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Máscaras que caem

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A imprensa brasileira, ou pelo menos aquela formada pelos títulos que se apresentam como de influência nacional, acaba de inaugurar uma nova relação com a política: o jornal O Estado de S.Paulo anuncia, em seu editorial principal do domingo (26/9), que tem, sim, oficialmente, uma preferência na disputa pela Presidência da República. O candidato oficial do Estadão é o ex-governador José Serra.
O leitor agora espera que o Globo, a Folha de S.Paulo e a revista Veja também façam suas declarações de preferência, como de resto já havia feito há muito tempo a revista Carta Capital, que apóia a candidata Dilma Rousseff.
Declarado sem mais disfarces seu engajamento, resta explicitar em que essa nova postura do Estadão pode contribuir para a oferta de um jornalismo mais confiável. Ou o jornalão paulista não considera isso necessário?
É de se perguntar, por exemplo, se o Estadão pretende buscar mais equilíbrio na cobertura dos últimos dias da campanha eleitoral, ou se vai, agora com justificativa pública, continuar favorecendo seu candidato.


Informação e campanha

Uma das maneiras de concretizar esse favorecimento pode ser observada nas edições de domingo e de segunda-feira (27), no seguinte exemplo: as notícias negativas sobre o governo federal e seus aliados, mesmo aquelas de cunho administrativo, são publicadas na seção de política, junto com o noticiário da campanha eleitoral.
As notícias negativas sobre o governo paulista e a prefeitura da capital, como as que envolvem denúncias de irregularidades na polícia ou obras contratadas sem licitação, são publicadas bem longe do noticiário de campanha, no caderno “Metrópole”.
Outra dúvida razoável: agora que é oficialmente apoiador de um dos candidatos, o jornal vai admitir que produz reportagens combinadas com os assessores de campanha?
Essas questões deveriam acompanhar a vigorosa declaração de apoio ao candidato. Não basta o jornal declarar que fez a escolha “pelos méritos do candidato, por seu currículo” ou por ele representar o antídoto contra aquilo que parte da imprensa considera “o mal maior a ser evitado”. Também precisa esclarecer o leitor que restrições esse engajamento, antigo mas somente agora assumido, deverá produzir no noticiário.
Os leitores que tinham dúvidas sobre a independência do noticiário agora vão precisar de notas de rodapé que esclareçam o que é informação e o que é peça de campanha eleitoral.

Luciano Martins Costa