Ficha de Chico Buarque revela perseguição implacável da ditadura ao cantor
Documentos liberados à consulta no Arquivo Nacional revelam como militares monitoravam compositor na ditadura
Um dos alvos prediletos da Censura e nome de relevo na contestação à ditadura, Chico Buarque de Hollanda foi monitorado de perto pelos militares. Documentos dos órgãos de informação das Forças Armadas, só agora liberados para consulta pública, dimensionam o tamanho da perseguição: visitas de agentes nos shows, depoimentos forçados e canções censuradas.
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Nos documentos oficiais, Chico aparece como um artista “endeusado”, subversivo e até como um representante da “esquerda festiva”.
Hoje guardados no Arquivo Nacional, os relatórios foram produzidos pelo Serviço Nacional de Informação (SNI) e outros órgãos de inteligência militares. Desde meados de junho, com a Lei de Acesso à Informação, eles estão disponíveis. Há centenas de citações a respeito de Chico Buarque.
No material, consta um depoimento de Chico, de fevereiro de 1978, no Centro de Segurança de Informação da Aeronáutica (Cisa). Ele foi chamado para se explicar sobre uma viagem que havia feito a Cuba naquele período. Disse que no Brasil não há liberdade, pois estava sendo “obrigado a prestar estas declarações em lugar de trabalhar”, que trabalhava cerca de dez horas por dia e que estava perdendo um tempo precioso indo à polícia. E, questionador, acrescentou não saber o que seus interrogadores produziam.
“A partir deste momento, o nominado (Chico Buarque) afirmou, com a voz alterada, que não responderia a mais nenhuma pergunta”, está relatado ao final do documento. Chico escreveu, à mão, no pé de seu depoimento: “Não vou responder mais nada”, e assinou. Escreveu também, do próprio punho, que “no dia 27 de fevereiro de 1978, nas dependências do DPPS, quando estava sendo ouvido, neguei-me a responder às perguntas que me eram formuladas”.
Nos relatórios do SNI, Chico é chamado de “militante” que está no “comando intelectual” de alguns shows daquele período e que toca e canta “Apesar de você”.
O Globo