A resposta foi fulminante: “Li também que o senhor é ladrão”. Daí veio o tapa, assistido por pelo menos 50 pessoas. Rodrigo foi imediatamente dominado pelos seguranças e colocado em uma viatura policial, por volta de 19h de ontem (21).
Levado para o Cepol (Centro Integrado de Polícia Especializada), onde teve que assinar declaração de que “cometeu injúria real contra o governador”, e só foi liberado as 2h da madrugada de hoje, pelo delegado do Cepol, Paulo Henrique Sá.
Nem o governador nem sua assessoria comentam o episódio da agressão.
O governador está fazendo campanha política protegido por um forte contingente policial porque não deixou o cargo. O vice-governador e o presidente da Assembleia Legislativas também são candidatos, não podem assumir o governo e o presidente do Tribunal de Justiça, diz não ter condições para tanto. Uma situação que livrou o governador de ser processado.
Houve pedido para processá-lo, mas os 24 deputados estaduais negaram. O motivo é o fantástico crescimento do poder aquisitivo de Puccinelli, verificado depois que foi eleito prefeito de Campo Grande.
Patrimônio milionário
Puccinelli causou espanto ao declarar, neste ano, um patrimônio de 5,37 milhões de reais. Comparado com a declaração que Puccinelli apresentou em 1997, quando foi candidato a prefeito de Campo Grande, o valor milionário representa um aumento de 468% na riqueza do político. Não consta que Puccinelli esteja à frente de atividades empresariais paralelas à atividade pública que justifiquem tanta evolução em seu patrimônio.
Respondendo a um processo desde 2007, o governador e a esposa dele, Elisabeth Maria Machado Puccinelli, que são casados em comunhão de bens, são acusados de enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e fraudes em licitação, segundo a Veja.
O candidato à presidência José Serra (PSDB) é apoiado por Puccinelli e pretendia fazer campanha com o governador nos próximos dias. Agora, terá que esperar a repercussão do episódio de ontem para avaliar se vale o desgaste de caminhar ao lado de um candidato que, além de ser suspeito de enriquecimento ilícito, também agride eleitores em praça pública.
Assassinato, fraudes, intimidação e grampos telefônicos
A disputa pelo governo do Mato Grosso do Sul guarda também outros lances dignos de frequentar boletins de ocorrência. O principal adversário de Puccinelli na disputa, o ex-governador Zeca do PT foi a Brasília nesta quarta-feira (21) conversar pessoalmente com o ministro da Justiça, Luiz Paulo Teles Pereira Barreto, e com o diretor da PF (Polícia Federal), Luiz Fernando Corrêa, sobre fatos e indícios que trazem preocupação quanto ao andamento das eleições no Estado. Segundo Zeca, foram encontrados grampos em telefones pessoais e dos comitês de sua campanha. Além disso, diz que vem sendo seguido constantemente, sofrendo ameaças e o carro do coordenador de sua campanha foi arrombado 4 vezes.
Na semana passada Zeca já se reuniu com o presidente da seccional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Leonardo Duarte, com o superintendente da Polícia Federal, José Martins Lara, e na tarde desta segunda-feira esteve com o secretário de Justiça e Segurança do Estado, Wantuir Jacini, para tratar do mesmo assunto.
“Cientifiquei o secretário sobre fatos e indícios que me preocupam. E disse que se alguma coisa acontecer de mal a mim, a alguém de minha família, ou às pessoas que trabalham comigo, vou responsabilizar a segurança pública por isso. Quero uma disputa limpa. Ganhar ou perder é do jogo, o que não vou aceitar é ser roubado como aconteceu em 1996. A democracia consiste no respeito à vontade do eleitor. Se o povo entender que deve continuar o atual governador, tudo bem, desde que seja um jogo limpo. Que vença o melhor”, disse.
Zeca afirmou que fez esse alerta ao secretário Jacini, fornecendo, inclusive, dados para ajudar nas apurações – se for essa a decisão – e vai cientificar também o ministro da Justiça e o diretor-geral da PF, porque ocorrendo qualquer incidente irregular na campanha, “não vou pensar duas vezes para requerer a presença da força nacional e garantir a ordem nas eleições”.
O secretário se mostrou “sensível aos fatos” e prometeu apurar, disse Zeca.
Zeca citou fatos e indícios para justificar a movimentação que faz visando mais segurança na eleição. “Todos se lembram do fato lamentável ocorrido em 1996, em um comício na Coophavila II, quando disputei a Prefeitura com o atual concorrente. Um rapaz foi morto neste comício, um crime até hoje não desvendado. Coincidentemente, no dia seguinte todos os carros do adversário estavam com tarjas e bandeiras pretas, numa tentativa velada de me responsabilizar por aquela morte”.
Outro fato citado por Zeca aconteceu há 4 anos, quando André Puccinelli foi eleito governador. Uma armação contra deputado estadual Semy Ferraz, do PT (que fazia oposição cerrada contra André), resultou na prisão de um assessor seu e pode ter contribuído para sua derrota. Nas vésperas da eleição, cédulas de R$ 20 grampeadas a santinhos do candidato foram colocadas dentro do carro de um assessor, em seguida a Polícia Federal foi avisada para ocorrer o flagrante.
Em janeiro do ano seguinte, ouvindo gravações feitas em outra operação policial, a PF descobriu diálogos trocados entre André, seu filho André Puccinelli Jr. e o então secretário de Obras da Prefeitura, Edson Giroto, revelando toda a trama da qual foram autores. “Estes fatos mostram como é o modus operandi do atual governador. Ele não vai aceitar perder democraticamente, vai tentar golpe sujo”, alertou Zeca.
Quanto aos indícios, Zeca citou os quatro arrombamentos consecutivos ao carro do coordenador da campanha, Ananias Costa, tendo sido subtraídas agendas e documentos do interior, e aos grampos descobertos em vários telefones de assessores e pessoas próximas ao candidato. Também foi notado um carro estranho com dois homens dentro, que seguem Zeca em todas as caminhadas, também ronda os comitês e até a casa do candidato.
“Se eu perceber a má vontade em apurar esses fatos e em garantir a lisura das eleições, não tenho dúvida: peço a força nacional para garantir o direito do cidadão de exercer com dignidade seu voto. Tenho asco de ditadura”, concluiu Zeca.