Tenta convencer o eleitorado de que Serra e Dilma são opções antagônicas. O seu pupilo é a melhor opção porque “traz consigo a marca de origem”. Diz, também, que dois modelos de sociedade estarão em jogo. Estas são as três únicas verdades do texto, o resto é um enredo já duas vezes rejeitado pelo povo. E “gol contra”, como se verá…
Acompanhemos, resumidamente, o arrazoado.
Sensato, FHC não briga com a realidade. Diz que há “uma sensação de dinheiro no bolso” fato que leva o eleitor a querer ficar mais “com o conhecido do que mudar para o incerto”.
Do alto de sua sapiência, indaga: “Mas o que realmente se conhece?”. E responde. “Que nos últimos 20 anos melhorou a vida das pessoas no Brasil, com a abertura da economia, com a estabilidade da moeda trazida pelo Plano Real, com o fim dos monopólios das estatais e com as políticas de distribuição de renda simbolizadas pelas bolsas. Foi nessa moldura que Lula pregou sua imagem…”
Lula, a quem FCH chama de “arengador de méritos”, teria se apossado da sua obra. Vá lá, quando muito, deu uma “melhorada”. Entre o certo e o duvidoso, o eleitor deve escolher Serra, pois “traz consigo a marca de origem”. Já Dilma, a herdeira de Lula, é o duvidoso, pois ao contrário de Lula poderá se afastar da “matriz originária”.
Primeiro.
A linha que descreve o período de 1990 a 2010 não é um traçado contínuo. Os anos 1990 foram os piores desde o fim da ditadura. Na década de 1980, também, houve estagnação econômica, mas o legado democrático foi rico. Os dois governos de FHC – da coligação PSDB-PFL, hoje, DEM –, têm como legado a paralisia da produção, a desnacionalização da economia, a privatização do patrimônio público. E mais: desemprego, arrocho salarial, corte de direitos sociais. Na esfera política, a democracia conquistada com muita luta, foi restringida. Os movimentos sociais voltaram a ser tratados como “caso de polícia”, tal e qual na República Velha. (De igual forma no governo Serra). A liberdade de imprensa foi sufocada pela “ditadura do pensamento único”, isto é, pelo, então, infalível neoliberalismo. A política externada subserviente nos amarrou à Alca, projeto neocolonial dos EUA. No final de 2002, o país estava quebrado, confiança internacional a zero, de pires na mão, implorando empréstimos ao FMI.
Portanto, a vida do povo melhorou não nos “últimos 20 anos”, como quer – aí sim, a arenga de FHC. A melhora começa em 2003. O governo Lula, levantou o país do chão. Livrou-nos da herança maldita. Nasce um novo ciclo de desenvolvimento no qual se associa crescimento econômico a distribuição de renda. Eis a gênese “da sensação de dinheiro no bolso”. Lula não se apossou da obra de FHC, nos livrou no que pôde e no que quis dela. Se, portanto, há algum usurpador nesta história, e há; se algum mentiroso, e há, não é Lula. É FHC.
Segundo.
Voltemos às três únicas verdades do panfleto. Ao contrário do quadro que pintam os brasilianistas, de fato, como advoga o autor, as candidaturas são discrepantes.
Serra – faça teatro ou não – é a genuína expressão da década perdida do neoliberalismo. Por isto, foi ungido. Tem a marca registrada, como diz FHC. Mas, na arte da dissimulação, o aluno superou o mestre. Em recente declaração pública, o ex-governador de São Paulo proclamou: “Não sou candidato da oposição. Sou um candidato do pode mais e do dá para fazer”.
Vamos à terceira e derradeira verdade.
“Não nos iludamos, o voto decidirá entre dois modelos de sociedade”.
Um modelo vigorou nos anos 1990, quando FHC foi presidente e Serra seu fiel ministro. Na política, autoritarismo que derivou em divisão da sociedade e asfixia da liberdade. Na economia, crescimento nanico e concentração de renda que geraram decadência nacional, desemprego e miséria. Na política externa, alinhamento subserviente aos Estados Unidos da América e à Europa. Os ataques de Serra ao Mercosul, a difamação sistemática que faz contra o MST e ao movimento sindical, o combate que empreende ao papel do Estado como impulsionador do desenvolvimento demonstram, verdadeiramente, que ele “ traz consigo a marca de origem”.
FHC faz gol contra. Ajuda a desnudar o embuste que Serra espalha de que pegará o bastão das mãos de Lula e o levará adiante. (“A gente tem de pegar o bastão de onde está e dá para melhorar…”). Não é o “continuador”. Se eleito, seria demolidor do legado de Lula, retomando o receituário neoliberal – claro, recauchutado, claro, renovado –, mas no cerne neoliberal.
O outro modelo de sociedade começou a florescer em 2003. É o legado dos dois governos de Lula. A democracia se expande e rege a vida política e social. O Brasil, hoje, é um país respeitado no mundo. Sua política externa afirmativa fortaleceu a soberania nacional e diversificou as relações comerciais e políticas da Nação. A integração solidária da América do Sul é parte de nosso projeto nacional e benéfica aos nossos vizinhos. Não se concebe crescimento econômico sem distribuição de renda. Resultado: mais empregos, melhores salários. Grande mobilidade social. Fortes programas sociais para retirar milhões de brasileiros que viviam e ainda vivem na miséria. Aumento da produção. Valorização do trabalho, aumento real do salário-mínimo, emprego com carteira assinada.
Dilma Rousseff, pela sua história de vida, pela competência demonstrada enquanto figura central do governo Lula, tem plenas condições para levar a obra de Lula a um patamar ainda mais promissor.
Portanto, é útil o conselho do ex-presidente: “melhor que cada um trate de aprofundar as razões e consequências de seu voto…”.