Sessenta e um imigrantes africanos morreram no Mar Mediterrâneo a bordo de uma embarcação que seguia para a Itália. A edição on-line desta segunda-feira (9) do jornal britânico The Guardian acusa militares europeus e unidades da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de terem ignorado pedidos de ajuda da embarcação.
Segundo o jornal, o episódio teria acontecido em março. Na ocasião, o barco — que levava 72 pessoas, incluindo mulheres e crianças —, sofreu uma avaria após deixar o porto de Trípoli, na Líbia, com destino à ilha italiana de Lampedusa, ponto mais setentrional da Itália.
Apesar dos repetidos pedidos de socorro enviados à guarda costeira italiana e de um contato feito com um helicóptero e um navio de guerra da Otan, ninguém ajudou os imigrantes. Eles ficaram à deriva por 16 dias.
“Cada manhã, ao acordarmos, encontrávamos mais mortos, que deixavamos a bordo 24 horas antes de jogá-los no mar”, relatou ao jornal Abu Kurke, um dos sobreviventes. Após dias de esforço, os refugiados conseguiram voltar para a cidade de Misrata, na Líbia, no último dia 10 de abril.
O direito marítimo internacional obriga todos os barcos, incluindo os militares, a atender chamados de socorro dos barcos que se encontram nas proximidades e prestar auxílio.
Por meio de um porta-voz, a Otan negou ter sido acionada pelos imigrantes. A organização disse ainda que seus navios estão prontos para atender qualquer pedido de ajuda e prometeu investigar as acusações feitas pelo periódico britânico.
Direitos humanos
Organizações de direitos humanos e de apoio a refugiados exigem que o caso seja investigado. A porta-voz do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), Laura Boldrini, pediu maior cooperação entre militares e embarcações comerciais no Mediterrâneo para ajudar a salvar outras vidas.
“O Mediterrâneo não pode se tornar um ‘velho oeste’. Aqueles que não ajudam pessoas em perigo em alto mar não podem continuar impunes”, afirmou.
O diretor da organização de apoio a refugiados Habeshia, Moses Zerai, um padre natural da Eritreia (país do leste africano), que vive em Roma, chamou o incidente de “crime” e deu a entender que houve preconceito. Segundo o The Guardian, ele foi um dos últimos a manter contato com a embarcação antes do telefone por satélite dos imigrantes ficar sem bateria.
“Houve uma falta de responsabilidade que acabou deixando mais de 60 mortos, incluindo crianças. Isso constitui um crime, e é um crime que não pode sair impune só por que as vítimas eram de origem africana e não turistas em um cruzeiro”.
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