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Matéria da Veja desmorona: seis notas oficiais resgatam a verdade

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Mais uma nota desmentindo cabalmente a matéria caluniosa da revista Veja sobre o suposto tráfico de influência na Casa Civil foi emitida na tarde de hoje, segunda-feira (13), desta vez pelos Correios. Com essa, já somam seis as notas oficiais que resgatam a verdade dos fatos e desmonta, uma a uma, as ilações levantadas pela revista da editora Abril.
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) afirmou emnota oficial que suas ações estão de acordo com a legislação vigente eque os contratos em vigor com a empresa de transporte aéreo de cargaMTA (Master Top Airlines Ltda). “resultam de processos licitatóriosregulares e transparentes que estão disponíveis para consulta na páginados Correios na internet”.

A empresa afirma ainda que os Correios têm contratos com mais seisempresas para o transporte aéreo de carga e que “todos passaram pelosmesmos crivos das leis 8.666/93 e 10.520/02”.

“A ECT reafirma sua determinação de manter a excelência dos serviçosprestados, a transparência da sua gestão, o profissionalismo de suadiretoria e dos seus mais de 109 mil empregados, e que, a despeito detentativas de desqualificá-la, continua merecendo o reconhecimento dapopulação como uma das instituições mais confiáveis do Brasil”, diz anota.

 As informações foram dadas em resposta à reportagem da revista Veja queapontava Israel Guerra, filho da ministra-chefe da Casa Civil, EreniceGuerra, como mediador em contratos com a estatal. Para intermediar aoperação, teria sido cobrada uma propina de 6% do empresário FábioBaracat, ex-sócio da MTA.

ANAC também repudia informações falsas da Veja

Outra instituição pública que emitiu nota desmentindo a revista foi aAnac (Agência Nacional de Aviação Civil). Ela disponibilizou cópias doprocesso que renovou a concessão da empresa MTA. De acordo com aassessoria de imprensa da agência, os documentos presentes no processocomprovam que não houve irregularidade na renovação da permissão daempresa.

Em nota divulgada no domingo (12), a Anac afirmou que a decisãofavorável à MTA em 18 de dezembro aconteceu porque a empresa apresentoua certidão que faltava para comprovar que sua situação previdenciáriaestava regular. A revista havia insinuado que a decisão deu-se porpressão de lobistas.

Principal fonte da reportagem desmentiu a revista

Ainda no sábado (11), logo que a revista chegou às bancas, o empresárioFábio Baracat, principal “fonte” da reportagem, divulgou uma notadesmentindo a Veja. Segundo ele, a revista mentiu aos leitores.

Na versão fantasiosa da Veja, Baracat, suposto dono daempresa Via Net e sócio da MTA, queria ampliar a participação de suascompanhias nos Correios e, para isso, ele teria pago a suposta propinade aproximadamente 6% sobre um contrato de R$ 84 milhões.

O empresário diz na nota que foi surpreendido com a matéria:“Primeiramente, gostaria de esclarecer que não sou e não fuifuncionário, representante da empresa Via Net, ou a representei emqualquer assunto comercial, como foi noticiado na reportagem. Apenasconheço a empresa e pessoas ligadas a ela, assim como diversos outrosempresários do setor”.

Ele também negou “qualquer relacionamento pessoal ou comercial com aMinistra Erenice Guerra, embora tivesse tido de fato a conhecido,jamais tratei de qualquer negócio privado ou assuntos políticos comela”.

Disse ainda que ao procurá-lo, a revista só perguntou sobre a relaçãoda MTA com o Coronel Artur, atual Diretor de Operações dos Correios. Econcluiu dizendo que se sentia como “mais uma personagem de um joguetepolítico-eleitoral irresponsável do qual não participo, porém queafetam famílias e negócios que geram empregos”.

Em resposta, a revista divulgou outra nota em que tenta se defender,dizendo que a reportagem “não foi construída com base em declarações,mas em intensa apuração jornalística e sobre documentação, parte daqual ainda não foi publicada”. Mas parece que a “documentação” carecede credibilidade.

Empresa citada desconfia que Veja falsificou documentos

A empresa Via Net, citada na reportagem da Veja comopagadora da suposta propina para viabilizar contrato com o Correio,também divulgou nota, com a qual nega a existência do contratoreproduzido pela revista.

Segundo a Via Net, são completamente falsas as informações da revistasobre a relação de Fabio Baracat com a empresa. “Fabio Baracat nuncafoi sócio, procurador ou gestor, e tampouco pertenceu algum dia aoquadro de funcionários da empresa, fatos esses que podem facilmente sercomprovados”.

A Via Net Express diz na nota que não reconhece o contrato apresentadona reportagem, “não assinou esse suposto contrato, não conhece aCapital Assessoria, não conhece seus sócios, nunca manteve qualquercontato e qualquer tipo de relação comercial com a mesma”. Afirmatambém que não possui nenhum tipo de contrato de prestação de serviçoscom o Correio, nem compra serviços de transpostre aéreo nas aeronavesdo Correio. Ou seja, não sobra quase nada de verdade na falsareportagem da revista.

Dinate do festival de calúnias levantadas pela revista, a Via NetExpress diz na nota que “buscará os esclarecimentos necessários, paraem seguida adotar as medidas judiciais cabíveis”.

Erenice processa revista e quer direito de resposta

Quem também já formalizou a disposição de levar a Veja às barras dos tribunais é a ministra Erenice Guerra, principal vítima das falsas denúncias levantadas pela revista.

Em nota, Erenice afirmou nesta segunda-feira que contratou um escritório de advocacia para processar a revista Veja por causa das calúnias levantadas pela publicação – todas já contestadas por meio de uma outra nota à imprensa, no sábado.

Assinada pela Casa Civil, a primeira nota afirma que a reportagem écaluniosa e visa apenas “atingir a honra, bem como envolver familiares”da ministra.

Segundo Erenice, quando foi procurada pelo repórter autor dasaleivosias, ela e seus familiares forneceram todas as respostascabíveis a cada uma das interrogações feitas pela revista. “De nadaadiantou nosso procedimento transparente e ético, já que taisesclarecimentos foram, levianamente, desconhecidos”, denuncia Erenice.

“Sinto-me atacada em minha honra pessoal e ultrajada pelas mentiraspublicadas sem a menor base em provas ou em sustentação na verdade dosfatos, cabendo-me tomar medidas judiciais para a reparação necessária.E assim o farei. Não permitirei que a revista Veja, contumaz noenxovalho da honra alheia, o faça comigo sem que seja acionada tantopor DANOS MORAIS quanto para que me garanta o DIREITO DE RESPOSTA”, diza nota.

No texto, ela lamenta “que o processo eleitoral, no qual a citadarevista está envolvida da forma mais virulenta e menos ética possível,propicie esse tipo de comportamento e a utilização de expediente comoesse, em que se publica ataque à honra alheia travestido de materialjornalístico sem que se veicule a resposta dos ofendidos”.

Lula: Erenice continua no cargo

A nota de Erenice Guerra e os esclarecimentos que a ministra já prestouao presidente Luiz Inácio Lula da Silva renovaram a confiança de Lulana ministra e o presidente já avisou que, se depender da vontade dele,Erenice fica no cargo. Os dois se encontraram domingo à noite noPalácio da Alvorada – residência do presidente.

A própria ministra tomou a iniciativa de solicitar a abertura deprocedimento na Comissão de Ética Pública da Presidência para que oepisódio seja apurado. Ela reafirmou que abre mão de seus sigilosbancário, fiscal e telefônico.

No início da tarde, a comissão, que fiscaliza a conduta de servidoresna administração pública federal, confirmou a abertura de umprocedimento preliminar a pedido da ministra. O relator é o advogadoFábio Coutinho. Ele tem um prazo de 10 dias para analisar o caso e, senecessário, solicitar documentos e ouvir pessoas envolvidas, incluindoErenice. O prazo pode ser prorrogado, mas Coutinho disse pretenderfinalizar o relatório antes das eleições, em 3 de outubro.

Nassif revela como jornalista da Veja montou a falsa reportagem

O jornalista Luis Nassif, que conhece a Veja pordentro e é autor de vários textos denunciando o “jornalismo de esgoto”que a revista pratica, publicou em seu blog um “roteiro” com o caminhopercorrido pelo jornalista Diego Escosteguy –autor da matéria da Veja— que mostra como foi possível dar “ares de verdade” a uma falsa reportagem.

Segundo Nassif, Veja publicou a própria prova do crime decalúnia. “O jogo da manipulação consiste em pegar um conjunto deinformações soltas, depois compor um roteiro à vontade do freguês, umapeça de ficção mas que contenha alguns ingredientes reais”, contaNassif, e detalha:

Como fez o Diego?

1. Levantou um contrato da Via Net Express com a Capital (do filho da Erenice) em que se fala em taxa de sucesso de 6%.

2. Diz que, pela Via Net, quem assina é o seu dono Fábio Baracat. Naverdade, Baracat nada tem a ver com a empresa, a não ser oferecerserviços eventuais.
3. Levanta matérias recentes da imprensa, sobre as ligações da MTA com a ANAC e os Correios.

4. Ponto: tem os contratos da MTA junto aos Correios e a comissão de 6%. Cruza uma com outra e tem-se o valor da propina.

5. Para fechar o elo, diz que Erenice “indicou” o tal coronel Quá-Quápara a ANAC. A prova: a assinatura dela na indicação. Não informa quetodas as indicações para cargos públicos passam pela Casa Civil.

6. A partir dessa soma admirável, a revista faz toda sorte deelucubrações. Fala em financiamento do esquema, em reuniões fechadas,sem celular nem caneta e o escambau.
Nassif mostra ainda que a Veja aponta como “suspeito” um trecho docontrato que é texto padrão de qualquer contrato de consultoria.“Deveria fazer parte da formação dos chamados repórteres invesgativosconhecimento básico sobre contratos”, ironiza Nassif.

“A revista precisava mostrar a “prova” do pagamento de 6% de propina.Mas esse percentual não vinha separado: estava em um parágrafo inteiroque não podia ser suprimido. Precisou, então, publicar o parágrafointeiro para expor o número mágico dos 6%. Publicando, matou elaprópria sua matéria.

E aí fica-se sabendo que a taxa de sucesso nada tinha a ver com a ANAC,com contratos com os Correios, com renovação de concessão. Mas apenasno caso de obter financiamentos – que, pelas declarações do Baracat,nunca foram obtidos.

Cláudio Gonzalez