O bombardeio para reduzir as chances de Dilma Roussef, candidata do PT, do presidente Lula e de uma coalizão de partidos que vai da esquerda à centro-direita, começou cedo. A direita que apóia Serra dissemina não só a suposição de que Dilma não tem experiência política, mas também que é uma terrorista. Retoma, assim, os qualificativos que a ditadura militar utilizava contra todos os que se opunham a ela.
Naquela época, embora exilado no exterior, Serra também era tido como terrorista pelo regime que aplicou o mais perverso terrorismo de Estado da história brasileira. Nessas condições, não deixa de ser um sinal evidente que, ao passar para o outro lado, ele assimila os mesmos métodos de propaganda suja que a ditadura empregou contra seus opositores.
Mais recentemente, essa direita serrista voltou suas baterias para criar dissensões no PT, entre pretensos radicais, nos quais incluiu Marco Aurélio Garcia, Franklin Martins e Paulo Vanucci, e pretensos moderados, cujas principais expressões seriam Antonio Palloci e Luís Dulci. A revista Veja, por exemplo, tomando por base a proposta de programa do PT, que seria radical, retrógrado e autoritário, erroneamente apresentado ao Tribunal Eleitoral como o programa de coalizão da candidata, coloca em dúvida a capacidade de Dilma em controlar aqueles “radicais”, ao contrário do que Lula teria feito.
Assim, esse bombardeio preliminar fornece alguns elementos sobre as formas de luta que a direita vai utilizar na disputa eleitoral, em contraposição às balas de açúcar que alguns setores da burguesia estão oferecendo a Dilma, como as platéias de empresários, dispostos a ouvir suas propostas, e o almoço simpático e civilizado oferecido por D. Lily Marinho. Serra visa reunificar a burguesia e colocá-la sob seu comendo, explorando o medo ao PT. Nada diferente do que a direita fez em 1989, 1994, 1998, 2002 e 2006.
Embora essa tática esteja desgastada, não se pode subestimá-la. Se a candidata petista acreditar que as balas adocicadas podem salvá-la dos ataques ferozes da direita raivosa, pode estar incorrendo em ilusão. Em outras palavras, pode estar acreditando ser mais positivo não responder com firmeza à direita. Pode achar desnecessário colar o candidato Serra aos descaminhos do governo FHC. Pode considerar indispensável continuar tranqüilizando o sistema financeiro quanto a medidas de controle contra o capital especulativo. Ou ser induzida a ter suas atividades restritas à conquista do apoio dos setores de centro da burguesia.
Portanto, indiretamente, a candidata petista pode ser levada a dar pouca importância à necessidade de concentrar sua campanha no corpo a corpo com as grandes massas do povo. Isto é, o mesmo tipo de corpo a corpo que quase levou Lula à vitória em 1989 e o levou à vitória em 2002 e 2006. Corpo a corpo que a obrigará, inevitavelmente, a responder com mais firmeza a questões de interesse popular, como as políticas de juros, ampliação da redistribuição de renda, assentamento dos lavradores sem-terra, criação de empregos, moradia popular e democratização política, social e econômica.
Se a candidatura petista não fizer essa inflexão para o corpo a corpo com as camadas populares do eleitorado brasileiro, quase certamente não conseguirá romper o atual empate técnico e político com o candidato da direita e correrá até mesmo o risco de perder no primeiro turno. Além disso, a campanha de Dilma parece ter um problema de coordenação, relacionado tanto com a suposta contratação de arapongas para fabricar dossiês contra o candidato tucano quanto com o registro errado do programa de governo da candidata no Tribunal Eleitoral.
Ambos os incidentes apontam para falhas graves, que abriram flancos a ataques da direita e, provavelmente, podem ter levado confusão ao seio de seus apoiadores. O pior é que parece haver uma tendência de culpar o mordomo, ou a secretária, por erros dessa gravidade. O que pode ser o mesmo que não resolver os problemas políticos de fundo que possam haver causado tais falhas, o que pode ser fatal para sua campanha.
Por fim, parece haver na campanha Dilma uma certa presunção de que o apoio do presidente Lula pode superar qualquer dificuldade que apareça. Esta idéia também pode ser perniciosa para a candidatura petista. É evidente que o apoio de Lula é essencial para o seu crescimento. No entanto, embora necessário e fundamental, ele não é suficiente.
Se ela, a militância e os filiados do PT ficarem esperando os passos de Lula, ou da coordenação da campanha, e não tomarem a decisão de levarem a campanha para as ruas, como ocorreu em 1989, 2002 e 2006, certamente contribuirão para manter os índices de preferência da candidata petista abaixo do necessário para vencer.
Nessas condições, embora a tendência de crescimento da candidatura Dilma pareça favorável, é provável que ela esteja vivendo uma situação crítica que pode fazê-la desandar se os problemas listados acima não forem devidamente detectados e sanados a tempo. Em particular porque a direita não dará trégua diante de qualquer erro, engano ou vacilação.
A direita serrista está disposta a fazer terrorismo da pior espécie, ao mesmo tempo em que se aplica na tentativa de etiquetar a candidata Dilma, o PT e a esquerda de terrorista, radical, retrógrada e autoritária. Talvez tenha chegado o momento de responder com mais firmeza a essas questões.
Wladimir Pomar