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Ex-faxineira que virou escritora e professora é destaque na Feira Nacional do Livro

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“É dedo de Deus”, afirmou a escritora Maris Ester de Souza, 47 anos, ex-faxineira que virou professora e hoje coordena um premiado projeto de incentivo à leitura em uma escola estadual na periferia de Ribeirão Preto (SP).

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Maris Ester trabalhou por 14 anos como diarista antes de se tornar professora (Foto: Rodolfo Tiengo)

A mudança radical de vida, que será dividida com o público da 12ª Feira Nacional do Livro durante encontro com autores locais no Centro Cultural Palace, no dia 2, aconteceu quando Maris tinha 31 anos e decidiu voltar a estudar, após trabalhar por 14 anos como diarista, emprego que lhe garantia uma média de R$ 35 por dia de serviço.

Em meio a uma época marcada por depressão e uma rotina de sacrifícios, da condução para o trabalho aos horários apertados para estudar e cuidar dos filhos, Maris conseguiu publicar seu primeiro livro, concluir a faculdade e ficar conhecida pelo programa “Sala de Leitura”, com o qual ganhou o primeiro lugar em um concurso realizado na Feira do Livro em 2011.

O contato da então faxineira com as letras, inicialmente através de um curso supletivo para terminar o ensino médio, reavivou um talento literário guardado por anos. Apesar de ter abandonado cedo a escola para trabalhar, ela nunca deixou de ler. Dos contos de fadas aos textos de Lygia Fagundes Telles e Clarice Lispector, vieram as inspirações para as prosas primeiro rabiscadas em um caderno e depois reunidas em “Nua Para o Criador… Vestida Para a Humanidade”, livro publicado em 2001 com 500 exemplares.

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Eu lia o meu livro para os vizinhos“, se lembra Maris, ao citar a obra lançada dois meses antes da primeira edição da Feira do Livro de Ribeirão, evento em que ela recebeu o conselho de fazer faculdade. A ideia partiu de um desconhecido admirador de seu trabalho como escritora. “Aquele rapaz não sabe como mudou a minha vida”, relata, sobre o fato que a motivou a se matricular em Letras, curso só concluído em 2006, após a ajuda de amigos para pagar as mensalidades.

Com a graduação, outras realizações se concretizaram, como a participação em 17 antologias e sua atuação como professora, o que inclui a experiência de lecionar para detentas na Penitenciária Feminina de Ribeirão Preto durante dois anos. Vivências que aumentaram em Maris a convicção de que a leitura é transformadora e que a levaram a implementar o projeto “Sala de Leitura” com os próprios recursos.

Além do improviso com os alunos, ela teve que lidar com problemas em casa, principalmente com o estado de saúde do marido. “Nessa época ele teve infarto e AVC [Acidente Vascular Cerebral]”, disse.

Diante do que conquistou, Maris pensa na possibilidade de fazer um mestrado e publicar seu segundo livro, “Cartas para Samuel”. Também quer prosseguir com o trabalho de incentivo à leitura para alunos de ensino fundamental e médio. “Quero ajudar os alunos a se descobrirem.”

G1