O fator PT
Nascido da mobilização de movimentos sociais com diversas visões políticas do mundo, o PT, com suas contradições e conflitos internos, estabilizou-se politicamente com uma folgada maioria moderada. Na última disputa para a direção do partido, dois candidatos moderados de esquerda arrastaram 65% dos votos. As chapas mais à esquerda, somadas, levaram 23,9% dos votos. Mais de 500 mil filiados participaram da eleição.
Certamente, haverá, e haverá sempre, os que acham possível ganhar a eleição para fazer a revolução. Eles animam o debate. Salgam a Terra, de certa forma. Esses anseios de radicalização são travados, no entanto, exatamente pelo enraizamento do PT na sociedade.
À margem dos números sobre a corrida presidencial, a pesquisa Ibope, divulgada dia 6, apresenta informações preciosas sobre o quadro partidário brasileiro: o PT aparece disparado, com 26%, na preferência partidária dos eleitores, seguido longinquamente pelo PSDB e pelo PMDB, ambos com 6% cada. Talvez pela filiação e pela candidatura de Marina, o Partido Verde parece ter germinado. Pela primeira vez obteve 2% das preferências. Outros 26 partidos com registro no TSE alcançaram 1% ou menos.
Isso derruba o argumento da inflação de partidos no País. Não passam de três ou quatro os que conseguem expressão nacional. Partidos para valer.
Essa forte preferência pelo PT pode ter sido o agente provocador de um impacto positivo no comportamento político da sociedade: 47% da população manifesta preferência partidária, ante uma apertada maioria de 49% que afirmam não ter simpatia por partido nenhum.
O argumento de que essa força petista refletida na pesquisa está inflada pelo sucesso do governo Lula não desqualifica o resultado. De fato, durante os dois governos de Lula, a filiação ao PT aumentou em 45%. Isso, por outro lado, mostra a solidez dos números que apontam para a consistência da votação de Dilma na eleição presidencial.
O PT não só não acabou, como “essa raça” parece que terá vida longa para desgosto de políticos como o ex-senador Jorge Bornhausen, autor da expressão preconceituosa. Isso porque 62% dos eleitores que demonstram preferência pelo partido estão na faixa dos 16 aos 29 anos.
Diversos itens da pesquisa apontam uma distribuição homogênea nos percentuais de simpatizantes do PT, como, por exemplo, na categoria sexo, com 27% de homens e 25% de mulheres. O mesmo ocorre com a distribuição do simpatizante pela condição do município: 32% estão na capital, 26% na periferia e 23% no interior.
A preferência pelo PT demonstrada por essa parte da população pode ter variadas motivações. Mas talvez seja, também, reação à noção elitista que sempre governou para 20 milhões de pessoas este país, que hoje alcança 190 milhões de habitantes.
Maurício Dias, CartaCapital edição impressa