Pacientes de câncer no SUS comentam tratamento de Lula e desmascaram oportunistas
Ao contrário do que dizem os palpiteiros, todos os pacientes com câncer que recebem tratamento pelo SUS no Instituto do Câncer (Icesp) afirmam que Lula poderia, sim, receber tratamento bastante digno no hospital, que é referência nacional em oncologia
A divulgação de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi diagnosticado com um tumor na laringe e começou poucos dias depois o tratamento no hospital particular Sírio-Libanês, em São Paulo, fez com que muitos críticos o atacassem, sugerindo que deveria usar o atendimento público de saúde, o SUS. Em redes sociais como o Facebook e o Twitter, o tema gerou discussões e forte polêmica e questionamentos sobre a qualidade do serviço público. O assunto chegou a se tornar um dos mais populares no Twitter.
Para pacientes com câncer que recebem tratamento pelo SUS no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), o debate não faz tanto sentido, e Lula poderia, sim, receber tratamento no hospital, que é referência nacional em oncologia.
Os 12 pacientes ouvidos elogiaram o Icesp, e alguns chegaram até a indicar o tratamento público para o ex-presidente.
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“Lula poderia vir aqui sem problemas”, disse Valdenor Pereira, que passava por tratamento de acupuntura para aliviar dores. “Se eu fosse milionária, talvez fosse para um hospital particular também, mas o atendimento aqui é muito completo, muito atencioso”, disse a paciente Julieta Aparecida, que passa por tratamento de reabilitação. “Eu me sinto muito segura”, complementou.
O atendimento ali “é irrepreensível”, segundo Eros Grigolli, paciente de câncer no fígado que fazia quimioterapia. “É o melhor serviço público que já vi. Recomendaria para Lula”, disse. O paciente Juscelino dos Santos, também da quimioterapia, tinha opinião parecida. “Aqui é um bom lugar”, disse.
Grigolli e Santos concederam entrevista em uma sala para pacientes receberem quimioterapia, onde oito pessoas são tratadas simultaneamente. Em todas as áreas do hospital visitadas, os pacientes recebiam atendimento em ambientes coletivos, sem tanta privacidade quanto se pode ter em um hospital particular. “A única diferença entre os dois hospitais é que o particular tem tratamento de hotel”, disse um funcionário que não quis se identificar.
Para a coordenadora de Oncologia Clínica do Icesp, Maria Del Pilar Esteves, caso Lula tivesse optado por ser tratado pelo SUS, “ele teria as mesmas chances” de recuperação que tem no tratamento pelo Sírio-Libanês. “Nossos recursos são comparáveis”, disse a médica.
Referência pública
O Icesp foi inaugurado em maio de 2008, após o investimento de R$ 270 milhões em obras e equipamentos, como o maior hospital especializado em câncer da América Latina. Todos os anos, cerca de 14 mil novos pacientes com a doença são tratados no hospital. Em média, 6 mil pessoas recebem atendimento mensalmente no local, que funciona em um prédio com 28 andares.
A equipe de reportagem acompanhou a chegada de pacientes, a passagem por diagnósticos por tomografia, o tratamento com quimioterapia e a reabilitação, onde os doentes fazem fisioterapia e recebem outros cuidados para poderem ter uma vida normal após o câncer.
Segundo Esteves, todo o atendimento oferecido ali é pago pelo SUS, sem custo para os pacientes. “Temos atendimento completo para os principais tipos de câncer, incluindo o de laringe”, explicou. Segundo ela, o Icesp oferece atendimento completo, desde o diagnóstico de pacientes indicados a ele pela rede pública.
Segundo a médica, o Icesp realiza pesquisas regulares sobre o câncer e costuma perceber que seus dados relacionados aos resultados nos tratamentos de pacientes são equivalentes ao de hospitais do resto do mundo. A comparação levaria a crer que as chances de cura de um paciente, como o ex-presidente, são as mesmas de outros hospitais.
Ela explicou que não há uma estatística específica de tratamento de câncer de laringe no hospital. Tumores nesta parte do corpo respondem por cerca 2% dos casos de câncer registrados no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), que estima um total de 9.320 casos por ano em todo o país.
Durante a visita da reportagem ao hospital público, foi possível conversar com pacientes que fazem quimioterapia e reabilitação, mas não havia nenhum recebendo tratamento para câncer na laringe. O hospital oferece tratamento com fonoaudióloga como parte da reabilitação de pacientes que têm perdas na voz por conta de câncer na laringe.
Gastos públicos
O Ministério da Saúde anunciou na segunda-feira (31), mesmo dia em que o ex-presidente se internou para dar início ao tratamento de quimioterapia, que o SUS vai aumentar em 22% os recursos para assistência a pacientes com câncer no país, atingindo R$ 2,2 bilhões no ano.
Segundo o ministério, o aumento deve ampliar e qualificar a assistência aos pacientes do SUS para os tipos mais frequentes de câncer: fígado, mama, linfoma e leucemia aguda. A projeção do governo é de chegar a 27,8 milhões de procedimentos médicos de oncologia no ano, sendo 94 mil cirurgias.
A doutora Esteves, médica no Instituto do câncer de SP, disse não poder afirmar que o tratamento do hospital em que ela trabalha é equivalente ao atendimento público oferecido no resto do Brasil. “O país é muito heterogêneo”, disse.
Segundo o Ministério da Saúde, todos os 26 estados e o Distrito Federal têm pelo menos um hospital habilitado para tratamentos em oncologia. O SUS, diz o governo, conta com 276 serviços especializados em tratamento de câncer, e estima-se que 490 mil novos casos tenham sido registrados no ano passado.
Preconceito e detecção
Durante o anúncio dos gastos do governo com o tratamento de câncer, o ministro Alexandre Padilha alegou ser importante superar o preconceito que existe com a doença. “O câncer tem cura”, disse Padilha.
Para a doutora Esteves, do Icesp, a visibilidade do tumor do ex-presidente Lula pode servir para divulgar melhor os tratamentos que existem contra o câncer e incentivar as pessoas a buscarem a detecção precoce de tumores. “O caso de Lula pode levar mais gente à clínica”, disse, mencionando que é importante estar atento aos sintomas desde o princípio – e explicando que não há risco de excesso de pacientes procurarem o hospital sem necessidade.
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Segundo o Inca, a detecção precoce do câncer de laringe, com atenção a sintomas (como rouquidão excessiva e dores persistentes na garganta) e comportamentos de risco (como fumar), é importante para garantir um tratamento eficaz contra os tumores.