A maior economia da América Latina desfruta o seu melhor momento em um longo tempo. Um dos últimos países a cair na retração global provocada pelo setor financeiro em 2007, o Brasil também foi um dos primeiros a sair. Pela primeira vez em sua história, conseguiu uma combinação de crescimento econômico, inflação baixa e democracia plena – e a boa fortuna parece que deve continuar.
Muito se deve a Luiz Inácio Lula da Silva, um carismático ex-metalúrgico, o presidente do Brasil desde 2003. A eleição presidencial de outubro será a primeira, desde que o País reintroduziu as eleições diretas em 1989, em que ele não concorre. No final do seu segundo mandato, ele é tão popular que é difícil imaginar que já foi um dia um “perdedor serial”. Ele deixará uma lacuna que nenhum dos que estão tentando sucedê-lo poderá preencher.
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Os dois mais bem colocados são José Serra, o governador de São Paulo, e Dilma Roussef, a chefe da Casa Civil, um posto análogo ao de chefe de equipe (chief-of-staff) presidencial. Serra está na dianteira e as suas taxas de aprovação no estado mais populoso do País são altas. Ele foi um bom ministro da Saúde no governo de Fernando Henrique Cardoso e concorreu à Presidência contra Lula em 2002. Como Lula já provou, perder eleições não é um obstáculo para o sucesso futuro no Brasil.
A candidatura de Dilma Roussef depende da capacidade de Lula de transferir sua popularidade para a sucessora escolhida. Vai depender muito de seu apelo ser prejudicado por outros candidatos da esquerda, como Marina Silva, a senadora que já foi ministra e é há tempos estrela do movimento ambientalista.
A votação vai dividir o País geograficamente, especialmente se Serra escolher um candidato a vice que também venha da Região Sudeste. Isso iria alinhar o Norte e Nordeste mais pobres contra o Sul e Sudeste, mais ricos e populosos. Seria bom para Serra, porém iria exacerbar o contraste entre as duas nações que convivem no Brasil.
O vencedor vai herdar um país com perfil internacional mais forte e uma economia mais bem-sucedida do que quando Lula assumiu. Mas também haverá problemas, apesar do período dourado em que a arrecadação de impostos subiu mais rápido que o PIB. Em resposta à crise global, o governo Lula cortou imposto e aumentou os gastos ao mesmo tempo, o tipo de resposta política que apenas os países mais maduros podem administrar sem aterrorizar os credores.
Em vez de os gastos extras serem direcionados para a infraestrutura, estes foram despejados em um aumento dos salários e benefícios do setor público. Não será fácil cortar esses benefícios mais tarde. As receitas dos campos de petróleo recém-decobertos na costa do Brasil não vão entrar com a rapidez necessária para salvar o novo presidente dessa herança problemática.
A regulamentação definindo como será gasto o dinheiro do petróleo – fundamental para o desenvolvimento do País – será submetida ao Congresso no mesmo momento em que a campanha presidencial estará nas ruas. Isso significa que há um grande risco de que o debate sobre o futuro da nação seja engolfado por negociações privadas, evitando talvez que o Brasil consiga fazer o melhor com esse “presente de Deus”, como Lula descreveu o petróleo.
Os dois principais candidatos são bem preparados para as tarefas que enfrentarão. A temporada de Serra no governo federal é mais lembrada por sua decisão de quebrar a patente do Efivarenz, o anti-HIV da Merck, o que ajudou o Brasil a manter a AIDS sobre controle. Algumas pessoas temem que José Serra, que tem um doutorado em Economia pela Universidade Cornell, vá mexer com as instituições de política econômica que contribuíram para o sucesso recente do Brasil.
Dilma Roussef também é uma economista de formação, embora não seja tão eminente. Ela é tida como a reponsável por colocar a Presidência de Lula nos trilhos novamente depois do escândalo do mensalão em 2005, quando se descobriu que o governo estava administrando suas relações com o Congresso através do pagamento de propinas.
O fato mais notável, do ponto de vista do Brasil, é que há dois tecnocratas disputando o cargo máximo do País. A estabilidade política e econômica, duramente conquistada, deve continuar, independentemente de quem vencer.
John Prideaux, The Economist
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