nesse processo sucessório paraibano, há um vasto material para reflexões sobre como não deve agir um político profissional. Os erros cometidos, eivados de incoerências pueris ou preconcebidas, dão a impressão de que não sairemos nunca do atoleiro. Que se observe, com cuidado, o manancial de alternativas que podem levar, novamente, Cássio ao pódio e se conclua que os desafios dos bem intencionados, embora enormes, não parecem tão invencíveis assim se se atentar para a fragilidade de tantos moribundos políticos que se proclamam fortes quando não passam de náufragos à procura de uma sobrevida.
Cássio pode sair como candidato ao Senado ou pode até, em nome da composição, “abrir mão” da sua indicação e pensar em voltar como prefeito de Campina Grande em 2012, ganhando fôlego para o retorno ao governo do Estado em 2014. Para muitos, somente ele é capaz de trazer de volta para o grupo o comando político de Campina. Nesse interregno, se contentaria com um alto cargo em um possível governo Serra. De Cícero Lucena ninguém espere rompimento com os Cunha Lima. A maior tarefa de Cássio será convencê-lo a se aproximar um pouquinho de Ricardo Coutinho, seu histórico desafeto. É muito lógico que, no final das contas, todos peguem seus “brinquedinhos” e toquem suas vidas. Haverá um epílogo bem ao feitio da cara de seminarista arrependido de Cícero. Ele será candidato do PSDB no primeiro turno (assim deseja o próprio José Serra), sabendo que não irá para o segundo turno. Na reta final, então, todos estarão “unidos” em torno de Ricardo Coutinho. Qualquer incongruência desses arranjos ficará por conta das “peculiaridades” das políticas regionais, ou seja, será normalíssimo Ricardo Coutinho de Lula + Cássio de Serra.
E dessa soma bombástica se nutrirão o DEM e congêneres, que vivem para atrapalhar a evolução da consciência política nacional.
*Luis Soares é escritor, colunista e editor de Pragmatismo Político