Em meio ao iminente risco de isolamento, a hipótese mais provável é queo prefeito migre para o PMDB e integre a ala do partido que apoiaDilma. Neste caso, surge o problema da perda de mandato — o queexigiria negociação para a liberação dos eleitos em 2010 pelo DEM.
Entusiastas da aproximação PMDB-Kassab sustentam que a iniciativa ébenéfica para ambas as partes. Dono do maior estoque de votos do DEM,Kassab daria ao PMDB um dos poucos atributos que lhe faltam: densidadeeleitoral no principal estado do país. Já o PMDB representaria paraKassab uma alternativa tanto à decadência do DEM quanto à perspectivade entronização de Alckmin no PSDB paulista.
Outro fator que deve estimular a mudança de Kassab é a iminenterefiliação de Luiz Carlos Santos, hoje no DEM, ao PMDB. Essaforça-tarefa é liderada pelo presidente nacional da legenda e candidatoa vice na chapa de Dilma, Michel Temer. Se Luiz Carlos se filiar, émais do que provável que Kassab comece também a pensar – com maisseriedade – em seguir o mesmo caminho.
O retorno do parlamentar ao PMDB passa pela poderosa a articulação paraaprovar na Câmara a emenda Luiz Carlos Santos (nº157/2003), que convocaAssembleia de Revisão Constitucional. À frente dessa movimentação estáo próprio autor da proposta, que foi ministro da Articulação Políticado governo FHC e ex-deputado federal.
Há duas semanas, Luiz Carlos jantou, em São Paulo, com um poderosopeemedebista — que garantiu total empenho de Temer para aprovar aproposta de emenda. Uma vez concretizada a aprovação, Temer consegue oapoio do ex-ministro para engordar sua ala no PMDB do estado contra ogrupo de Orestes Quércia. O próprio Luiz Carlos afirma voltaria aopartido, onde esteve até 1996.
Novo partido?
Uma segunda possibilidade para Kassab está na criação de um partidopara atrair dissidentes de DEM, PSDB, PPS e PTB — que apoiam aesfacelada candidatura presidencial de Serra, tutor de Kassab. Numanova legenda, Kassab traria consigo uma bancada de dez deputadosfederais e dez estaduais que espera eleger neste ano pelo DEM em SãoPaulo, poderia agregar também lideranças descontentes de partidos daoposição federal e ainda evitaria a perda de mandato dos candidatospara o DEM.
Existe ainda a alternativa de fusão do DEM com PR, partido originado doextinto PL, do qual Kassab foi filiado. O PR, contudo, daria poucoespaço para Kassab exercer a liderança que tem em São Paulo no DEM.
Na cúpula do DEM, a leitura é que Kassab deve deixar qualquer decisãopolítica para depois das eleições. O partido prepara-se para “sair daposição de parceiro secundário do PSDB”, como afirma um dirigente dopartido. A possibilidade de associar-se a outro partido, criando umanova legenda, é uma das hipóteses cogitadas.
O futuro político de Kassab é incerto. O prefeito foi reeleito no cargoem 2008 e não poderá concorrer novamente ao cargo em 2012. Com odesgaste do grupo de Serra no PSDB, Kassab não deverá ter apoio dostucanos para concorrer ao governo ou ao Senado em 2014. O maisprovável, segundo correligionários, é que ele dispute uma vaga comodeputado federal.
A relação entre Kassab e Alckmin desgastou-se na disputa municipal de2008. Serra apoiou Kassab e o diretório do PSDB de São Paulo sedividiu. No programa eleitoral, Alckmin chegou a chamar o adversário dedissimulado e foi derrotado no primeiro turno. Kassab é um político debastidores. Eleito em 2004 como vice de Serra na Prefeitura de SãoPaulo, assumiu o governo um ano e três meses depois, quando o tucanorenunciou para disputar o governo paulista.
Sua reeleição teve Serra como principal fiador. Kassab iniciou o novomandato com 59% de aprovação. No início do ano, enfrentou problemas deenchentes, trânsito e até pedido de cassação de mandato, acusado dereceber doações ilegais de campanha. Em março, a administração recebeua pior avaliação – 34% dos entrevistados consideraram como ruim oupéssima. Em julho, a avaliação positiva chegou a 42% e a negativa caiupara 26%.
DEM desnutrido
As especulações em torno de Kassab revelam, de quebra, a fragilidade aque o DEM ficará exposto depois das eleições. Caso Serra perca mesmo aeleição de 3 de outubro, Rodrigo Maia estará ainda mais forte paracontinuar na presidência do DEM — mas um DEM muito desnutrido. Mesmodemocratas mais próximos de Maia estão de malas prontas para mudar delegenda.
Roberto Brant, ministro da Previdência Social do governo FernandoHenrique Cardoso, na cota do PFL-DEM, acredita que o DEM vai cair navelha regra do “ou vai, ou racha”. “Não vamos nos fundir com o PSDB,porque ficaríamos absolutamente apagados. Só restam duas opções para oDEM: ou se torna um partido forte de oposição, para atuar com a firmezaque o PSDB não tem, ou se junta ao governo”, afirma.
Segundo Brant, qualquer hipótese não reverterá o enfraquecimento dos“demos”, e uma transição a um governo Dilma converteria o DEM “numaespécie de PTB ou PR”. Mas a debandada, diz ele, é inevitável: “Nãoduvido nada que metade dos deputados, se convidados, vá para a basegovernista.”