Em 2008, a união de Aécio Neves e Fernando Pimentel (PT) foi anunciada como um marco no debate político brasileiro. Em 2010, o PSDB ignorou Pimentel e fez de Anastasia (PSDB) o governador de Minas. Agora, 4 anos depois da insólita aliança com petistas, Aécio age nos bastidores pela saída do PT da coligação pela reeleição de Lacerda (PSB)
Os petistas mineiros costumam dizer, em tom de elogio pero no mucho, que o ministro Fernando Pimentel é um jogador frio e calculista na hora de fazer política. Por isso mesmo colecionou vitórias dentro do partido: foi prefeito de Belo Horizonte, ajudou a eleger seu sucessor e hoje é o poderoso ministro do Desenvolvimento no governo da amiga Dilma Rousseff. Mas também tem seus dissabores. Os dois maiores vêm do “aliado” Aécio Neves, ex-governador de Minas e atual senador.
Em 2008, os dois foram os protagonistas de uma união que dividiu opiniões no estado mas que, do ponto de vista pragmático, foi vitoriosa: o PT de Pimentel e o PSDB de Aécio apadrinharam um até então desconhecido empresário chamado Marcio Lacerda e fizeram dele o prefeito de Belo Horizonte. A aliança, diziam seus defensores, representaria um “novo patamar” para o debate político brasileiro.
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Para Aécio e o PSDB, o acordo permitiu a entrada dos tucanos na Prefeitura de Belo Horizonte após anos de domínio dos petistas. Para Pimentel e o PT, porém, o resultado não foi assim tão feliz. Em 2010, dois anos depois do acordo, os petistas ficaram a ver navios na eleição para governador. Pimentel, que em tese seria o candidato ao cargo, não emplacou, o PT teve de se contentar com a vice do peemedebista Hélio Costa e assistiu à eleição no primeiro turno de mais um desconhecido “fabricado” por Aécio, o hoje governador Antonio Anastasia.
Agora, Aécio novamente complicou a vida do “aliado” Fernando Pimentel. O senador tucano agiu pesadamente nos bastidores da escolha dos candidatos à prefeitura da capital mineira. Fez chegar a Lacerda e ao PSB a mensagem de que o PSDB abandonaria a aliança pela reeleição do prefeito se houvesse proporcionalidade nas eleições para vereadores. A razão explícita era que que, numa chapa proporcional com petistas, os tucanos elegeriam menos parlamentares. Mas era mais do que isso: Aécio sabia que o PT dificilmente aceitaria passivamente não coligar-se também para o Legislativo.
O ex-governador de Minas fez mais. Também avisou que usaria sua influência junto a partidos menores que fazem parte do “chapão” pró-Lacerda: caso a proporcionalidade para a Câmara Municipal fosse aprovada, essas legendas também abandonariam a composição.
O resultado, como se sabe, foi o e-mail do PSB ao PT informando que sairá sozinho na eleição para vereadores. E a consequente decisão da executiva municipal petista de romper com os socialistas em BH e lançar candidatura própria.
Não era o desfecho dos sonhos de Pimentel. No sábado, dia da convenção petista, o ministro compareceu ao encontro do PSB, saudou a aliança com Lacerda e a união das forças políticas no estado.
Petistas favoráveis à reeleição de Lacerda ainda têm esperanças de revisão da decisão da executiva petista na capital. Independentemente do que vier a ocorrer até quinta-feira (prazo final para o registro oficial das candidaturas), porém, o estrago no PT já foi feito: o partido novamente enfrentará uma eleição em BH rachado. Pimentel, por sua vez, demonstrou não ter tanta força quanto se imaginava dentro do próprio partido. Para reverter isso, o jogador “frio e calculista” precisará de algo mais. E, provavelmente, saberá que não poderá mais contar com a “ajuda” do Aécio Neves.
Brasil 247