O confronto engessado
Publicado em 06 Ago, 2010 às 14h32
Foi um debate, mas não houve debates; o que deveria ser um confronto terminou como um conjunto de exibições individuais nem sempre animadas; o anunciado plebiscito foi adiado. Culpa do engessamento imposto pela legislação, pelos partidos e, sobretudo, pela emissora que o transmitiu.
O primeiro dos cinco rounds entre os presidenciáveis não poderia dar certo. Depois das dez da noite, num dia de semana, ninguém agüenta duas horas e quinze minutos de falação rigorosamente controlada.
Segundo o Ibope, a audiência da Bandeirantes foi ainda menor do que a habitual – caiu de 6 para 3 pontos. A campeã de audiência foi a Globo, com 31 pontos, exibindo a semifinal da Taça Libertadores.
O portal UOL fez uma enquete entre os usuários para saber quem se saiu melhor no debate, porém a 1 da madrugada a enquete sumiu misteriosamente sem qualquer explicação. Na primeira página dos jornalões de quinta-feira (5/8), o aviso sobre o debate foi minúsculo. Até parecia boicote.
Hibernação geral
Estas eleições vão decidir o destino do país nos próximos oito anos, mas o espetáculo da noite de quinta-feira resultou morno apesar do intenso frio da madrugada em grande parte do território nacional.
A verdade é que o país está sem elã, desmotivado: perdeu a Copa e pouco se importou; está perdendo a corrida contra o tempo na preparação do próximo Mundial, joga a culpa no governo, cartolas e segue em frente.
Os únicos animados, os únicos que estão gostando deste tipo de festa, parecem ser o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, estrela da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), e o seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, cuja imensa popularidade desestimula qualquer contestação.
Os jornais preparavam-se para um haraquiri diante dos avanços das internet e de repente descobriram que apesar da crise econômica global a circulação ficou praticamente estável (O Globo, 5/8, pág. 29, ver aqui). Aqui pode estar a explicação para esta hibernação generalizada: quando a imprensa não repara e não se importa, tudo perde a importância. Em momentos assim, os sustos são maiores.
Alberto Dines