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Marcos Coimbra: Estimativas para 3 de outubro

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Do jeito como vão, as eleições presidenciais nãodevem nos reservar surpresas na reta final. Ao contrário. Salvo algoinusitado, elas logo adquirirão sua feições definitivas, talvez antesque cheguemos ao cabo da primeira quinzena de veiculação da propagandaeleitoral na tevê e no rádio.
Por várias vezes, a provável vitória de DilmaRousseff em 3 de outubro será saudada como um resultado extraordinário.Ao que tudo indica, ela alcançará uma coisa que Lula não conseguiu nemquando disputou sua reeleição: vencer no primeiro turno. Não que levara melhor dessa maneira seja fundamental, pois o próprio Lula mostrouser possível ganhar apenas no segundo e se tornar o presidente maisquerido de nossa história.
É preciso lembrar que Lula não aobteve em 2006 por pouco, apesar de sua imagem ainda sangrar com asferidas abertas pelo mensalão. Ele havia chegado aos últimos diasdaquele setembro com vantagem suficiente para resolver tudo ali mesmo esó a perdeu quando sofreu um ataque sem precedentes de nossa “grandeimprensa”.
Aproveitando-se do episódio dos “aloprados”, fazendoum carnaval de sua ausência no debate na Globo, ela balançou umeleitorado ainda traumatizado pelas denúncias de 2005. Lula deixou devencer em primeiro de outubro, o que, no fim das contas, terminou sendoótimo para ele. No segundo turno, a vasta maioria da população concluiuo processo de sua absolvição, abrindo caminho para o que vimos de 2007em diante: ele nunca mais caiu na aprovação popular e passou a bater umrecorde de popularidade atrás de outro.
Com as pesquisas de agora, é difícil estimar comprecisão quando Dilma Rousseff poderá ter no voto válido. Não éimpossível que alcance os 60% que Lula fez, no segundo turno, na últimaeleição. E ninguém estranharia se ela ultrapassasse os 54% que FernandoHenrique obteve em 1994, com o Plano Real e tudo.
Para fazer essas contas, é preciso levar emconsideração diversos fatores. Um é quanto Marina Silva poderáalcançar, a partir dos cerca de 8% que tem hoje. Há quem imagine queela ainda cresça, apesar do mísero tempo de televisão de que disporá.Com uma única inserção em horário nobre por semana e um tempo deprograma praticamente idêntico ao dos candidatos pequenos, não é umaperspectiva fácil.
O segundo fator é o desempenho dos candidatos dospartidos menores, dos quais o mais relevante é Plínio de ArrudaSampaio. Muito mais que seus congêneres de extrema esquerda, ele podese transformar em opção para a parcela de eleitores que vota de formamais ideológica ou que apenas quer expressar seu “protesto”. Embora aspesquisas a respeito desse tipo de eleitor não sejam conclusivas, issopode, talvez, ocorrer em detrimento de Marina: à medida que Plíniosubir, ela encolherá. O que não afetaria, portanto, o tamanho doeleitorado que não votará em Dilma ou Serra.
Para, então, projetar o tamanho da possível vitóriade Dilma, o relevante é saber o piso de Serra. Se ele cairá,considerando seu patamar atual, próximo a 30%.
Só o mais otimista de seus partidários acredita (deverdade) que a presença de Lula na televisão será inútil para Dilma eque seu apelo direto ao eleitor não produzirá qualquer efeito. Ou seja,ninguém acredita que ela tenha já atingido seu teto, com os 45% que temhoje.
O voto em Serra tem, no entanto, três fundamentos,todos, aparentemente, sólidos: 1- É um político respeitado no maiorestado da federação, que governou, até outro dia, com larga aprovação.2. Representa o eleitorado antipetista, aquele que pode até tolerarLula, mas que nunca votou e nunca votará no PT. 3. Tem uma imagemnacional positiva, conquistada ao longo da vida e, especialmente,quando foi ministro da Saúde. De São Paulo deve sair com 45% dos votos,o que equivale a 10% do País. O antipetismo lhe dá mais cerca de 10% ea admiração por sua biografia no restante do eleitorado, outro tanto(tudo em números redondos).
Se essas contas estiverem corretas, Serra teriapouco a perder nas próximas semanas. Em outras palavras, já estaria,agora, perto de seu mínimo.
Fica simples calcular o resultado que, hoje, parecemais provável para 3 de outubro: Serra, 30%; Marinas e os pequenos,10%; brancos e nulos, entre 8% e 10% (considerando o que foram em 2006e 2002, depois da universalização da urna eletrônica); Dilma, entre 50%e um pouco menos que 55%. Nos válidos: Marina (e os pequenos) 11%,Serra 33%, Dilma 56%.
Talvez seja arriscado fazer essas especulações. Talvez não, considerando quão previsível está sendo esta eleição.
CartaCapital, edição impressa