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DEM sacode poeira, mas vê poucas chances de dar a volta por cima

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Perdido no tempo e no espaço, DEM arrasta a pior crise de sua história
O senador Agripino Maia (RN) assumiu a presidência do Democratas (DEM) na convenção nacional do Partido, nesta terça-feira (15), em Brasília, com a alegada missão de “manter” o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, na legenda. Mas a ausência de Kassab no evento deixou claro que a primeira tarefa de Agripino já nasceu fracassada. Nos bastidores, as falas destoavam dos discursos oficiais: divisão no lugar de união.
A eleição de Agripino foi a forma encontrada pelas duas alas do partido que estavam divididas e numa disputa que ameaçava ‘implodir’ o partido. De um lado, o grupo do ex-prefeito do Rio, Cesar Maia, e do seu filho Rodrigo Maia (RJ), atual presidente da legenda. Do outro, o ex-senador Jorge Bornhausen (SC).

Na pequena convenção que reuniu pouco mais de uma centena de democratas, estavam presentes todos os deputados federais e senadores do DEM, bem como os dois governadores do partido: Rosalba Carlini (RN) e Raimundo Colombo (SC). Os parlamentares continuam afirmando que não sairão do Partido junto com Kassab. Mas, por precaução, o novo presidente já anuncia as possíveis retaliações. “Quem for detentor de mandato e sair, nós vamos tomar as medidas, que não são minhas, mas o que determina a lei”, disse Agripino, referindo-se à legislação que determina que o parlamentar que abandonar o partido sem causa justificável perderá o mandato.

O alerta é uma tentativa de impedir que o DEM desidrate ainda mais. Ainda com a antiga sigla PFL, os liberais elegeram 105 deputados federais em 1998. Em 2010, a bancada demista na Câmara minguou para 44 cadeiras.

Para fugir ao vaticínio de Lula –“temos que extirpar o DEM da política”— Agripino se autoimpôs a missão de ressuscitar o ideário da legenda. “Nenhum partido tem o nível de convergência que nós temos no campo das idéias”, “Somos o último partido liberal da política brasileira, a única legenda em condições de defender os princípios liberais como formulação partidária…” “…Temos orgulho de defender um tamanho adequado para o Estado, a redução da carga tributária e a irrestrita liberdade de imprensa…” “…Assumimos por inteiro a participação do capital privado nos setores em que o Estado não tem dinheiro para investir: infraestrutura, energia, aeroportos, portos”, foram todas frases ditas por Agripino em entrevista antes da convenção.

No entanto, a desidratação do DEM aconteceu mesmo com as diversas tentativas de “modernizar” a legenda para afastar a “poeira” oligárquica, inclusive trocando de nome. Nada adiantou. Ex-arena, ex-PDS e ex-PFL, o DEM arrosta a pior crise de sua história. O DNA direitista da legenda e sua errática oposição às políticas sociais do governo Lula tornaram inevitável a perda de prestígio do partido. Longe do poder, deixou de abrigar os políticos mais pragmáticos e fisiológicos. Restaram os mais ideológicos e tradicionalistas. Mas mesmo uma boa parte destes já não enxergam muitas possibilidades do partido dar a volta por cima.
 

O próprio Agripino admitiu que a saída dos parlamentares para acompanhar Kassab na formação de um novo Partido ou na transferência para outro enfraquece o DEM.
Em visível, agonia, o Partido ainda procura tirar proveito de outro episódio que lhe enfraqueceu: a crise política protagonizada pelo ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda que, acusado de corrupção, foi preso e perdeu o mandato. Os dirigentes partidários usaram o episódio para dizer que o afastamento prévio de Arruda, grande estrela do Partido, representa uma lição de moralidade. Ao mesmo tempo, Agripino Maia, em seu discurso, saudou a deputada distrital, Eliana Pedrosa, envolvida no mesmo episódio de corrupção do DF.

Tentativa inútil

A tentativa, considerada praticamente inútil pelos próprios partidários, de manter Kassab na legenda, não foi alvo explícito dos discursos, mas nas entrelinhas, o novo presidente mandou os recados. Apesar de dizer que era conciliador e não beligerante e que tinha a missão de unir o Partido, disse que “ninguém se abriga em Partido de oposição por oportunismo”.

Ao mesmo tempo disse que “a minha missão é exatamente promover a conciliação, dar oportunidade a quem merece oportunidade, a quem tem capital político e eleitoral e pode contribuir com o crescimento do Partido”.

Antes do início da convenção, os políticos procuravam minimizar a crise. Enquanto Ônyx Lorenzoni (RS) apostava que não sai ninguém do DEM para acompanhar Kassab, Rodrigo Maia disse que “movimentos das últimas horas estancaram definitivamente algum número maior de parlamentares que pudessem ir (com Kassab), não só do DEM, mas de outros partidos”, avalia.

A senadora Katia Abreu (TO), uma das que ameaçam deixar a legenda, desabafou pelo Twitter. Em uma série de postagens no início da tarde, ela criticou a atuação do ex-presidente da sigla. “Quase destruíram o DEM”, disse a senadora, referindo-se a Rodrigo Maia.

Ainda no microblog, a senadora elogiou a administração do prefeito Gilberto Kassab, mas disse que “daria um voto de confiança” para o novo presidente Agripino Maia. Contudo, parece certo que Katia deixará a legenda, podendo migrar para o pDB de Kassab ou para o PMDB. Mas, neste caso, ela corre o risco de perder o mandato. Segundo a assessoria de imprensa de Kátia, a senadora considera “todas as possibilidades”.

Já o deputado Pauderney Avelino (AM), escolhido vice presidente do DEM, acredita que a crise envolvendo o prefeito paulistano irá fortalecer a legenda. “O partido sai de uma crise interna fortalecido. Foi uma luta. Não é fácil passar por uma situação dessas estando na oposição. A situação do Kassab ficou insustentável (…) Acredito que a saída dele pode gerar uma paz interna duradoura”, afirma o deputado. Para Avelino, não haverá uma debandada. “Eles não se sentirão confortáveis se pairar alguma dúvida sobre a situação deles. Não é simples burlar a lei de fidelidade partidária.”

A movimentação de Kassab para fora da órbita tucana e em direção ao governo Dilma desagradou não só ao DEM como ao PSDB. O presidente tucano, Sérgio Guerra (PE), presente à convenção do DEM, lamentou a migração do prefeito. Para ele, isso representaria um enfraquecimento da oposição.

O encontro do DEM demorou uma hora para começar, e teve duração curta. O ex-presidente da legenda, deputado Rodrigo Maia (RJ) colocou em votação a chapa única, na qual o senador José Agripino assume a presidência nacional da legenda para um mandato tampão até setembro, quando nova convenção deve ocorrer, precedida de encontros estaduais.

Nos próximos meses, Agripino correrá o país aparando desavenças. “Como em todos os partidos, temos divergências regionais”, diz ele. O senador afirmou ainda que pretende renovar todos os diretórios regionais e colocar as ideias do partido “à frente dos interesses pessoais”.

Marcia Xavier e Cláudio Gonzalez