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Ricardo Kotscho: Imprensa abre jogo e rasga a fantasia

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Vejam as manchetes desta quinta-feira, 9 de setembro de 2010, nos três principais jornais do país.
Folha de S. Paulo:
“Escândalo da Receita – Investigada consultou dados do genro de Serra”.
O Estado de S. Paulo:
“Genro de Serra teve sigilo fiscal violado”.
O Globo:
“Serra reage e diz que Lula serve à estratégia `caixa-preta´do PT”.
Parece uma gincana, não há outro assunto no mundo. É como se todosos jornais tivessem o mesmo pauteiro e o mesmo editor. Embora se refiraa casos de violação fiscal ocorridos no ano passado, a notícia érequentada dia a dia com algum ”fato novo” que justifique a manutençãoda rubrica “escândalo da receita”.
Até algumas semanas atrás, antes da disparada da candidata DilmaRoussef em todas as pesquisas, abrindo larga vantagem sobre José Serra,que chega a 33 pontos no último tracking do Vox Populi/Band/iG, a nossavelha mídia ainda procurava, de alguma forma, manter as aparências deneutralidade com aquela história de jornalismo “isento”, “apartidário”,“independente”.
Agora, que parece não ter mais jeito de virar o placar nas pesquisascom bom-mocismo, resolveram abrir o jogo e rasgar a fantasia, semnenhum pudor. Das manchetes ao noticiário, passando pelos editoriais ecolunas, a ordem é desconstruir a pessoa e a candidatura de Dilma, ebater sem piedade no governo Lula.
Aonde querem chegar? Quem eles ainda pensam que enganam? A julgarpela maioria dos comentários publicados neste Balaio, leitores etelespectadores já estão vacinados, sabem quem é quem e o que está emjogo.
Como os números das pesquisas não reagem às doses cavalares de fatosnegativos, apesar de o país da mídia viver uma interminável crise dofim do mundo, só posso acreditar que se trata de uma estratégia JimJones. Bater em Dilma e no PT, tudo bem, estão todos de acordo. Só nãodescobriram ainda como alavancar a campanha da oposição.Promovem debates e sabatinas quase todo dia para dar uma fôrça, mas atéagora não teve jeito.   
Um forasteiro que tenha chegado ao Brasil esta semana, eprocurasse saber pelos jornais e no Jornal Nacional da TV Globo o queestá acontecendo por aqui, a 24 dias da eleição presidencial, poderiaimaginar que desembarcou no país errado, em algum lugar estranho eperigoso, na região mais pobre e menos democrática do continenteafricano.
Sob o título “O país de Lula: esgoto em baixa, consumo em alta”, ojornal O Globo, que se supera a cada dia, pinça números da PesquisaNacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2009), divulgada esta semanapelo IBGE, para concluir na chamada de capa: “O desemprego subiu nacrise, mas o brasileiro comprou mais DVDs e máquinas de lavar”.
Sem explicar como um país de  desempregados investe emeletrodomésticos, o jornal esqueceu de dizer que os empregos perdidosna crise do ano passado já foram recuperados, com folga, em 2010 _ oque explica a teimosia das pesquisas em manter os índices de aprovaçãodo governo Lula em torno de 80%.
Para publicar o título “O presidente Lula passou dos limites”, comdireito a chamada na capa, o venerando Estadão, por sua vez,redescobriu o cientista político José Álvaro Moisés, tão conhecido quese viu obrigado a publicar uma nota “Quem é” para o leitor saber dequem se trata. Entre seus títulos acadêmicos e experiências em “teoriademocrática e comportamento político”, porém, o jornal só omitiu o fatode que o professor e cientista Moisés foi sub-ministro da Cultura nogoverno Fernando Henrique Cardoso.
Já a Folha, que resolveu publicar um caderno especial de eleições apartir desta semana, entre tentativas de fazer humor político misturadocom jornalismo sério, tem se dedicado a investigar o passado daex-ministra Dilma Rousseff, desde os seus antepassados búlgaros, queela nem conheceu. Até agora, estranhamente, não se interessou em fazermatérias sobre o passado dos outros candidatos, como se todo mundotivesse a obrigação de já conhecer as histórias deles.
Critérios são critérios, eles dirão, ninguém tem nada com isso. Aliberdade de imprensa deles, aquela que defendem com tanto fervor, estáacima de tudo _ dos fatos, das leis, da isonomia e do direito dasociedade de ser informada com um mínimo de honestidade sobre o queestá acontecendo.
Ricardo Kotscho