Sobre mídia, política e eleições
Publicado em 01 Set, 2010 às 00h07
1) Entramos no último mês de campanha com ampla vantagem de Dilmasobre Serra, em que as pesquisas de intenção de voto apontam até umavitória em 1º turno. A candidata do PT tem pelo menos três grandestrunfos, que vão ajudá-la a manter a dianteira: o primeiro é aavaliação positiva do governo que representa, que beira 80%. Issoinclui percepções positivas sobre aumento do emprego e redução damiséria/pobreza. O segundo trunfo é o maior tempo de rádio e TV, comuma média de dez minutos contra sete de Serra. Por fim, Dilma e o PTcontam com o apoio da maioria dos prefeitos.
Esse quadro garante, tecnicamente, a vitória de Dilma. Não existem,no horizonte, fatos objetivos, concretos, que se sobreponha aos trunfosque Dilma tem na manga.
Por outro lado, há que se ter em mente que uma eleição não é um fatoestritamente técnico, mas eminentemente político. Isso significa que umfato político de grande proporção, que receba ampla divulgação dosmeios de comunicação de massa, poderá causar um impacto significativono quadro eleitoral.
Na vida recente brasileira vimos isso acontecer pelo menos trêsvezes. Além da histórica edição do debate entre Lula e Collor em 1989,tivemos o caso Lunus, que tirou Roseana Sarney do páreo em 2002, e o“escândalo dos aloprados”, que ajudou a levar a disputa para o 2º turnoem 2006. Todos eles foram amplamente expostos pela mídia, cuja uniãoindissolúvel em torno da pauta impôs uma versão única dos fatos.
Conhecendo a estrutura dos meios de comunicação de massa no Brasil ea sanha golpista da direita que vem caindo nas pesquisa, não convémbaixar a guarda.
2) Pena os demais candidatos da esquerda não terem conseguidoampliar sua presença nos debates, o que decorre em grande parte doisolamento provocado pelas corporações de mídia. Pena também seuscandidatos não receberem o apoio de mais eleitores, o que decorre deinúmeros fatores externos aos partidos, mas também ao fato de que suaaproximação com o povão ainda é muito tímida e da falta de união entreeles (os partidos de esquerda). São três fatos políticos a seremconsiderados nos próximos anos.
3) Na edição desta segunda-feira (30), O Globo saiu com mais umamatéria na linha “Dilma canta vitória antes do tempo”, apesar de ela játer negado tantas vezes. Na página 10, a matéria principal chegou acomparar a posição da petista com a de FHC, que em 1985 se deixoufotografar na cadeira de prefeito de São Paulo e terminou perdendo paraJânio Quadros. O parágrafo dizia o seguinte: “Em 1985, o ex-presidenteFernando Henrique Cardoso, então candidato a prefeito de São Paulo elíder nas pesquisas de intenção de voto, atendeu a um pedido dosfotógrafos e se sentou na cadeira de prefeito antes da eleição. Eleacabou sendo derrotado por Jânio Quadros”. O curioso é que nem todos osexemplares do Globo desta segunda-feira saíram com esse trecho. Eu tivea oportunidade de ler as duas edições, uma com e outra sem o texto. Aoque parece, alguém mandou parar as máquinas para suprimir esteparágrafo. Por que isso teria acontecido?
Marcelo Salles