Por Fabio P. Silva
Além de cobradores e motoristas, estudantes também foram alvo da PM |
De um lado, estudantes. Em sua grande maioria, universitários. Mas também pessoas ligadas a sindicatos, trabalhadores e transeuntes que passavam pela Praça Pedro Américo, centro de João Pessoa / PB. Do outro lado, motoristas e cobradores das empresas de transportes públicos da cidade. Em sua grande maioria fardados com a característica roupa que identificamos todos os dias ao tomarmos um coletivo: sapato preto, calça verde e camisa branca.
O fato que reúne esses dois grupos num mesmo espaço, mais ou menos às 15h00 da tarde, é o protesto/ato estudantil contra o aumento das passagens de ônibus de R$ 1,90 para R$ 2,10. Os estudantes resolveram tomar as ruas da cidade partindo do argumento de que o aumento das passagens era abusivo e de que foram excluídos do processo de discussão sobre o aumento. A prefeitura de João Pessoa, na pessoa do Prefeito Luciano Agra, simplesmente acatou o valor proposto pelos empresários sem ao menos submeter a proposta do aumento a um debate com as partes interessadas.
Mas, o que torna essa história toda singular é que, pasmem, os motoristas e cobradores dos transportes públicos de João Pessoa não deixaram seus postos de trabalho para apoiar os estudantes, como aconteceu na França no ano de 1968 no mês de maio. Não. Eles estavam lá para fazer justamente o contrário, ou seja, impedir que os estudantes exerçam um direito amplamente garantido pela constituição, seja em grupo ou individualmente: o direito de se manifestar/protestar contra algo de forma pacífica e sem agressões.
Pela primeira vez em toda a história, trabalhadores tomaram às ruas não para protestar contra seus patrões, mas, para defendê-los. Mas defendê-los de quê e de quem? Será que ao fazerem isso eles se lembraram que seus filhos, irmãos, primos, esposas etc. pagam a mesma passagem com o valor alterado pelo aumento? Será que eles em algum momento perceberam que não estavam ali contra os estudantes e a favor de seus patrões, mas, ao contrário, contra eles mesmos? A que ponto chegamos!
Assim se deu. Os estudantes em frente à prefeitura, antigo prédio dos correios. Motoristas e cobradores, na Praça Pedro Américo em frente ao prédio da polícia militar e Civil e tendo de fundo o Theatro Santa Roza. Separados pela Rua Padre Azevedo, os estudantes protestavam com gritos de ordem contra o aumento e faziam panfletagem. Enquanto isso, meia dúzia de motoristas instigavam os demais contra os estudantes ao ponto de, até mesmo, impedir que estes tomassem as ruas em protesto. Foi assim que os motoristas, possivelmente ligados a algum sindicato da categoria, reagiram de forma inédita em toda a história, chegando a agredir e a trocar tapas com os estudantes.
Foi-se o tempo em que os trabalhadores protestavam contra seus patrões e quebravam
Novo ato será realizado dia 18/01, no mesmo local |
Resultado final: troca de tapas, murros, pontapés, garrafadas na cara, spray de pimenta nos olhos e tiros para cima. Estes dois últimos por parte do Choque (grupo policial fortemente armado). É bem verdade que o período de férias tem dificultado a mobilização em massa dos estudantes. Mas é verdade também que estes não pretendem desistir tão facilmente desta empreitada. Já está marcada uma audiência com o Prefeito de João Pessoa, Luciano Agra, para o dia 18 de janeiro para discutir o aumento, além de várias mobilizações pela cidade. Por outro lado, resta esperar para ver qual será a próxima ideia brilhante dos empresários dos transportes públicos de João Pessoa para desmobilizar o movimento estudantil.