Revolta na Inglaterra: Globo é a pior do mundo, mas BBC também pula no esgoto
Senhor de idade fala poucas e boas e é destratado ao vivo pela apresentadora da BBC
O vídeo abaixo esteve no ar, ao vivo. Nunca aconteceria no Brasil, porque
a Rede Globo jamais entrevista gente que seja realmente contra a posição
da “mídia” e as convicções pessoais dos jornalistas.
Aliás, fazem todos muito bem, porque ouviriam o que não querem ouvir nem
querem que ninguém ouça e vivem para impedir que as pessoas digam e, se
alguém disser, para impedir que a opinião pública ouça. Mas o horror do
jornalismo-que-há, que só existe para impor opiniões feitas, é muito
parecido.
Para os que pensem que só a Rede Globo faz o que faz e que algum outro
tipo de jornalismo-empresa seja algum dia possível ou pensável, aí vai
bom exemplo de que a Rede Globo é, só, a pior do mundo, mas faz um mesmo
e idêntico “jornalismo”, feito por jornalistas autistas, fascistas
sinceros, absolutamente convictos de que “sabem mais”, só porque são
donos da palavra e nunca ouvem o “outro lado”, sobretudo se o outro lado
quiser falar DELES e das empresas para as quais trabalham.
O problema do mundo não é a Rede Globo (ou, pelo menos, não é mais a
Rede Globo que a BBC). O problema do mundo é que o jornalismo (que é
aparelho ideológico criado e mantido para uniformizar as opiniões e
constituir mercados homogêneos, seja para o consumo uniforme de sabão em
pó e remédio antipeido, seja para o consumo uniforme de ideias sobre
ética e democracia e justiça) é o único dono da palavra social. Se se
inventar mídia que não seja única dona, feudatária, da palavra social,
acaba-se o jornalismo-que-há.
Quem ainda duvidar, veja (abaixo) e leia a seguir (traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu):
BBC (para a câmera): Vamos falar com Marcus Dowe, escritor e
jornalista. (A câmera mostra um senhor, visivelmente perturbado.) Marcus
Dowe, qual sua opinião sobre tudo isso? Você está chocado com o que viu
lá a noite passada em Londres?
Entrevistado: Não, não estou. Vivo em Londres há 50 anos e há
“climas” e momentos diferentes. O que sei, ouvindo meu filho e meu neto,
é que algo muito, muito sério estava para acontecer nesse país. Nossos
líderes políticos não tinham ideia. A Polícia não tinha ideia. [Só
faltou completar: “Os jornais e os jornalistas não tinham ideia”.]
Mas se se olhasse para os jovens negros e para os jovens brancos, com
atenção, se os ouvíssemos com atenção, eles estavam nos dizendo. E não
ouvimos. Mas o que está acontecendo nesse país com eles…
BBC: Posso interrompê-lo, por favor… O senhor está dizendo que não
condena o que houve ontem? Que não está chocado com o que houve em nossa
comunidade ontem à noite?
Entrevistado: É claro que não condeno! Por que condenaria? A coisa
que mais me preocupa é que havia um jovem chamado Mark Dogan, tinha
casa, família, irmãos, irmãs. E a poucos metros de sua casa, um policial
rebentou sua cabeça com um tiro.
BBC [interrompendo]: Sim, mas não podemos falar sobre isso. Temos de
esperar o julgamento, o tribunal não se manifestou sobre isso… Não
sabemos o que aconteceu. O senhor estava falando do seu filho, de
jovens…
Entrevistado: Meu neto é um anjo. Me enfureço só de pensar que ele vai
crescer e um policial pode colá-lo a uma parede e explodir sua cabeça
com um tiro. A Polícia detém e pára e revista os jovens negros sem
qualquer razão. Alguma coisa vai muito mal nesse país. Perguntei ao meu
filho quantas vezes ele foi parado pela polícia. Ele me disse “Papai,
não tenho conta de tantas vezes que aconteceu…”
BBC: Mas… Isso seria justificativa para sair e quebrar tudo, como vimos nos últimos dias em Londres?
Entrevistado: Onde estava você em 1981 em Brixton? Não digo que estão
acontecendo “tumultos”. O que está acontecendo é insurreição das massas,
do povo. Está acontecendo na Síria, em Liverpool, em Port of Spain…
Essa é a natureza do momento histórico que vivemos.
BBC: O senhor não é estranho a essas agitações. O senhor já participou de agitações como essa, como sabemos.
Entrevistado: Nunca participei de agitação alguma. Estive em muitas
manifestações que acabaram em conflitos. Seria normal que a Polícia da
Índia Ocidental me acusasse de ser agitador. Mas absolutamente não
admito que você me acuse de agitador. Quis oferecer um contexto para o
que está acontecendo. O que é que vocês queriam? Masmorras?
BBC: Infelizmente, o senhor não conseguia ser objetivo. Obrigada pela entrevista.
[Corta e o “jornal” passa a falar da suspensão de uma partida de futebol].
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Original – Jornalismo = “Objetividade que só se encontra na mentira”