Ex-chefão global detona Twitter e Facebook, mas esquece das mazelas platinadas
Um sujeito que pautou as suas relações de poder com base na manutenção de um monopólio tratado em bastidores, a sete chaves e com roteiro digno das principais películas mafiosas não pode mesmo ser simpático às redes sociais
Diz-se que a maioria dos seres humanos é capaz de (quase) qualquer coisa para saciar o próprio ego e alcançar objetivos individuais. A veracidade dessa máxima não pode ser comprovada, mas o ex-diretor geral da Rede Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, é a prova viva de que o ditado não é de todo descartável, pois se aplica a ele próprio.
Nas últimas semanas, Boni recebe holofotes na mesma intensidade com que a emissora na qual trabalhou ascendeu nos períodos áureos da ditadura militar. Objetivando divulgar o seu livro, foi capaz até de assumir publicamente, após 22 anos, que a Globo influenciou diretamente o eleitorado nas eleições de 1989 para prejudicar Lula e eleger Collor.
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Agora, não menos estrategicamente e em mais uma jogada de marketing, adota as redes sociais como alvo principal. Disse ele, essa semana, durante entrevista ao programa Roda Viva, da Tv Cultura: “Eu acho que Twitter e Facebook se chamam suicídio coletivo. Eu não uso. Quando você fala em redes rociais, você leva um susto com a baixa qualidade do que se fala no Facebook, por exemplo.”
Um sujeito que pautou as suas relações de poder com base na manutenção de um monopólio tratado em bastidores, a sete chaves e com roteiro digno das principais películas mafiosas não pode mesmo ser simpático às redes sociais.
Comunicação tradicional x Novas mídias
O papel das mídias sociais é essencialmente o de contribuir para a democratização da informação, coisa que não interessa a quem vive e acumula renda aproveitando-se da vulnerabilidade do senso comum. A comunicação alternativa, portanto, incomoda tanto por essa sua capacidade de contrapor um modelo que é imposto de cima para baixo.
Encontra-se de tudo – e isso é de uma verdade óbvia – num ambiente extremamente heterogêneo como é o das redes sociais: de conteúdos desprezíveis à enriquecedores; só que o mesmo não se aplica à Tv Brasileira, e mais especificamente à Globo. A diferença fundamental é que tudo na rede mundial de computadores pode ser filtrado, de modo que o cidadão detém o poder de selecionar o conteúdo que deseja consumir, e, ainda mais importante, deixa de ser agente passivo e torna-se partícipe, almejando projeção em um mundo que exige cada vez mais o embate de opiniões e ideias para dar continuidade à sua marcha evolutiva.
Blogueiro Mosquito e ‘Privataria Tucana’ revelam a força das redes sociais
Para ficar em acontecimentos recentes, a estranha morte de Amilton Alexandre, o blogueiro Mosquito, responsável por descobrir e denunciar o estupro envolvendo o filho de um diretor da RBS (afiliada da Globo), mereceu o silêncio dos grandes conglomerados de mídia nacionais. O trabalho de divulgação realizado nos blogs alternativos impediu que o caso caísse em total esquecimento (esquecimento gera descrédito), e só em Pragmatismo Político o caso gerou ao site mais de 140 mil visitas em apenas dois dias, como podem ver aqui.
Outro exemplo de significância desmedida é ‘A Privataria Tucana’, livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr. e que, graças à justa atenção recebida pelo Twitter, Facebook, Blogs e outros veículos afins (jamais da mídia mercadológica), alcançou patamares inicialmente inimagináveis e servirá, inclusive, como alicerce para a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Congresso Nacional.
Nivelar por baixo para fazer sucesso (a verdadeira baixa qualidade)
Em outra recente entrevista concedida ao programa Jô Soares, Boni afirma que a Globo utiliza da prática do nivelamento rasteiro da sua grade de programação com o intuito de alavancar a audiência. A alquimia do sucesso, de acordo com o ex-diretor global, é exatamente essa: nivela-se o conteúdo por baixo para manter a audiência em cima. Assim, segundo ele, a Rede Globo rejeitou ao longo da história propostas interessantes, intuitivas, educativas e de conteúdo elucidativo, pela mera (e mesquinha) impossibilidade de tornarem-se campeões de audiência.
Não é por acaso que Boninho, o filho de Boni, dirige um programa que é um dos carros-chefes da emissora na contemporaneidade: o deplorável Big Brother Brasil.
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Na Tv, Boni dirigiu projetos que foram sucessos de audiência. E ninguém se iluda: Boni não desistiu da audiência, mas continua perseguindo-a em outro gênero; quer agora ser um best-seller. Não é um homem de princípios, mas de ibope.
Por Luis Soares, Pragmatismo Político