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Marie estava doente e tinha 13 anos quando foi estuprada por um padre

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Marie disse ter ficado confusa, porque “as mãos que abusavam do meu corpo à noite eram as mesmas que me ofereciam a sagrada hóstia na manhã seguinte”

Igreja não puniu padre que abusou de Marie

A irlandesa Marie Collins (foto), 65, aos 13 anos de idade teve de ser internada em um hospital. Era a primeira vez que ficava longe de sua família. Quando o padre do hospital apareceu à noite para rezar e ler a Bíblia, ela se tranquilizou um pouco. Mas então foi submetida a um trauma que abalou a sua vida para sempre. O padre a estuprou.

Acompanhada de um psiquiatra, Marie contou o seu drama nesta terça-feira (7) na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, em um simpósio para discutir a pedofilia na Igreja Católica promovido pelo Vaticano.

Marie disse que, antes do estupro, o padre a tocou e fotografou o seu corpo. Quando ela insistiu em recusá-lo, ele disse que “era um padre e que nada o que fazia podia ser considerado como errado”.

Marie disse ter ficado confusa, porque “as mãos que abusavam do meu corpo à noite eram as mesmas que me ofereciam a sagrada hóstia na manhã seguinte”.

Anos depois, ela soube que, após ter obtido alta, o hospital descobrira que o padre “era um especialista em abusar das crianças internadas” e que a única “punição” da Igreja foi transferi-lo de paróquia.

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Contou que por um bom tempo achava que a culpa era dela, e não do padre violentador. “Eu me afastei da minha família e amigos, evitava o contato com eles porque estava convencida de que eu era uma pessoa má.”

Casou-se aos 29 anos, mas psicologicamente continuava destroçada. Mal conseguia cuidar do filho. Adquiriu a síndrome de pânico e se enfurnou em casa.

Aos 47 anos, falou pela primeira vez sobre o abuso ao seu médico, que lhe recomendou que denunciasse o padre. Ela procurou o sacerdote de sua paróquia e sentiu como se estivesse sido violentada pela segunda vez.

Além de não revelar o nome do abusador, o sacerdote disse que a responsabilidade de tudo que tinha ocorrido podia ser dela. “Essa resposta me destroçou e fez com que ressurgissem os sentimentos de culpa e de vergonha”, disse. Marie ficou mais dez anos sem tocar no assunto. Nesse período, teve de ser internada várias vezes por causa de sua depressão.

Mais recentemente, quando os casos de padres pedófilos vieram à tona na Irlanda e em outros países, ela tomou coragem para denunciar de novo o violentador. Disse ter ficado preocupada com a possibilidade de o tarado ter continuado a atacar as crianças.

Ela escreveu uma carta ao arcebispo de sua diocese contando tudo, mas a resposta demorou em chegar. E só chegou porque Marie estava disposta a tornar o caso público, independentemente do que a Igreja pudesse ou não decidir.

A suspeita dela se confirmou: o padre estuprador estava dando aula de catecismo às crianças. Ele acabou admitindo ser um pedófilo e foi finalmente afastado das atividades clericais.

Simpósio sobre pedofilia na igreja

No simpósio, a bispos e arcebispos de mais 100 países, Marie disse que só sentiu aliviada quando o seu agressor foi levado à Justiça. Mesmo assim, embora tenham se passado 50 anos, ela lembra do abuso todos os dias. “Nunca poderei escapar disso.”

O cardeal William Levada, presidente do simpósio, informou que nos últimos dez anos a Congregação para a Doutrina da Fé recebeu denúncias de mais de quatro mil casos de pedofilia cometidas por padres. Por se tratar de uma informação oficial, é de se supor que os casos tenham sido muito mais.

Marie foi convidada a dar o seu testemunho no simpósio só depois de ter falado à imprensa, entre outras coisas, estar decepcionada com a não resposta de uma carta que enviara ao papa Bento 16.

“O papa culpa a secularização da sociedade irlandesa e a má interpretação da lei canônica, mas ele não assume qualquer responsabilidade pelo papel do Vaticano no encobrimento de abusos’, disse. “Não há o reconhecimento de que se trata de um problema mundial da Igreja.”

Paulopes & Agências