Na era Fernando Henrique Cardoso a imprensa não ia fundo nas denúncias de corrupção, pois uma queda do governo traria à baila, com visibilidade acentuada, aqueles postulantes mais habilitados que não agradavam em nada a grande maioria dos formadores de opinião. Os fantasmas de Lula e do PT pairavam nos espaços políticos brasileiros. Àquela altura, já era iminente uma experiência mais claramente de esquerda no comando da nação, não obstante a conquista da estabilidade econômica pelo PSDB, que representava uma essência mitigada da esquerda devido à história política de seus membros, entre eles FHC. Isto bastava para descontentar os jornalistas mais conservadores e os reacionários, apesar da presença do PFL (hoje, DEM) como sócio no poder.
Nos tempos da ditadura, Antônio Carlos Magalhães e FHC não se gostavam. O que os aproximou de verdade, e além da mera aliança política em prol da governabilidade, foi a amizade que se consolidou entre Fernando Henrique Cardoso e o filho de ACM, o deputado federal Luis Eduardo Magalhães, falecido em 1997 durante uma caminhada. Ele era o líder do governo na Câmara, um articulador bem à altura dos planos do presidente. Pois o frio e calculista sociólogo chorou no enterro de Luis. Não é estranho supor que, se não tivesse morrido, o mesmo seria o candidato que FHC teria escolhido para sucedê-lo, com a emenda da reeleição indo para o limbo e, mais rápido do que poderia admitir, a velha ARENA (Aliança Renovadora Nacional), com o nome de PFL, retornando ao poder central do país que fora obrigada a deixar graças à transição democrática.
Leia mais:
Governo do PSDB usa prova escolar para denegrir Lula e exaltar FHC
Por sua vez, José Serra e ACM jamais se aceitaram mutuamente. A combinação foi forçada pelas circunstâncias: como o PT nunca concordaria em participar do poder pelas vias tucanas, o PSDB, naturalmente, achou no PFL (DEM) seu porto seguro. E foi ACM quem deu os rumos do período FHC. A intransigência petista fazia sentido, uma vez que o PSDB chegara à Presidência por causa da união com o PMDB do presidente Itamar Franco, que assumiu o cargo por ter sido o vice do “impichado” Collor de Melo. Como Ministro da Fazenda de Itamar, FHC comandou o lançamento do Plano Real, motivo pelo qual foi indicado pelo presidente para ser seu candidato na eleição de 1994. O que ocorreu depois a história já registrou: o PMDB se mostrou incapaz para continuar gerindo os destinos do país. Chegou ao topo de carona e não soube lá manter-se. A vaidade pessoal impediu que Itamar e FHC continuassem se entendendo. O tucanato e os consevadores pefelistas ditaram as regras, acertando e errando, como todo governo. Mas, era inegável que a presença do sociólogo esquerdista (ou ex-esquerdista) incomodava até certo ponto. Então, era bom para a mídia tirar a “casquinha” de FHC, porém de maneira atenuada, que não enchesse tanto a bola de Lula. E assim foi feito.
Leia também:
A saga das elites preconceituosas na perseguição ao ex-metalúrgico e ao PT seguirá no período Dilma. Lula permancerá em cena e precisará de bastante serenidade para continuar vencendo e se perpetuando na História!