Após 9 dias de greve de fome em frente à Globo, Pedro Rios resiste bravamente
“Quanto mais me batem, e quanto mais silêncio oficial, mais p. eu fico. Greve de fome: Dia 9 – 58 kgs”
Em seu décimo dia na greve de fome que realiza em protesto contra a violência no Pinheirinho, assentamento invadido violentamente pela Polícia Militar paulista em São José dos Campos, Pedro Rios Leão acordou nesta segunda-feira sob o sol escaldante da Rua Von Martius, em frente à sede da TV Globo, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio. Na noite anterior, agentes da Guarda Municipal do Rio de Janeiro retiraram o toldo que amigos haviam levado para protegê-lo do tempo, ainda que precariamente. Desmobilizaram o grupo de apoio que o acompanhava na vigília por um país mais justo. Deixaram-no algemado à realidade do verão implacável, após mais uma noite insone, debilitado pela absoluta falta de alimento, cansado de enfrentar sozinho o silêncio da mídia conservadora.
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Engana-se, porém, a autoridade que deu o caso por encerrado. Pedro Rios seguirá em seu protesto até a manifestação dos Policiais Militares e do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio, nesta quinta-feira, na Cinelândia.
“Pessoal, ontem a guarda municipal gentilmente atendeu a pedidos e chegou para nos remover. Depois de puxar cacetete, ameaçar muito nos agredir, resolveram só nos deixar ao relento. Se eu fosse preto e da Zona Norte (do Rio), eles não teriam sequer dado um ‘oi’. Na confusão perdi meu celular e algumas outras coisas. O acampamento ficou desbaratado e os ânimos devastados. No sol, e no pior ponto da greve, eu comecei a passar muito mal”, relatou, em sua página no Facebook.
Pedro está agora abrigado em seu apartamento, em Botafogo, distante poucos quilômetros da sede do poder midiático ainda em vigor no país, contra o qual ele iniciou a sua cruzada. Simpatizantes chegam à toda hora para prestar a solidariedade devida a quem, em nome das 1,6 mil famílias injustiçadas por uma ação policial no Estado vizinho, segue em frente no sacrifício voluntário da fome. Em Paris, na tarde deste domingo, um grupo de brasileiros também rendeu homenagens aos moradores do Pinheirinho e a Pedro Rios.
Ainda no fim de semana, as embaixadas brasileiras na Argentina, França e Chile converteram-se em palco de manifestações contra os atos promovidos por governos do PSDB tanto na prefeitura de São José dos Campos quanto no governo do Estado de São Paulo. Por ordem dos políticos tucanos, ocorreu o despejo mais violento de que o país tem notícia nas últimas décadas, com mais de 6 mil pessoas sem ter para onde ir, abrigados em escola, igreja e ginásio de esportes.
Em frente à representação diplomática do Brasil na Alemanha, Argentina e França, estrangeiros e imigrantes brasileiros pediram justiça e manifestaram solidariedade aos desalojados sob cassetetes e tiros em Pinheirinho, no 22 de janeiro. No último sábado, apesar do frio polar, 50 manifestantes chamaram a atenção dos que passavam pela embaixada brasileira em Paris. Número equivalente de brasileiros residentes em Berlim também se manifestou em apoio aos moradores da comunidade sob o lema: Todos somos Pinheirinho, com faixas de apoio também à greve de fome de Pedro Rios.
Sob o mesmo lema, na Argentina, 30 pessoas pediram justiça para o caso enquanto caminhavam do Obelisco até a embaixada do Brasil na capital portenha. Trinta pessoas, também, com o mesmo objetivo se reuniram na Praça Los Heroes, sede da nossa representação diplomática no Chile. O registro de violência e autoritarismo do poder público, perpetrados em Pinheirinho no fim de janeiro, atravessou fronteiras. As imagens foram gravadas no calor da hora pelos próprios moradores e por líderes de movimentos sociais Ganharam mais visibilidade, ainda, quando a urbanista Raquel Rolnik, relatora das Nações Unidas para o direito à Habitação, denunciou a violação aos direitos humanos para o mundo.
“Quanto mais me batem, e quanto mais silêncio oficial, mais p. eu fico. Greve de fome: Dia 9 – 58 kgs”, conclui Pedro Rios, em sua mensagem aos brasileiros.
Correio do Brasil