Demissões na TV Cultura abrem suspeita de interferência política
Publicado em 12 Jul, 2010 às 18h44
Duas recentes demissões de jornalistas da TV Cultura levantaram suspeita de interferência política por parte do ex-governador de São Paulo e candidato à presidência da República, José Serra (PSDB). O motivo teria sido questionamentos em relação às altas tarifas cobradas nos pedágios paulistas.
Na última quinta-feira (10), o jornalista Gabriel Priolli foi afastado da direção de jornalismo da TV Cultura pelo vice-presidente de conteúdo da emissora, Fernando Vieira de Mello, por orientar a produção de uma reportagem sobre as tarifas de pedágio nas estradas estaduais. A reportagem seria exibida na quarta-feira (09), mas foi suspensa por Mello. Segundo ele, a matéria não estava pronta, pois nela somente era ouvidos dois candidatos ao governo do estado, Geraldo Alckmin (PSDB) e Aloízio Mercadante (PT).
Priolli havia assumido o posto de diretor de jornalismo da emissora cinco dias antes de seu afastamento. O presidente da Fundação Padre Anchieta, João Sayad, alegou que Priolli não tinha o perfil adequado para o cargo na emissora, gerida pela fundação, e que seu afastamento não teria tido motivação política.
No entanto, uma semana antes do episódio com Priolli, Heródoto Barbeiro, que fazia a mediação do programa Roda Viva desde fevereiro de 2009, foi demitido do cargo após ter insistido sobre o tema das tarifas dos pedágios em uma entrevista com José Serra.
Investigação
O PT de São Paulo vai solicitar ao Ministério Público Eleitoral que faça uma investigação sobre uma possível motivação política no afastamento de Gabriel Priolli.
“Se a legislação eleitoral é rigorosa com os veículos de comunicação em geral e seu uso durante as eleições, deve ser ainda mais [rigorosa] quando se trata de um veículo público, que é abastecido com recursos do contribuinte”, disse Aloizio Mercadante.
Na entrevista a Heródo Barbeiro, Serra chegou a afirmar que os questionamentos do jornalista retratavam o “trololó” petista, em referência à insistência no tema pela campanha do PT ao governo paulista.
Um estudo realizado pelo Setorial Nacional de Transportes do PT aponta que as tarifas cobradas nos pedágios de São Paulo chegam a ser 10 vezes maior do que em relação à estradas sob concessão federal. Um exemplo é a comparação entre a tarifa cobrada na Rodovia Anchieta, que é uma rodovia paulista sob concessão privada, e a Rodovia Fernão Dias, que está sob concessão federal. O valor cobrado por quilômetro rodado na Anchieta é de R$ 0,159 centavos, enquanto na Fernão Dias é de R$ 0,0157.
Brasil de Fato