De acordo com dados divulgados em novembro de 2009 pelo CensoAgropecuário 2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE), houve naquele ano pelo menos 25.008 casos de intoxicação deagricultores. Os dados também indicam que herbicidas, fungicidas einseticidas foram usados em mais de um milhão de fazendas.
O pesquisador da Fiocruz, médico e professor da Universidade Federal doMato Grosso (UFMT), Wanderlei Antonio Pignati, responsabiliza oagronegócio por essa expansão desenfreada. Para ele “é preciso discutiro modelo de produção agrícola que está aí. É um modelo insustentável”.As transnacionais da agricultura vêm concentrando a terra e utilizandouma grande quantidade de agrotóxicos para garantir a produção em escalaindustrial. Também prometiam diminuir a utilização com os transgênicos,mas a aprovação de diversas variedades só aumenta o uso dessassubstâncias químicas.
Pignati explica que “as sementes das grandes indústrias são dependentesde agrotóxicos e fertilizantes químicos. As indústrias não fazemsementes livres desses produtos, porque são produtores tanto dassementes como dos agrotóxicos. Criam sementes dependentes deagrotóxicos”. Ele realizou estudos sobre os impactos dos agrotóxicos noMato Grosso, demonstrando que nas regiões com maior utilização deagrotóxicos é maior a incidência de problemas de saúde agudos ecrônicos.
Os trabalhadores das fazendas que aplicam os agrotóxicos, seusfamiliares que vivem nas áreas pulverizadas, a população das cidadesvizinhas e os consumidores de alimentos são os principais prejudicadospela utilização excessiva de venenos.
Determinados agrotóxicos causam distúrbios neurológicos, respiratórios,cardíacos, pulmonares e no sistema endócrino, ou seja, na produção dehormônios, principalmente nas pessoas que trabalham diretamente naaplicação dessas substâncias.
Além disso, causam um desequilíbrio no ecossistema, com a contaminaçãodos poços artesianos de água potável, dos córregos, rios e lagoas, daágua de chuva e do ar, além da própria produção que serácomercializada.
O Brasil também é o principal destino de agrotóxicos banidos noexterior. Pelo menos dez produtos proibidos na União Européia (UE) eEstados Unidos são liberados nas lavouras brasileiras, de acordo com aAgência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os agrotóxicosocupam o quarto lugar no ranking de intoxicações. Ficam atrás apenasdos medicamentos, acidentes com animais peçonhentos e produtos delimpeza. Houve registro de 6.260 casos provocados por agrotóxicos em2007.
Laboratórios demonstram o risco de algumas substâncias provocarem problemas agudos e crônicos (veja abaixo).
Alimentos com resíduos tóxicos
Uma análise da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária),realizada desde 2001, chamada Programa de Análise de Resíduos deAgrotóxicos em Alimentos (Para), acompanha os níveis de resíduos deagrotóxicos nos alimentos consumidos pela população acima do permitidopor lei. Os dados impressionam: no pimentão, foram encontrados até64,36% de resíduos de substâncias tóxicas acima do permitido; 36,05% nomorango; 32,67% na uva; 30,39% na cenoura; 19,8% no alface; e 17,31% nomamão.
Para o professor Wanderlei Antonio Pignati “a tendência é aumentar autilização de agrotóxicos. Por isso, é preciso uma política maiscontundente do governo, dos movimentos de agroecologia e da sociedade,que cada vez mais consome agrotóxicos”.
Nesse quadro, o MST pretende fazer uma campanha nacional para denunciaros efeitos nocivos dos agrotóxicos, ao lado de cientistas,pesquisadores, organizações ambientalistas, movimentos populares,centrais sindicais e entidades ligadas à educação.
O modo de produção do agronegócio, além de aumentar a concentração deterra e expulsar famílias do campo, sustenta a sua produção nautilização de agrotóxicos em escala industrial. Precisamos de um novomodelo de produção agrícola, baseado em pequenas propriedades,organizadas em agroindústrias gerenciadas por cooperativas detrabalhadores rurais, para garantir a produção de alimentos saudáveis ede qualidade para a população brasileira.
Doenças causadas por agrotóxicos
Saiba algumas das doenças agudas e crônicas causadas pelos venenos nostrabalhadores, suas famílias, populações que moram perto das fazendas econsumidores em geral:
Má formação fetal
Dor de cabeça
Diarréia
Vômitos
Desmaios
Náuseas
Problemas de rim
Doenças de pele
Irritação ocular e auditiva
Depressão
Lesão neurológica
Neurite da coluna neurológica cervical
Câncer
Problemas hormonais, neurológicos e reprodutivos
Igor Felipe Santos