É um grande alívio. Cinco anos a mais de Sarkozy e começaríamos a perguntar aonde chegaria a França, sobretudo após esses meses de ódio e divisões. É uma imensa felicidade poder vê-los sofrer, admitia Ian Brossard, deputado parisiense pelo Partido Comunista Francês
Enquanto os militantes socialistas já festejavam comemoravam a vitória de François Hollande na Praça da Bastilha, com direito a show do cantor e ex-tenista Yannick Noah, os conservadores da direita choravam, na Praça Mutualité. No entanto, outro importante foco de comemorações ocorreu em Le Lilas, nos arredores de Paris, onde os militantes da Frente de Esquerda, capitaneados por Jean-Luc Mélenchon, celebravam (principalmente) a queda de Nicolas Sarkozy e já começavam a fazer cobranças ao futuro chefe de Estado da França.
“Nós o demitimos”, bradava, exultante, Mélenchon, quarto colocado no primeiro turno com 11% dos votos, o melhor resultado de um partido de esquerda em décadas, logo após a vitória do Partido Socialista, do qual fez parte até 2008, ser anunciada.
“Assim está paga a conta pelo fosso em que se colocaram as conquistas sociais e os serviços públicos de nossa República (…) A derrota da direita e a eleição de François Hollande representam a vitória das exigências agudas que nós exprimimos”, afirmou, enquanto o público gritava “resistência!”. Em seguida, convidou os militantes a se dirigirem à Bastilha para marcar presença.
Leia mais
- Eduardo Galeano lança novo livro e afirma: “Fomos treinados para ter medo de tudo”
- Escritor Fernando Morais dá uma merecida surra em Leandro Narloch
“Muitas das pessoas que se encontram na Bastilha votaram, na verdade, contra Sarkozy. E nosso lugar é ao lado delas.Não vamos comemorar a vitória de Hollande, mas a queda de Sarkozy” explica Laurence Sauvage, secretário nacional do PG (sigla em francês do Partido de Esquerda), uma das legendas que formam a coalizão, a caminho do principal centro de manifestações.
“Após cinco anos de ruptura democrática, o povo finalmente tira Sarkozy do poder. Começa um período de importantes exigências. Devemos ampliar a derrota da direita nas legislativas (que serão disputadas nos dias 10 e 17 de junho) com muitos deputados da Frente de Esquerda. Nada termina esta noite, apenas começa”, afirmou Marie-George Buffett, antiga presidente do PCF (Partido Comunista Francês), principal partido que forma a coligação.
“É um grande alívio. Cinco anos a mais de Sarkozy e começaríamos a perguntar aonde chegaria o país, sobretudo após esses meses de ódio e divisões. É uma imensa felicidade poder vê-los sofrer”, admitia Ian Brossard, deputado parisiense pelo PCF.
Cobranças
Muitos militantes de esquerda fizeram questão, em canções ou cartazes, de lembrar algumas promessas do candidato vencedor e outras exigências, como o salário mínimo a 1.700 euros ou a volta da idade de aposentadorias aos 60 anos (contra os 65 estipulados por Sarkozy).
Muitos membros já falavam em derrubar Hollande nas urnas, após terem feito o mesmo com Sarkozy nas urnas. “O mais importante agora é enviar uma mensagem a Hollande: em seu discurso, entendemos que ele não vai muito além do Tratado de Lisboa e na luta contra o sistema financeiro. Estamos aqui (na Bastilha) para dizer que nós não faremos concessão de nada”, afirmou Fréderique, uma jovem militante do PG.
A Frente de Esquerda não nutre simpatia por Hollande ou pelo Partido Socialista, considerados moderados demais para realizar as mudanças que de fato, acreitariam fazer diferença no país. Mas sempre consideraram a social-democracia do PS um mal menor do que a direita – principalmente quando esta é encabeçada por um político de perfil agressivo como foi Nicolas Sarkozy nos últimos cinco anos.
Opera Mundi