Entenda o movimento que sacode Wall Street, falida bolha da prosperidade
Protestos contra a ganância corporativa do sistema capitalista entra na terceira semana |
Mal terminou o discurso em um evento promovido por uma organização de direitos dos gays, em Washington, Obama se apressou em buscar sua Michelle, que o esperava prontinha na porta de casa, para levá-la ao luxuoso restaurante Eva, em Alexandria, Virginia, a sete milhas da Casa Branca.
O preço médio do Eva – um restaurante exclusivo, para apenas 34 pessoas – é de 150 dólares por cabeça. Caro para nós, pobres mortais, mas não para o presidente dos EUA.
Feliz da vida, Michelle disse que o segredo da longevidade do casamento é rir e não levar as coisas muito a sério em casa.
No mesmo sábado em que o presidente e a mulher comiam lagosta do Maine, 700 pessoas eram presas em Nova York no protesto chamado “Occupy Wall Street” (Ocupar Wall Street), que está entrando em sua terceira semana.
Os manifestantes, que protestam contra a ganância do sistema financeiro e a acumulação da riqueza nas mãos de poucos, resolveram marchar sobre a Ponte do Brooklin. A marcha ia bem até que os manifestantes fecharam a ponte ao tráfego, provocando a intervenção da polícia que efetuou centenas de prisões.
O objetivo dos ativistas é ocupar a área sul de Manhattan, onde está a famosa Wall Street, com 20 mil pessoas. Todos estão dormindo nas ruas e prometem ficar acampados durante meses, se for preciso.
Depois de vários enfrentamentos com a polícia, um dos líderes do movimento destacou que “este não é um protesto contra a polícia de Nova York. É um protesto de 99% da população contra o poder desproporcional de 1% que controla 50% da riqueza do país”. E incentivou a polícia a juntar-se aos manifestantes.
Da desorganização inicial e da sabotagem da mídia tradicional, o movimento ganhou força a cada dia. Conquistou o apoio de artistas e intelectuais de pensamento progressista, como o cineasta Michael Moore e a atriz Susan Sarandon. Já tem até um jornalzinho, o `The Occupied Wall Street Journal` .
O curioso é que o movimento – que hoje se espalha por cidades importantes, como Chicago e Boston – não é aparentemente partidário ou especificamente contra o governo Obama. A raiva dos manifestantes, a maioria jovem, é contra o sistema que socorre bancos, enquanto faz vistas grossas para o crescimento da pobreza, como provam os números do Censo. O povão está nas ruas pedindo que “não alimentem os bancos” e “taxem os ricos”.
Até agora a classe política prefere ignorar o movimento. Os republicanos se desgastam em debates televisivos para definir os nomes dos que serão levados à Convenção do partido que vai escolher o adversário de Obama no ano que vem. E este, com poucas chances de tirar a economia do buraco em que se encontra, tenta conquistar o apoio da classe média, dos pobres e das minorias.
Mas voltando à ocupação de Wall Street, cá pra nós, creio que nem o mais empedernido comunista do século passado poderia imaginar que surgiria uma revolta contra o sistema capitalista de distribuição da riqueza dentro dos Estados Unidos, melhor ainda, em Wall Street, o templo da ganância, da especulação e do desprezível capitalismo selvagem.
Agora, é aguardar os próximos passos do movimento e até onde vai sua força.
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