Golpe de Estado em Honduras deixou o país falido
Um ano depois do golpe que derrubou o presidente Manuel Zelaya, completado nesta segunda-feira (28/7), Honduras continua se debatendo em meio a uma crise econômica e política sem precedentes. Até o momento, o presidente Porfirio Lobo não conseguiu convencer o mundo de que o país voltou à normalidade – o que inclui a situação dos cofres do país.
No final de 2009, a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) disse em seu relatório anual que a crise política de Honduras “ampliou os efeitos da recessão global no país” e que o golpe teve um grave impacto sobre a economia, “já altamente dependente da ajuda externa”. A condenação generalizada do golpe, que contou com o apoio velado e envergonhado dos EUA, revelou o isolamento de Washington na região.
PIB desaba
Os dados da Cepal revelaram um encolhimento do PIB em 3%, enquanto o Banco Central de Honduras anunciou que a suspensão do fluxo de financiamento por parte do Grupo de Países e Organismos Cooperantes (G-16) provocou uma queda de 40% nas entradas de capital.
Diante da queda da renda e da impossibilidade de se obter financiamento externo, “o déficit fiscal chegou a 4,5% do PIB e foi coberto com um aumento de 80% do endividamento público”, afirmou a Cepal. Além disso, o governo de fato de Roberto Micheletti aumentou drasticamente os gastos militares, o que provocou uma queda adicional do PIB.
Prejuízos milionários
De acordo com estudo realizado por Wilfredo Girón Castillo, professor de economia centro-americana, o golpe provocou o fechamento de 60% dos estabelecimentos comerciais e empresas produtivas do país por mais de duas semanas, o que resultou em um prejuízo de 52,6 milhões de dólares.
As manifestações da população nas ruas, o fechamento de fronteiras e a suspensão das remessas de organismos internacionais teriam provocado perdas estimadas em mais de 3,45 bilhões de dólares.
“O Índice Mensal de Atividade Econômica registrou uma queda drástica de mais de 3% em todos os meses posteriores ao golpe. Os setores mais afetados foram a construção e o comércio, com um recuo de 13% e 8,9%, respectivamente”, afirmou Girón.
“Podemos afirmar que a vitória obtida pelos grupos de poder foi uma vitória de Pirro e que todos nós perdemos”, disse o economista.
Sem retomada
Cinco meses depois da posse de Porfirio Lobo, a situação não melhorou muito e ainda não há sinais de uma verdadeira retomada da cooperação internacional.
“As eleições e o reconhecimento do novo governo por parte de alguns países trouxeram mais tranquilidade a Honduras” e isto permitiu uma lenta reativação econômica. “No entanto, é preciso saber interpretar o aumento do índice”, afirmou Girón ao Opera Mundi.
Segundo o economista, os setores que mais cresceram foram o bancário, o de seguros e o de telecomunicações, ou seja, “os setores de acúmulo de capital especulativo nas mãos dos grupos de poder”.
Já os setores que geram emprego, como a construção, o comércio e a agricultura, “continuam afundados na crise e desta recuperação econômica pouco sobra para a população”, disse Girón.
Para o professor universitário, a única maneira de sair desta crise é uma mudança de modelo econômico e político.
“É preciso regular o sistema bancário e orientar o capital para a produção, no âmbito de uma economia mais solidária e redistribuidora”, afirmou.
Opera Mundi