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Quem chorou quando o Brasil barrou a importação da identidade norte-americana

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Luis Soares, Pragmatismo Político 

A identidade do norte rejeitamos em nome do bom senso, da soberania, da literatura, da miscigenação, da cultura brasileira. Infelizmente nem sempre é, ou foi, assim

Quem tem saudades do servilismo?
Apesar da esforçada camuflagem, nunca foi segredo a maneira debochada com a qual tratavam o então presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso lá fora. Os próprios correligionários do ex-presidente hoje sabem disso, sobretudo quando traçam um comparativo ao refletirem intimamente acerca dos oito anos de Lula à frente da nação, muito embora por estratégia não assumam (nem devam). A verdade é que FHC nunca conseguiu transpor a imagem de um cão domesticado, com rabo permanente entre as pernas e o latido impossibilitado pela subserviência. Criou-se a estreita noção de inferioridade diante de um suposto antro maioral. O papel, acreditem, não era pouco vexaminoso.

Seriam melhores em tudo, os do norte? Quem dera, no entanto, fossem os do norte verde e amarelo. O que não é o caso.


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Uma pena, mas os de cima sobre quem nos referimos são aqueles responsáveis por financiar ditaduras em toda a América Latina durante o século anterior. Exceção feita a Cuba, não rendida aos caprichos delineados pelos donos do mundo, quando do povo organizado emergiu a luta armada para de lá extirpar quem não os representava, Fulgêncio Batista, este, sim, abraçado aos do norte e cumprindo interesses alheios à população.

Mas eis que hoje, os do norte, uma vez admirados e invejados, inclusive por uma parcela considerável da sociedade brasileira, adentraram num escuro túnel, com profundidade desconhecida e mantimentos limitados para sobrevivência. A famigerada bolha gananciosa que revelou a chave do sucesso com a fórmula do lucro sobre lucro, somado à execração humana através da pulverização dos mais fracos, sofre ataque orquestrado de dentro… para dentro. Logo eles, os do norte, tão acostumados às sucessivas ofensivas de dentro… para fora.

Diferente de outrora, os do norte, da América do Norte, agora nem mesmo a nós, latino-americanos, podem recorrer. 

Sabem quando a geladeira repentinamente esvazia-se, não importando a razão, e num impulso de emergência nos viramos ao quintal para fazer uma reposição ainda que temporária? Esse quintal não mais existe. Goste-se ou não de Lula; concorde-se ou não com as ações do seu governo após os oito anos conclusos, mas um ponto haveria de ser consensual: ele encabeçou, com a reconhecida colaboração de outras lideranças da América Latina, a justa virada de mesa capaz de desprender-nos de uma colonização velada, mas ainda presente. O esforço para o fortalecimento do Mercosul e a luta por identidade própria são metas realizadas, indignas de contestação.  
Infelizmente o consenso não veio, diferente da contestação. Ficaram inconformados, em prantos, aqueles tantos, ou nem tantos assim, adaptados a falar, como diria Chico Buarque, grosso com a Bolívia e fino com Washington. Aqueles para quem o gari ou a doméstica merecem repreensão ou humilhação apenas pela razão de ser. O turista do norte, ao contrário, todas as reverências. E, curiosamente, esses mesmos inconformados dão de ombros caso sejam destratados enquanto se aventuram em compras e passeios no território do tio sam. Soa estranho, mas o orgulho, aí, reside exatamente na condição de colonizado.

Na tv aberta brasileira ainda é difícil detectar todo esse campo minado. Só que para a tv aberta brasileira damos colher de chá. Eles, além de quaisquer outros, cumprem função compatível a de uma torcida organizada. Ou melhor, a de um fã clube, de quando depara-se com o ídolo em ocasião embaraçosa, acometido por um delito, e nem por isso caminhar ao lado torna a ser empecilho. 

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A identidade norte-americana rejeitamos em nome do bom senso, da soberania, da literatura, da miscigenação, da cultura brasileira e porque sim, diferente do que sugeriu Obama em sua última campanha eleitoral (eles não puderam), nós podemos!
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