O pequeno-GRANDE livro tem mais credibilidade que a grande-PEQUENA imprensa?
Imprensa grande silencia diante dos mais cabeludos, escabrosos e rentáveis crimes da história republicana brasileira
Nada como uma imprensa rigorosamente livre, até praticamente irresponsável no exercício dessa liberdade, para investigar os desmandos praticados à surdina na administração pública, notadamente aqueles patrocinados pelos políticos brasileiros. Aliás, somos cracks (ops, craques) no chamado jornalismo investigativo. Daí que quando se fala em definir alguma regulamentação para a liberdade de imprensa, sou contra. Afinal, embora essa regulação exista nos países mais avançados do mundo (inclusive no idolatrado EUA), para que regular aqui, onde há um primor de imparcialidade e honestidade?
Veja-se, por exemplo, o caso do ex-ministro Orlando Silva. O negro, nordestino e comunista Orlando foi defenestrado do Ministério dos Esportes porque um policial militar resolveu vomitar tudo o que sabia (sabia?) a respeito de certas falcatruas atribuídas ao referido baiano. Naturalmente pouco importaria que o ministro houvesse afastado o sujeito, há mais de ano, do programa Segundo Tempo do Ministério, exatamente sob a suspeita de corrupção, e em face disto estivesse sendo criminalmente processado. Não importaria. E sabe por quê? Porque além dos políticos da oposição, nossa arguta e percuciente imprensa grande o ouviu, deu destaque irretocável à denúncia que realizou, e não deixou de tocar no assunto um só dia. As provas: bem, qual a melhor das provas se não o “testemunho” de alguém de probidade inquestionável como o aludido senhor?
E quanto ao Ministro? Ora, limitou-se a negar — veementemente, vá lá — e a bater na tecla, sempre que lhe era possível fazê-lo, de que não havia provas da prática que lhe era imputada e de que jamais haveria, porque tais fatos nunca ocorreram. Ora, ora, ora… Assim é muito bom!… Quero ver provar que é inocente! Ainda bem que para a nossa imprensa grande este é um dogma inquebrantável. Como? A Constituição do país diz que é o contrário? Emende-se-a, rápido!
E agora eis que chega ao mercado editorial um longo e minudente trabalho de pesquisa intitulado A Privataria Tucana, onde denunciados os mais cabeludos, escabrosos e rentáveis crimes da história republicana brasileira, fartamente documentado, segundo dizem. Justamente o resultado do tal do jornalismo investigativo. Aliás, o livro já é um fenômeno de vendas. Só estou estranhando o silêncio da imprensa grande sobre esse misto de fenômeno editorial e cavalar denúncia (documentada!) de corrupção. Mas pensando bem, ela também não é perfeita, né? Vamos aguardar. Num tacapeste…
Por (*)André Falcão, colaborador de Pragmatismo Político
André Falcão é advogado, escritor e editor do Blog do André Falcão. Escreve coluna quinzenal em Pragmatismo Político.