Sem alojamento, os sem-teto da ocupação Ipiranga ficaram na calçada com suas roupas dentro de sacos de lixo nesta terça-feira (28); no imóvel, antes da ocupação, funcionava um hotel que estava abandonado há mais de sete anos
As 94 famílias sem-teto que ocupavam o prédio da avenida Ipiranga, 908, no centro de São Paulo, foram despejadas na manhã desta terça-feira (28). Com a presença de dezenas de policiais militares prontos para fazer a reintegração de posse, os moradores decidiram sair do prédio pacificamente para evitar confrontos.
Sem ter para onde ir – já que a prefeitura deixou claro aos moradores que não terá alojamento por falta de verba – as famílias, neste momento, estão na calçada com suas roupas em sacos de lixo.
De acordo com o advogado e assessor jurídico do movimento das famílias sem-teto, Manoel Del Rio, havia uma decisão do tribunal de justiça que obrigava a prefeitura a atender as pessoas com pelo menos um alojamento provisório, mas que nada foi apresentado efetivamente.
“Eles estão descumprindo a decisão do tribunal. Pode até cumprir a liminar da reintegração de posse, mas desde que atendam as famílias em alojamento”, ressalta.
O coordenador da Frente de Luta Por Moradia (FLM), Osmar Silva Borges, também afirma que as famílias deveriam ser alojadas até a decisão do tribunal. “Até agora não foi oferecido nenhum tipo de alojamento, o que existe é um arrolamento das famílias que foi feito ontem (27) até as dez da noite, mas não tem até agora nenhuma oferta de um local para as famílias ficarem alojadas”, aponta.
Porém, o major operador do 7º Batalhão da Polícia Militar, Edenilson Accarini, disse que o direito de moradia tinha que ser tratado num processo judicial, e que não era autoridade para decidir isso. Accarini ainda falou que no processo não está incluído o alojamento, por isso, considera o assunto “mais do que esgotado”.
“O problema do alojamento não é da Polícia Militar e também não sei se seria da Prefeitura, porque se a Prefeitura não foi intimada a cumprir essa parte, ela não tem obrigação nenhuma”, salienta o major.
Neste imóvel em que as famílias moravam, antes, funcionava um hotel que estava abandonado há mais de sete anos. Quando ocuparam, no dia 6 de novembro de 2011, o prédio estava sujo, sem esgoto, sem água e sem luz, conforme afirmou a coordenadora da ocupação, Maria do Planalto. “Estamos há 10 meses neste prédio. Se hoje ele tem esgoto, água e luz é porque nós mesmos reformamos tudo”, conta.
Com lágrimas e sem rumo
Com lágrimas nos olhos, os moradores, após uma rápida assembleia, decidiram sair pacificamente do prédio. Coordenadores, advogados e a imprensa participaram também da reunião.
Silmara, ex-moradora do apartamento 132, disse que não tem para onde ir. Estudante de enfermagem da Uniesp, ela estava no prédio desde o início da ocupação, junto com seu cunhado e sua a mãe. “Muitos aqui fazem faculdade e a maioria trabalha. Agora, estamos sem rumo”, lamenta.
Reportagem do sítio Brasil de Fato conversou com vários moradores, e todos afirmaram que não querem nada de graça. “Nós queremos pagar, nós só queremos ter o direito de moradia.”
Ivanildo Mendes, 40, que morava com a esposa e mais dois casais, disse também que irá ficar na rua.
“Eu trabalho de jardineiro, não tenho condições de pagar um aluguel. Nós só queremos ter o direito de moradia”, disse em prantos.
Até o fechamento da matéria, as mais de 90 famílias, incluindo 78 crianças e diversos idosos, ainda estavam na calçada com suas roupas dentro de sacos de lixo. Ninguém da Prefeitura estava presente para comentar o caso.
José Francisco Neto, Brasil de Fato