Preocupada em antecipar o processo sucessório, cúpula tucana já trabalha para eliminar as pretensões de José Serra e ascender Aécio; Dilma e Lula nadam de braçadas
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É essa a leitura que está sendo feita pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra. Hoje (29), ele estará em Goiânia apresentando a pesquisa aos oitos governadores do partido. Desde que os dados foram apresentados a ele por Lavareda, é o que Sérgio Guerra vem fazendo em encontros internos do PSDB. Os números da pesquisa são apresentados aos interlocutores de Guerra e, sobre eles, a cúpula do partido discute o que deve fazer.
“A pesquisa indica uma estrada a percorrer. Mas indica também que é preciso, na saída, remover um obstáculo”, diz um dos tucanos que já viu e discutiu os dados da pesquisa. O problema para o PSDB é que esse obstáculo foi o nome escolhido em duas das últimas três eleições presidenciais para representar o partido na disputa: José Serra. A leitura feita pela pesquisa é que as chances do PSDB residem em resgatar suas bandeiras originais, de defesa da social-democracia como partido de centro-esquerda, mas renovando essas bandeiras diante de um país que mudou. Essa renovação, avalia-se, não pode se dar com a insistência de uma cara identificada ao que não funcionou nos últimos anos.
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Daí, a necessidade de deixar claro desde já que a próxima opção eleitoral do PSDB não será de novo Serra. Nem nenhum outro político de origem paulista (casos de Serra, Geraldo Alckmin e Fernando Henrique Cardoso – que é carioca de nascimento, mas construiu sua carreira em São Paulo). A pesquisa identifica ainda que não há hoje um discurso alternativo identificado com o PSDB na sociedade. Por isso, Sérgio Guerra já declarou que sua intenção é antecipar o lançamento da próxima candidatura do PSDB à Presidência, definindo-a logo depois das eleições municipais do ano que vem. Como, por enquanto, a única alternativa posta é o senador Aécio Neves (PSDB-MG), o quadro apresentado pela pesquisa o favorece. A intenção é abrir o caminho, até depois das eleições, para diminuir a influência atual de Serra e do grupo paulista e criar as condições para construir a candidatura de Aécio em 2014. É por essa razão que as maiores reações à divulgação de dados da pesquisa vieram justamente de políticos ligados ao grupo de Serra, como o ex-deputado Jutahy Magalhães (BA).
Hoje, não daria para ganhar
A pesquisa de Lavareda mostra que o PSDB teve, nas três últimas eleições presidenciais, uma votação sempre ascendente. É um sinal de que ela, provavelmente, poderia crescer mais em 2014. Mas também revela que, mantido o mesmo ritmo de crescimento, o candidato tucano não seria capaz de vencer seu adversário do grupo governista. Ou seja: o PSDB precisa encontrar meios de crescer em outros nichos do eleitorado que hoje não fecham com o governo. Os que foram eleitores de Marina Silva, candidata do PV em 2010, por exemplo.
O que espanta fundadores do PSDB é que os dados mostram que, hoje, o partido aparece para boa parte dos eleitores como uma alternativa conservadora, de direita, por conta das opções que fez desde que chegou ao poder com Fernando Henrique Cardoso. Quando surgiu, o PSDB era uma reação ao fato de que o PMDB, no poder com o então presidente José Sarney, dava uma guinada para a direita. Os que deixaram o partido para fundar o PSDB apresentavam-se como defensores da social-democracia, de centro-esquerda. Ocorre que o PSDB, ao chegar ao poder, aliou-se ao PFL (hoje DEM) e também deu uma guinada à direita.
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O que o partido pretende buscar é resgatar suas bandeiras originais renovando-as, diante do fato de que o país e o mundo mudaram muito da fundação do PSDB em 1988 para cá. A pesquisa mostra que as duas palavras que estão na sigla do partido, social e democracia, têm forte apelo junto à sociedade. O problema é que o eleitor nem lembra muito que elas estão na sigla do PSDB. Há, avalia a cúpula tucana, um grande problema de comunicação no partido. Nas campanhas de Alckmin e de Serra, o PSDB ao mesmo tempo escondeu o que fizera de bom no governo Fernando Henrique e não foi capaz de construir um discurso alternativo ao que fez o governo Lula.
O problema de comunicação começa na própria estrutura. Enquanto a campanha de Dilma tinha, por exemplo, 50 pessoas trabalhando diretamente na comunicação junto às redes sociais da internet, a campanha de Serra teve apenas 15. Como na época as pesquisas mostravam que uma eventual associação com o governo Fernando Henrique, na comparação com Lula, tirava votos, Serra tratou de esconder o ex-presidente tucano e valorizar apenas o que ele mesmo fez. Mas mesmo nisso, Serra falhou.
Dados positivos
Há, porém, dados positivos para o PSDB mostrados pela pesquisa. E a estratégia a ser adotada pretende reforçá-los. O partido já teve mais de 900 prefeitos, e hoje tem pouco menos de 800. Mas elegeu sete governadores (São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Roraima, Pará e Alagoas). Os governadores têm forte influência nas eleições municipais, e os dados mostram que o PSDB hoje é forte no Centro-Oeste e no Sudeste. A meta do partido é eleger no ano que vem mil prefeitos.
Outro dado considerado positivo é a informação de que Serra, no ano passado, venceu as eleições em 40 dos 80 municípios que têm mais de 200 mil eleitores. Desses, 30 têm prefeitos do partido. A ideia é reforçar tais posições, passando a ideia de que o PSDB é o partido das grandes cidades.
A pesquisa foi feita no auge das denúncias contra os Ministérios dos Transportes e do Turismo. Mesmo assim, a corrupção aparece apenas como o quarto item na preocupação dos eleitores, perdendo para saúde, educação e violência urbana.
Renovação
Uma avaliação que emerge da leitura da pesquisa é de que hoje não se enxerga de forma clara o que o PSDB poderia oferecer de alternativa ao PT caso o substituísse no governo. Por isso, há hoje a intenção de Sérgio Guerra de antecipar a entrada do partido na disputa sucessória, definindo o seu candidato à Presidência logo depois das eleições municipais do ano que vem. Ele acredita que, definido o nome, o partido começaria a demarcar um território de diferenciação do atual governo. Fica cada vez mais claro que o nome para isso é Aécio Neves.
Há, porém, hoje uma insatisfação com uma certa apatia de Aécio como senador. A cúpula tucana avalia que Aécio não está aproveitando as oportunidades do Parlamento como poderia. Até agora, por exemplo, ele mal se posicionou no debate posto nas ruas sobre a corrupção pública. Aécio precisa aparecer mais, e isso será cobrado dele.
Ao mesmo tempo em que busca acertar sua agenda política, o PSDB trabalha para apresentar alternativas concretas às ações do atual governo. Um grupo coordenado pelo economista Edmar Bacha trabalha nisso. A ideia é que o grupo apresente esse conjunto de propostas do partido para o país num evento no dia 28 de outubro, no Rio de Janeiro.
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Rodolfo Lago – Congresso em Foco