PF gravou 416 conversas entre Demóstenes e Cachoeira. Em depoimentos secretos, delegados das Operações Vegas e Monte Carlo revelaram que Cachoeira e Demóstenes mantinham relação próxima. Parlamentares afirmam que situação de senador goiano está complicada no conselho de ética
Em depoimento ao Conselho de Ética do Senado, os delegados da Polícia Federal Raul Alexandre Marques Souza, responsável pela Operação Vegas, e Matheus Mella Rodrigues, responsável pela Operação Monte Carlo, revelaram que o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) conversou ao telefone 416 vezes com o contraventor Carlinhos Cachoeira no período das investigações, segundo informou o senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP). Para os integrantes do Conselho de Ética, os depoimentos dos delegados reforçaram as convicções sobre a intimidade das relações entre Demóstenes e Cachoeira. Em algumas conversas, inclusive, foram mecionadas remessas de dinheiro do bicheiro para o senador. A reunião do colegiado com os delegados foi realizada em sigilo.
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“Ao todo são 416 [diálogos], sendo 63 diálogos na operação Vegas e o restante ocorreu na operação Monte Carlo. Existem mais 25 diálogos entre o senador e outros citados membros da suposta organização criminosa, mais uma centena de diálogos onde é citada a participação do senador. A soma das duas operações é de 416 diálogos”, afirmou Randolfe ao sair da reunião.
Em uma das conversas, Gleyb Ferreira da Cruz, tesoureiro da suposta organização criminosa, afirma que estava no prédio do apartamento de Demóstenes esperando o senador para entregar R$ 20 mil a ele. Em outra conversa, Cachoeira conversa com Cláudio Abreu, diretor que está afastado da Delta Construções, e negocia com ele a entrega de R$ 1 milhão ao senador.
Segundo os senadores que participaram da reunião, os delegados negaram que Demóstenes tenha sido alvo das investigações e disseram que, por ser citado indiretamente por investigados da polícia, o senador acabou sendo gravado pelas escutas. Eles disseram ainda que as informações prestadas pelos delegados são baseadas apenas nas interceptações telefônicas da Polícia Federal gravadas durante as duas operações.
Atuação na quadrilha
Randolfe afirmou ainda que não mais dúvidas de que Demóstenes agiu em prol de Cachoeira utilizando seu mandato parlamentar. “O que vimos aqui hoje é que ele [Demóstenes] teve uma atuação junto da organização, de membro da organização. [O depoimento] oficializou confirmações que já tínhamos pelo conjunto de dados de que já dispúnhamos, que são, algumas, inclusive de conhecimento público”, disse. O relator do processo no Conselho, senador Humberto Costa (PT-PE), também afirmou que não há mais dúvidas de que Cachoeira agia na defesa dos interesses da organização chefiada por Cachoeira em órgãos públicos.
Para Randolfe,as explicações dos delegados deixam claro o envolvimento de Demóstenes com Cachoeira. “Acho que até a própria defesa está convencida disso, visto que a argumentação e atuação da defesa tem se pautado única e exclusivamente pelo debate da forma, pela necessidade de anular a investigação tentando falar que um senador da República, em virtude de ter foro privilegiado, não poderia ser investigado. Ou seja, ele se refere à forma, mas aqui, o Conselho de Ética trata do decoro parlamentar e não nos cabe avaliar essa forma, e sim o mérito, que para mim, cada vez mais, confirma os dados da quebra de decoro por parte do senador”, disse.
O senador também contou que os delegados estavam mais retraídos durante os depoimentos desta terça-feira (15), em relação às oitivas realizadas pela CPI mista. “Senti que eles estavam mais reservados ainda, pois todas as suas falas foram olhando para os processos”, afirmou.
O colegiado investiga se houve quebra de decoro parlamentar por parte do senador goiano que afirmou ter apenas relações pessoais com o bicheiro, mas segundo informações da Polícia Federal, há indícios de que Demóstenes utilizou seu mandato para favorecer interesses de Cachoeira, preso desde fevereiro pela Operação Monte Carlo.
O advogado de Demóstenes, Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, tenta anular no Supremo Tribunal Federal (STF) as escutas telefônicas realizadas pela Polícia Federal, pois afirma que foram feitas de maneira ilegal. Por ter foro privilegiado, o senador só poderia ter sido investigado com autorização do STF. “Tivemos hoje a prova inquestionável de que um senador ficou durante meses sendo investigado de forma ilegal”, afirmou aos jornalistas após a reunião.
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