Caso Irã: Tucanos não resistem
Iran Alfaia
Quem esperava um embate entre oposição e governo na audiência desta terça (1) com o ministro Celso Amorim na Comissão de Relações Exteriores do Senado, acabou presenciando um consenso favorável à diplomacia brasileira no caso do acordo sobre o programa nuclear do Irã. O chanceler falou por quase três horas e saiu da reunião elogiando “uma rara convergência” entre os parlamentares.
Presidente da comissão e um dos principais críticos do acordo, o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) limitou-se a ler o questionamento deixado pelo ausente senador João Tenório (PSDB-AL), autor da proposta da realização da audiência.
Azeredo foi logo explicando que havia um consenso, “inclusive entre os deputados da oposição”, de que o acordo pilotado pelo Brasil e Turquia representou um avanço, mas questionou sobre as garantias que os países teriam de que o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, iria cumprir o acordo. Também perguntou se não existiam outras questões prioritárias para o Brasil no lugar da agenda internacional.
“Eu acho que garantias não podem ser baseadas nas intenções e sim em questões objetivas”, argumentou Amorim. Nesse ponto, ele reforçou o já havia dito o ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e prêmio nobel da paz Mohamed ELBaradei.
O chanceler leu um trecho de uma entrevista concedida no último domingo (31) por ELBaradei ao Jornal do Brasil: “Se uma ameaça significa a possibilidade iminente de o Irã desenvolver armas nucleares, não temos nenhuma evidência disso, pelo menos até eu sair da agência, há apenas seis meses. Na época, não havia qualquer indicação de que o Irã estivesse desenvolvendo armamento nuclear.”
Depósito de urânio
Com base em informações do serviço de inteligência de países ocidentais, Amorim disse que após depositar 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido na Turquia, conforme o acordo, restariam ao Irã pouco mais de 1.200. Para obter um arsenal de bombas atômicas o país necessitaria beneficiar 9.000 quilos sem inspeção da Agência.
“Não há discussão sobre as intenções. Obviamente, o pressuposto geral de todo esse acordo é que urânio que o Irã dispõe continua sendo inspecionado pela Agência. Não é uma operação fácil deslocar 2.200 quilos de urânio das suas finalidades atuais para outras”, explicou.
Com relação a outras prioridades no lugar da agenda internacional, Amorim diz que o Brasil como membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas precisa seguir os princípios da Carta da organização na qual sugere que o país precisa opinar sobre as questões da paz e da segurança internacional.
Ele também falou da carta que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enviou ao presidente Lula três semanas antes do encontro em Teerã.
Questionado se o acordo não estava contemplado todos os pontos relacionados por Obama ao presidente brasileiro, Amorim foi enfático: “Contempla de forma completa. Pode ser até que a linguagem não seja exatamente igual, mas contempla (…) Não há um ponto das preocupações principais do presidente Obama que não faça parte da declaração.”
Ele reforçou a posição do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) segundo a qual os Estados Unidos não estariam aceitando o acordo pelo fato de querer manter sua posição hegemônica. “Não existe outra explicação”, disse Buarque.
Alguns títulos e trechos de artigos selecionados nos principais jornais do mundo, na opinião de Amorim, acrescentam mais à argumentação do senador. São eles: “O acordo com o Irã e o desafio da tutela de Washington”; “Quando Lula e Erdogan foram a Teerã o jogo foi completamente diferente, a mudança não estava no conteúdo, mas principalmente nos negociadores do local da reunião” e; “Hegemonia desafiada – Turquia e Brasil enfrentam EUA e Conselho de Segurança na questão do Irã.”