Jean Wyllys se declara socialista e diz que Congresso é repleto de 'gays no armário'
Para Jean, Clodovil tinha ‘homofobia internalizada’ |
Mas Jean pondera que não cobrava dele nem de nenhum parlamentar que se transforme em porta-voz dos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais), embora torça para que outros colegas revelem sua homossexualidade. “Respeito a decisão de cada pessoa. Cada um tem seu próprio tempo. Elas não precisam igualmente implodir o armário e abrir relação ao mundo. Podem manter sigilo”, afirma.
“Eu identifico outros homossexuais aqui [no Congresso]. Mas não quero forçosamente denunciá-los nem tirá-los do armário. Pelo contrário, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Não cabe a mim dizer quem é”, agrega o deputado de 37 anos, eleito com 13 mil votos no Rio de Janeiro.
Jean iniciou sua trajetória política em grupos de jovens da Igreja Católica em Alagoinhas, no interior da Bahia. Segundo ele, “seria o céu de brigadeiro” se outros parlamentares abrissem sua orientação. “Assim poderia mostrar que a bandeira do movimento é só uma das que a gente pode defender aqui. Eu, por exemplo, estou na Comissão de Tributação e Finanças. Defendo direitos dos trabalhadores. Todos podem.”
Marcado pela experiência no programa da TV Globo, Jean se esforça para desviar da associação imediata com o BBB que o enclausurou com outras pessoas por três meses e do qual saiu vencedor. “Trago um acúmulo de movimento social para trabalhar na política. Mesmo aqueles que se opõem às minhas bandeiras têm um respeito comigo. Anthony Garotinho (PR-RJ), que é adversário, me chama para conversar.”
“Se houve baixa expectativa pelo meu mandato, não foi por mim. Tem gente que acha que eu nasci em 2005, que abriu um ovo gigante e eu saí. Quando eu apareci para o grande público, já tinha 30 anos”, afirmou o deputado, que se diz socialista desde a juventude. “Isso não quer dizer franciscano, como se não pudesse usar iPhone. Essa é uma compreensão pobre do socialismo – que é uma questão de justiça social e de defesa das liberdades”, avalia.
É exatamente por sua defesa das liberdades individuais que colegas se referem a ele como “o primeiro deputado gay e não-homofóbico” da Câmara. A alfinetada em Clodovil também vale para muitas outras vítimas de preconceito. “Ele não tinha qualquer afinidade com a pauta histórica do movimento. Muito pelo contrário. Ele tinha homofobia internalizada, ele não tinha orgulho da orientação sexual dele”, dispara.
“Eu o conhecia, era uma pessoa muito gentil. Ele me respeitava e me admirava exatamente pelo orgulho e pela maneira de colocar publicamente. Eu o respeitava também, apesar dos pesares — ele não era uma má pessoa. Mas precisava de esclarecimento como tantos homossexuais que têm homofobia internalizada, mulheres que têm machismo internalizado e negros que têm racismo internalizado. O Brasil ainda tem muito a melhorar nisso”, disse.
Formado em jornalismo pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), Jean guarda poucas palavras para seu principal antagonista na Câmara, o deputado fascista Jair Bolsonaro (PP-RJ), que se diz “homofóbico” e “defensor da família” contra os gays. “Ele não está à minha altura, não discute nos mesmos termos”, afirma Jean. “Ele é uma caricatura e eu sou um intelectual, professor universitário. Tenho história política e sou um parlamentar sério”.
Mesmo em um partido que não lhe deu material de campanha em 2010, ele sugere que pode mirar cargos mais altos no futuro, sem especificar quais. “Não vai demorar muito tempo para termos prefeito, governador ou presidente homossexual. Muita coisa já mudou e novas mudanças virão. Quem sabe eu não possa ser o primeiro? Ou uma nova liderança que se identifique?”