Nem mesmo a nota oficial da Receita e da servidora acusada, de que aprópria Verônica havia requerido cópias de sua declaração foramaceitas. “É mentira, armação”. Aliás, nada mais será verdade paraSerra, se o que se disser vier a ser usado
Foi além. Lembrou um dos mais tristes episódios eleitorais da NovaRepública, quando o então candidato Fernando Collor revirou a famíliado seu adversário Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, e revelou aexistência de uma filha do metalúrgico fora do casamento. Explorado àexaustão pela imprensa oportunista de sempre, o caso foi um golpemortal na candidatura de Lula, que acabou nocauteado no segundo turno.
Serra agora afirma que o PT usa táticas que aprendeu com um de seusadversários mais ferozes e já adianta que “se não tivesse a expectativade vencer, eu ficaria horrorizado com o que poderia acontecer com oBrasil.”
A tática agora parece ser a de instalar novamente o clima de medo, o deser o protetor do país contra os malfeitores da nação. Nomes e”entidades” como José Dirceu, Palocci, bem “aloprados”, “mensalão” eoutros já voltaram a recheiar suas respostas aos entrevistadores,atirando em vala comum escândalos e acusados – independentemente daconclusão de inquéritos e julgamentos.
Aliás, aparentemente a grande mídia mantém seu papel de patrocinadorado combate que está sendo preparado pelo PSDB. Em ambos os telejornais,Serra voltou a pregar a existência de “blogues sujos” patrocianadospelo PT, sem ser lembrado de que é preciso apontar os acusados, que édele a responsabilidade de provar suas acusações – não o contrário.
O candidato passou parte da noite do dia 31 dando entrevistas a grandesportais e jornais sobre a história envolvendo a vida fiscal da filhaVerônica. Nelas, abusou de termos como “delinquentes”, “criminosos” eoutros, fartamente repetidos pelos seus gladiadores para espalhar aideia de que um governo Dilma estará irremediavelmente colocando o paísa mercê de bandidos.
E mais ainda: a filha de Serra estampa os dois principais jornais dacapital paulista, Folha e Estadão. O conteúdo das matérias, porém, équase uma confissão de que ambos forçaram a mão para causar impacto: osdados da moça foram apenas “acessados”, a pedido da própria, queinclusive pagou a taxa exigida pela Receita para executar o serviço.Portanto, a história não deveria ser notícia e foi transformada emverdadeira arena para o embate.
Conhecendo a truculência com que Serra e o PSDB trata seus desafetos -professores e policiais mau pagos, por exemplo – é possível prever quehaverá “sangue”. E que a apresentação de propostas, o debate de ideias,a comparação entre biografias e até mesmo a exposição de pontos francosde um e de outro candidato, dará lugar ao equivalente a socos, chutes ebordoadas, num verdadeiro – e lamentável – vale-tudo.
Hora da virada? Sem dúvida. O horário político da TV e do rádio devevirar, de agora em diante, um novo programa de baixaria e ataques detodo tipo. Que soe o gongo.