Elite 'higienizada' quer remover abrigo para pobres; promotor considera 'ato de nazismo'
Publicado em 14 Out, 2011 às 19h10
Residentes da região negam que haja preconceito com os moradores do abrigo, mas os querem bem distantes. Medo de se ‘sujarem’?
Higienópolis faz escola em SP |
Em um pedido com 1,2 mil assinaturas levado ao Ministério Público Estadual (MPE) no dia 29, moradores de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, tentavam impedir que um albergue para moradores de rua no bairro fosse transferido para uma área da Rua Cardeal Arcoverde. Mas o efeito foi inverso. Ontem, o promotor Maurício Antonio Ribeiro Lopes comparou a iniciativa às tomadas na Alemanha nazista.
Lopes indeferiu o pedido e enviou os nomes de seis síndicos que assinaram a petição para a Delegacia de Polícia Especializada em Crimes Raciais de Delitos de Intolerância (Decradi). Todos serão alvo de inquérito por intolerância social, prevista na Constituição (art. 5.º, inciso 41).
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“É de provocar inveja a qualquer higienista social do Terceiro Reich a demonstração de tal insensibilidade. A ideia – ou que ocupa o que deveria ser o seu lugar – associando pobreza e criminalidade e violência não tem guarida teórica e ética”, escreveu. “Esse pedido é muito revoltante”, disse ele.
O abaixo-assinado foi organizado por comerciantes e moradores de Pinheiros e se posiciona contra a mudança do albergue Cor da Prefeitura que hoje funciona no número 1.968 da Rua Cardeal Arcoverde, mas está prestes a ser transferido ao 3.041 da mesma rua – um trecho mais nobre e residencial, entre as Ruas Simão Álvares e Deputado Lacerda Franco. O local oferece melhores condições para o funcionamento do centro e tem mais quartos, segundo o governo municipal.
Mas, segundo o que os vizinhos do novo endereço relataram ao MPE no pedido de intervenção contra o albergue, “o comércio possivelmente não vai sobreviver, uma vez que a população local será acuada em suas residências e os visitantes de outros bairros vão nos trocar por centros comerciais mais tranquilos”. Eles também reclamam de constantes ataques de cachorros de moradores de rua contra “crianças e idosos”. Até um boletim de ocorrência de 2006 com um desses supostos ataques foi anexado no abaixo-assinado.
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Ana Arlene Carvalho, relações públicas e síndica de um prédio do bairro, reagiu com indignação à comparação feita pelo promotor. “Então bota os sem-teto na porta da casa dele. Será que ele aceita?” Ela negou que exista preconceito contra os sem-teto e afirmou que colabora frequentemente com um albergue da região do Brás, no centro.
Carta do promotor:
Diego Zanchetta e Rodrigo Burgarelli – Jornal O Estado de S.Paulo