O maior número de mortes de crianças pertence ao governo de George Bush (em dois mandatos). São 112 menores de 17 anos assassinados
The Bureau Investigates | Tradução: Thiago Domenici, APublica
O Bureau of Investigative Journalism, parceiro da Pública, identificou relatos sobre 168 crianças assassinadas – 44% dos 385 civis mortos – em sete anos de ataques de aviões não tripulados, pilotados remotamente pela CIA, em áreas tribais do Paquistão.
O paquistanês Din Mohammad, por exemplo, teve a má sorte de ser vizinho, na região de Danda Darpakhel, no Waziristão do norte, de supostos militantes da rede Haqqani, um grupo insurgente que luta contra as forças americanas no vizinho Afeganistão.
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No dia 8 de setembro de 2010, mísseis destruíram a casa dos supostos militantes, matando seis deles. Um dos mísseis atingiu também a casa de Din Mohammad matando o filho, estudante em um colégio militar no Waziristão, duas filhas e o sobrinho, todos em idade escolar.
Embora os repórteres de campo do Bureau tenham identificado detalhes deste ataque, os EUA negam que civis tenham sido mortos na campanha militar naquele país.
No governo Bush: 112 crianças assassinadas
O maior número de mortes de crianças pertence ao governo de George Bush. São 112 menores de 17 anos assassinados. Durante os ataques, morriam muitas crianças. Em apenas um deles, foi registrada a morte de uma única criança.
No dia 28 de julho de 2008, por exemplo, os aviões sem tripulantes da CIA atingiram um seminário no Waziristão do sul, matando o expert em armas químicas da Al Qaeda, Abu Khabab al Masri e a sua equipe.
O ataque, considerado um sucesso, também vitimou três jovens rapazes e uma mulher. Apesar do segredo em torno dessa guerra por controle remoto, detalhes já haviam surgido em maio deste ano, revelando que não apenas os EUA sabiam deste tipo de “dano colateral”, mas que o chefe da CIA, Michael Hayden, pediu desculpas pelo erro pessoalmente ao primeiro ministro paquistanês Yusuf Raza Gilani.
Num colégio religioso, um dos piores ataques
Em 20 de outubro de 2006, num dos piores incidentes de toda a campanha militar norte-americana e um dos menos noticiados pela imprensa, 80 civis – sendo 69 crianças – foram mortos num ataque da CIA a uma escola religiosa, em Chenegai, na localidade de Bajaur Agency.
O suposto alvo era o diretor da escola, um militante conhecido. Relatos dão conta de que helicópteros militares paquistaneses ajudaram, tardiamente, no ataque a escola.
A mais jovem das crianças mortas tinha apenas sete anos. O veterano jornalista da BBC, Rahimullah Yousufzai, relembrou a cena. “As pessoas estavam devastadas. Conheci um pai que havia perdido dois dos seus filhos. Ele era muito paciente, e falava que fora esta a vontade de deus, mas estava claramente traumatizado”.
O exército paquistanês assumiu o ataque para si, mas com as notícias que se espalhavam e com protestos que
paralisaram o comércio em toda região a história mudou.
O jornal britânico Sunday Times publicou um depoimento de um assessor do então presidente do Paquistão, Pervez Musharraf: “Nós pensamos que seria menos prejudicial se disséssemos que fizemos o ataque em vez dos EUA. Mas
houve um grande dano colateral, e tivemos que pedir aos americanos para não fazerem mais isso”.
Na semana seguinte aos ataques, o jornal The News publicou os nomes e os vilarejos de cada uma das 80 vítimas. 69 delas tinham 17 anos ou menos.
De acordo com uma fonte ouvida, uma das vítimas tinha apenas 7 anos; três tinham 9; uma tinha 10; quatro tinham 11; outras quatro tinham 12; oito tinham 13; seis tinham 14; nove tinham 15; dezenove tinham 16; doze tinham 17; três tinham 18; três tinham 19; e somente dois tinham 21 anos.
O jornalista Yousufzai não tem dúvidas de que o ataque foi obra da CIA: “tenho certeza absoluta de que esse ataque foi feito por aviões não tripulados dos EUA, baseado no que ouvi de testemunhas e nos comentários subsequentes de oficiais do governo do Paquistão”.
No governo Obama: 56 crianças assassinadas O Bureau identificou 56 crianças assassinadas durante o seu mandato
embora, nos últimos meses, tenha se constatado a redução do número de vítimas.
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O filho de 8 anos de Maezol Khan perdeu a vida em 14 de fevereiro de 2009, após sua casa ser atingida por engano num ataque que visava seus 25 supostos vizinhos militantes.
Os estilhaços dos mísseis mataram o menino enquanto dormia. “Como os EUA podem invadir nossas casas quando estamos dormindo, e alvejar as nossas crianças?”, desabafou Maezol.
Segundo relatos, em 11 de agosto de 2009 outro incidente vitimou crianças e mulheres, num ataque a um suposto complexo do Talibã que matou até 25 pessoas.
Dois anos mais tarde, Arshad Khan, um jovem sobrevivente desse ataque, preso sob custódia da polícia paquistanesa, disse à imprensa que o complexo era um campo de treinamento para homens-bombas adolescentes.
Ele identificou quatro vítimas jovens. Contou ainda que foi recrutado sem saber que seria um homem-bomba.
Ao falar sobre as vítimas menores de 17 anos, a porta-voz da Unicef para a região sul da Ásia, Sarah Crowe, afirmou que “até mesmo uma morte de criança por aviões não tripulados é demais. Crianças não deveriam estar no meio de uma guerra e os dois lados deveriam fazer o máximo parta protegê-las de ataques violentos a qualquer hora”.
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