Stone mostra a América do Sul aos seus divertidos compatriotas
O diretor americano Oliver Stone gosta de tocar em assuntos que gerem certa polêmica em seu país de origem. A Guerra do Vietnã, em Platoon (1986), a morte do presidente Kennedy, em JFK (1991), o papel controverso da mídia em Assassinos por Natureza (1994) ou a gestão de Bush Jr. em W (2008) são alguns dos temas em que o diretor se debruçou.
Dessas incursões saíram grandes filmes e outros medíocres, mas que têm em comum certo anseio por um ponto de vista contrário aos tradicionalismos americanos. Estreando no Brasil, Ao Sul da Fronteira é o mais recente da lista.
Ao contrário do que pode sugerir o início desse documentário, misto de road movie, Stone não quer ter um papel parecido com o do diretor Michael Moore. Tenta, ao longo dos 102 minutos de exibição, desmistificar a visão americana sobre a América Latina, sobretudo a respeito de seus governantes.
Busca também um entendimento particular sobre Hugo Chávez (Venezuela), Raúl Castro (Cuba), Evo Morales (Bolívia), Lula, Christina e Néstor Kirchner (Argentina), Fernando Lugo (Paraguai) e Rafael Correa (Equador). Quem são esses personagens, ele quer saber, e por que são vistos como ameaça pela população americana?
Em conversas informais, Stone acompanha esses presidentes e foca-se na figura de Chávez. “Um urso”, ele diz, “hospitaleiro, carismático e supersimpático”. Sua trajetória é narrada com passagens pela infância, as prisões e os golpes. Em uma cena divertida, o presidente visita o quintal da casa onde cresceu, anda em uma pequena bicicleta, enquanto o americano dirige a movimentação.
Outras passagens engraçadas ficam por conta da exibição de trechos de programas da tevê americana. Uma apresentadora se diz impressionada com o “ditador que masca folhas de cacau”. Cacau? Ops!
Ao Sul da Fronteira não deve ser visto como partidário ou panfletário, mas como o empenho de um estrangeiro em querer entender melhor as relações do mundo em que vive.
Em visita ao Brasil para divulgar o filme, dificultada inicialmente pelo fato de ele não ter trazido seu visto de entrada no País, Stone é tratado como especialista em relações internacionais. Já disse que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tem muito a aprender com Lula e que a pré-candidata à sucessão presidencial, Dilma Rousseff, é carismática.
Camila Alam