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Erros dos institutos de pesquisa dividem especialistas

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Vinte e quatro horas antes das eleições, os resultados apontados por três dos principais institutos de pesquisa para a disputa eleitoral eram muito distintos do que se comprovou no domingo. Dilma Rousseff (PT) aparecia com 51% dos votos válidos e Marina Silva (PV) surgia com 17% – tiveram, respectivamente, 46,9% e 19,3% dos votos. Em São Paulo, as pesquisas apontavam Marta Suplicy (PT) e Netinho (PCdoB) como senadores mais votados, tendo Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) e Ricardo Young (PV) com, respectivamente, 20% e 4% das intenções de voto – obtiveram 30,4% e 11,6%. Discrepâncias entre as pesquisas e os votos sempre ocorreram e é preciso aprimorar a forma com que elas são feitas para evitá-los. Essa é a avaliação de acadêmicos, especialistas em matemática e estatística e políticos consultados pelo Valor.

Para Jairo Nicolau, cientista político e diretor e professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), antigo Iuperj, não vale da parte dos institutos argumentar que a Marina subiu porque veio uma onda (de opinião pública). “Eles [os institutos] são bons estatísticos e podem processar as pesquisas com um pouco mais de precisão”, disparou. Ele atribuiu os erros a questões técnicas e ao “frenesi de pesquisas” que tomou conta dos grandes institutos no Brasil. “Por quê alimentar a mídia com pesquisas diárias e criar uma expectativa no meio político de virada, de subida?”, indaga Nicolau. Do seu ponto de vista, o excesso de pesquisa dos institutos afeta a qualidade do trabalho e gera desconfiança no eleitor.
Fazer um levantamento, uma pesquisa eleitoral, é um trabalho muito complicado, exige muita precisão e cuidado, adverte. “Tem que passar por uma supervisão de campo e precisa ser checado para evitar que o pesquisador vá lá numa cidade e preencha questionários só para preencher sua cota e vir embora para casa. Além desse problema, a amostra e o desenho da amostra têm de ser vistos com cuidado, bem como a técnica de coleta de dados”, ensina.
Rachel Meneguello, diretora do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp, pondera que “não adianta jogar os institutos contra a parede”, uma vez que há questões “imponderáveis” que as pesquisas sempre terão dificuldade para captar. Para Rachel, esta incapacidade incontornável é o que dá “charme” às eleições. “Há tendências que surgem no eleitorado de última hora, que os institutos não conseguem captar com precisão. Se as pesquisas de campo tivessem tempo para serem feitas, com o devido cálculo das probabilidades nas amostras, os erros seriam dirimidos, mas há pesquisas sendo divulgadas todos os dias”, diz Rachel, para quem a pressa por resultados é responsável por erros na captação de tendências.
Para ela, a distância entre o que a pesquisa mais recente do Datafolha, realizada na antevéspera e véspera das eleições, apontou para a disputa no Senado e o que de fato se realizou não se trata de “erro crasso”. “As pesquisas já apontavam a alta que o Aloysio vinha tendo. Na véspera já o colocaram próximo de Marta e Netinho. A campanha dele cresceu na última semana”, diz a cientista política.
Já Ricardo Young, candidato derrotado ao Senado, não vê as discrepâncias com bons olhos. Apontado, na última pesquisa do Datafolha, com 4% das intenções de voto, Young obteve 11,4% – ficando atrás apenas de Aloysio, Marta e Netinho.
“Os institutos não capturaram a queda da Dilma, o avanço da Marina e erraram feio nas votações de senador e governador. Na última pesquisa, eu aparecia atrás de Moacir Franco (PSL) e Ciro Moura (PTC). Eles tiveram, respectivamente, 10 e 20 vezes menos votos que eu. Como um instituto de pesquisa erra nesta proporção?”, pergunta-se Young, para quem as pesquisas não captaram o movimento verde na internet. “Os institutos terão que desenvolver novas metodologias para não virarem empresas obsoletas”, diz ele.
Em entrevista concedida ontem ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, a diretora executiva de Inteligência do Ibope, Márcia Cavallari, defendeu as pesquisas. “Não considero que os institutos tenham errado, ao longo da campanha todas as tendências foram captadas. A Marina Silva teve crescimento muito lento e foi mais acentuado agora, no fim da campanha, e isso foi demonstrado nas pesquisas”, disse.
De acordo com Sergio Wechsler, doutor em estatística por Berkeley (EUA) e professor da USP, os institutos calcularam mal ao ponderar o voto dos indecisos. Como explica Wechsler, a conta dos votos válidos é obtida após a divisão das intenções de votos em um candidato pelo total de intenções de votos, desconsiderando aqueles entrevistados que declararam voto branco, nulo ou indecisos. “O engano está aí. Não se pode excluir os indecisos, afinal eles podem votar em um candidato no momento da eleição”, diz.
Wechsler fez um exercício simples com os últimos números do Datafolha e do Ibope: pegou o número de pessoas que se declararam indecisos e deles calculou a proporção obtida pelos candidatos na pesquisa. “Estimei que o equivalente a 17% dos indecisos votaria na Marina Silva. Isso já reduziria o erro, uma vez que Marina ficaria mais próxima dos 18% e, assim, dentro da margem de erro”, diz o estatístico.
Para José Ferreira de Carvalho, sócio da Statistika Consultoria, os institutos cometem um erro técnico. “As pesquisas de amostragem por quota não podem conter margem de erro, trata-se de algo incompatível. A margem de erro se coloca numa pesquisa de amostragem estatística, isto é, quando as pessoas são sorteadas e não escolhidas para entrar num determinado perfil de renda, cor de pele e sexo, como ocorre com amostragem por quota”, diz.
Para Nicolau, do Iuperj, outro aspecto das pesquisas que ele acha que precisa ser questionado com calma no Brasil é que alguns institutos trabalham para candidatos. “É natural, mas nesta eleição a coisa ficou desagradável. Todo mundo sabia que o Vox Populi estava trabalhando com a Dilma e o presidente do Ibope disse no ano passado que Serra ganharia as eleições”. Para ele, quem faz pesquisa não pode fazer avaliações e declarações desse tipo, pois a promessa tem de ser cumprida, ironiza.
No “Roda Viva”, ontem, Cavallari, diretora do Ibope, afirmou que a opinião dos presidentes dos institutos está abalizada “no momento em que foram ditas, embasadas pelas pesquisas”.
Valor Econômico