Mas seu êxito fugaz teve um resultado inusitado que já dava umaindicação da reação do eleitorado contra denúncias tão estapafúrdias.No segundo turno, Lula aumentou a votação dos 46,6 milhões do primeiroturno para 58,3 milhões: um aumento de 25%. E o tucano Geraldo Alckminamargou uma queda inédita, perdendo eleitores que o haviam escolhido navotação anterior: passou dos 39,9 milhões para 37,5 milhões, um recuode 7%.
Aquele episódio comporta uma lição que o elitismo e o conservadorismodos tucanos não registrou. A quinta eleição presidencial consecutivadesde a redemocratização revelou que algo havia mudado. Foram pleitosem que o eleitor fez sua longa experiência política pedagógica. ElegeuFernando Collor de Mello em 1989, e pouco depois saiu às ruas paraafastá-lo de um cargo mal exercido. Em 1994, elegeu Fernando HenriqueCardoso, que foi saudado nas ruas – quando candidato – por eleitoresque acenavam para ele com notas de um real. FHC atribuiu erradamenteaquele gesto à “modernidade” neoliberal que anunciava. Não era. Aquelasnotas eram flâmulas do desejo de mudança que o povo queria e esperavade um novo governo que, contrastando com o passado recente, tinha afama de “honesto”. Aquela onda seguiu até a reeleição tucana, em 1998,mas esvaiu-se e se transformou em frustração logo depois da aberturadas urnas, quando o presidente reeleito passou recibo de sua traiçãonacional e impôs um ajuste neoliberal ainda mais radical, que quebrou opaís, generalizou o desemprego e empobreceu os trabalhadores.
A eleição de Lula em 2002 representou a correção do rumo errático eperverso representado pelos tucanos. Significou a abertura de uma novaetapa na história republicana e também de um novo avanço na compreensãopolítica manifestada pelo povo.
Os tucanos ainda alimentavam a ilusão de que um mandato para Lula seriasuficiente, e eles voltariam em seguida. Mas as mudanças iniciadas em2003 representaram, para o conservadorismo neoliberal, a abertura daladeira rumo ao abismo. Toda a campanha contra o Lula e seu governo,que marcou os anos de 2005 e 2006, e que não refluiu ao longo dosegundo mandato, tentou ter o sentido de uma reação conservadora contraos novos rumos, democráticos e nacionalistas, que o país passou atrilhar. O tripé da propaganda da direita foi a crença na eficácia dasdenúncias, na credulidade do eleitor e no impacto de suas denúncias.
Foi um engano cuja profundidade é revelada pelas pesquisas. Em 2010 háuma “onda Dilma” e uma “onda vermelha” que poderão resolver a sucessãode Lula já no primeiro turno e, além disso, renovar em profundidade oCongresso Nacional, levando a ele uma maioria de deputados federais esenadores comprometidos com o programa de mudanças que vem sendoaplicado desde 2003.
Os tucanos cometeram o erro fatal de acreditar que o eleitorado,passadas todas aquelas experiências, não mudou. Ele mudou, como apontaClésio Andrade, presidente Confederação Nacional dos Transportes (CNT).O eleitor não aceita mais denúncias inconsistentes. “A sociedadebrasileira evoluiu muito e as pessoas hoje têm muita cautela com asdenúncias”, diz ele. Por isso, acusações inconsistentes aumentam arejeição dos candidatos que usam esse tipo de recurso enganador em suascampanhas.
O retrato da nova situação pode ser visto no desempenho de Serra eDilma. Enquanto Serra amarga uma rejeição de 41%, Dilma está no patamarnormal de 29%, um resultado que decorre da forma como ambos oscandidatos conduzem suas campanhas, sugere Clésio Andrade.Os ataquesfeitos pelo candidato da oposição, José Serra, sem dúvida aumentam suarejeição “por não serem considerados consistentes e verdadeiros” peloseleitores, disse.
A eleição deste ano vai confirmar e aprofundar o rumo das mudanças quevenceu em 2002 e foi reafirmado em 2006. Na mídia, o presidente Lula jáfoi apelidado de “presidente teflon” em quem nada colava, referindo-seàs campanhas caluniosas dos últimos oito anos. Com a eleição atual amídia terá que se confrontar com o “eleitor teflon”, refratário àsmentiras dos candidatos da direita.