Vem por aí a cantilena da “ameaça
Discurso velho, mas que ainda ilude alguns incautos |
No entanto, bastou Lula, em campanha pela eleição de Dilma, elevar umpouco o tom contra os adversários, e o caldo parece ter entornado, coma oposição sacudida por um histerismo desmesurado. O fato ocorreu naúltima sexta-feira, 27, num comício em Pernambuco. Atacadospoliticamente pelo Presidente, o Deputado-Federal Raul Jugmann (PPS),candidato ao Senado na chapa do tucano-peemedebista Jarbas Vasconcelos,protagonizou uma cena que mescla ridículo, destempero e oportunismo. Oparlamentar afirmou que cogita pedir “garantia de vida à PolíciaFederal”. “Vou declarar-me o primeiro perseguido político da era dochavismo lulista”, berrou. Para ele, Lula quer “esmagar” a oposição,num coro alimentado por Vasconcelos, para quem o presidente “seconsidera acima de tudo, da Constituição, da Justiça, do Tribunal deContas, do Congresso. É um semideus. Então, acha que pode tudo”.
Conversa de sempre
A reação – entre lamuriosa e indignada – dos oposicionistaspernambucanos às críticas do presidente seria apenas ridícula não fossea manifestação esperada de uma direita que, historicamente, se comportaassim: diante de suas derrotas frente a uma esquerda fortalecida, comenorme respaldo popular e, por isso, amplamente vitoriosa, começa acacarejar – com o histrionismo de sempre – sobre uma suposta ameaça àordem democrática.
A direita sempre se comporta assim, e não só no Brasil. Anos atrás, naVenezuela, a oposição decidiu não participar das eleições ao parlamentoque, assim, terminou ocupado majoritariamente por chavistas. Daí passoua gritar contra as “ameaças à democracia” decorrentes de um congressocom maioria situacionista. O sucesso popular de governos de esquerda –a Bolívia e o Equador são outros casos – é apresentado pelas direitaslocais como “esmagamento da oposição” e, portanto, “ameaças àdemocracia”.
Preparemo-nos, portanto, para o incremento desse jogo oportunista noBrasil já no contexto dessas eleições. Envelhecida, sem propostas elideranças carismáticas, deslocada do que o Brasil vive atualmente edos anseios populares, a direita recorre aos velhos cantochões que, aosmais antigos, já não assusta, embora entedie. Ora é o discurso do medo,ora o da competência, ora esse berreiro sobre liberdade política, tudoisso tratado com a teatralidade necessária para criar, no eleitorado,um estado de espírito que a favoreça. Bem, não havendo propostas – oumelhor, não podendo a direita confessar seus desígnios, porque avessosaos interesses populares – só restam tais expedientes de baixo calão.
Democracia, para essa gente, é estar à vontade para exercer seu domínioautoritário e elitista em favor dos mais ricos, serviçal de interessesexternos, considerando políticas sociais meras esmolas e o povo,afinal, um mal necessário. Tudo o que perturbe essa ordem deexploração, é apresentado como “ameaça à democracia”. Discurso velho,mas que ainda ilude alguns incautos.