Ideb: Melhor escola pública do Brasil pelo 3º ano seguido é do Recife
Colégio de Aplicação da UFPE, no Recife, tira nota mais alta do Brasil no Ideb pela 3ª vez. Professores com mestrado e doutorado estão entre os diferenciais. Alunos têm mais liberdade – e também mais responsabilidades na escola
Pelo terceiro ano consecutivo, o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (CApUFPE) obteve a maior média entre as escolas públicas do país no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), nos anos finais do ensino fundamental. Em 2011, a escola obteve 8,1 em uma escala de zero a dez. O resultado foi superior ao de 2009, quando a escola obteve 8, mas inferior a 2007, quando a média foi de 8,2.
A nota do Ideb é calculada pelo Ministério da Educação (MEC) a partir do desempenho do estudante em uma prova aplicada nacionalmente, e em taxas de aprovação, da frequência em sala de aula, além do índice de reprovação da instituição.
Para o diretor e professor de biologia da escola, Alfredo Moura Júnior, não existe um segredo para o bom desempenho, mas sim um trabalho em conjunto entre alunos e professores. “Não fazemos aqui nada de outro mundo. Fazemos o que toda escola deveria ter condições de fazer, ensinar”, acredita.
Quase todos os professores do colégio possuem mestrado e/ou doutorado, um dos fatores apontados pelo diretor como contribuinte para o resultado. “Em primeiro lugar, estão os nossos alunos, que foram lá, estudaram e fizeram a prova. Depois, os professores e o relacionamento entre os docentes e os estudantes, que faz toda a diferença. Isso junto a uma relação boa do aluno com a família podem ser os fatores que fizeram o Aplicação ir bem na avaliação”, pondera o professor.
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A escola tem atualmente 413 alunos, 245 na segunda etapa do ensino fundamental e 168 no ensino médio. Com duas turmas por ano ou série, o Aplicação tem no máximo 30 alunos por sala de aula. Assim como acontece nas univesidades federais brasileiras, o Colégio de Aplicação enfrenta uma greve de professores há quase três meses. Para a maioria dos alunos, o calendário de aulas está bastante irregular. Os estudantes do terceiro ano puderam manter sua rotina de estudos praticamente intacta, já que suas aulas estão garantidas.
O diretor afirma ainda que, embora os índices sejam bons, a preocupação dos professores e direção do Aplicação não está como o Ideb ou vestibular, mas sim com o estudante. “O que a gente busca aqui é saber se o nosso aluno está aprendendo, se está tendo dificuldade em alguma coisa, se está aprendendo a ser crítico, no bom sentido, de saber questionar as informações que lhe são passadas”, explica.
Nas aulas de língua estrangeira, o número de alunos por sala diminui – eles são divididos por níveis. “No sexto ano, eles são sorteados para aprender ou inglês, ou francês. Cada turma é subdivida, por níveis. No sexto ano, você não percebe muito essa diferença, mas depois de três anos aprendendo uma língua, essa divisão surge. Em uma sala de idioma, o ideal é ter no máximo quinze alunos”, conta a professora de francês Fernanda Puça França.
No ensino médio, os alunos passam a aprender uma segunda língua, mas Fernanda acredita que, mais importante do que sair falando dois idiomas, está a questão do respeito à diversidade. “Quando você aprende outro idioma, está em contato também com outra cultura, que não é melhor ou pior que a sua. É apenas diferente. Esse respeito às diferenças é muito presente nas aulas”, afirma a professora de francês.
Aprendizado
“Nós buscamos mostrar ao aluno que ele não aprende por aprender, mas sim porque tem utilidade para a vida dele, você tem uma razão para aprender aquilo, isso faz a diferença”, acredita Fernanda. O conteúdo das aulas auxilia os alunos a compreender o assunto e fazer as conexões com o cotidiano, seja no ensino das línguas, seja no ensino das ciências, defende a professora de química Ana Maria Alves de Souza. “Nós trazemos os alunos do 9º ano para o laboratório. Metade da turma vai em uma aula para o de física, metade para o de química”, conta Ana Maria. “As aulas não são aquela mesmice, os professores tentam sempre diversificar a forma de ensinar, seja através de um debate, de um exercício diferente”, conta Larissa Wanderley, que estuda desde a antiga quinta série no colégio.
Desenvolvendo experimentos com produtos recicláveis, os alunos mostram que não é preciso ter um laboratório com equipamentos de última geração para transpor para a prática o que aprendem na teoria. “Você pode realizar experimentos sem ser com o material convencional. Quem vê as boas notas no Ideb, imagina que trabalhamos em uma escola de primeiro mundo, mas também temos nossas dificuldades”, explica Ana Maria. “A gente se esforça para fazer o melhor com o que temos”, concorda Fernanda.
Aluno do 3º ano do ensino médio, Wesllen Morais está desde a antiga 5ª série no Aplicação. “A gente aqui estuda porque quer, aprende porque quer aprender, não é só para passar em uma prova. É uma escola para a vida toda”, acredita o aluno. “Você aprende a correr atrás de livros e não simplesmente esperar que o professor indique. O colégio vai além do estudo”, diz Gabriel Veras, também no 3º ano, mas que veio transferido de um colégio particular no 1º ano do ensino médio.
Liberdade x responsabilidade
Para os alunos, um dos grandes diferenciais do Aplicação é a liberdade que eles têm dentro do colégio. Um aluno pode, por exemplo, conversar com o professor e fazer um acordo para não assistir a uma aula, dedicando aquele tempo a estudos na biblioteca. “É uma liberdade que faz a gente aprender a ser responsável. Não é uma coisa sem limites, que todo mundo faz o que quer”, esclarece Larissa.
Porém, liberdade não significa fazer o que quiser, quando quiser, lembra o diretor Moura Júnior. “Quem pensa que eles não são vigiados, está enganado. Somos responsáveis pelos alunos durante o período de aula. Se ele quer sair da sala, ele precisa me dizer o motivo e para onde ele está indo”, ressalta o diretor.
Essa liberdade vem acompanhada de responsabilidade e cabe tanto aos alunos, quanto aos professores. “A gente tem também presença no conselho, temos um Grêmio. Os alunos organizam as reclamações, pedidos e apresentam à escola”, explica Wesllen.
Outro ponto que faz a diferença, segundo a aluna Carolina Aguiar, do 2º ano do ensino médio, é o fato de que os alunos são incentivados a ter opinião própria. “A gente aqui tem que pensar mais, até nas provas. Não é desmerecendo as outras escolas, é só que os professores fazem a gente pensar”, afirma Carolina. “Muitas vezes, os professores perguntam a nossa opinião, para só depois dizer a deles”, completa Larissa.
Esse senso de responsabilidade faz toda a diferença, acredita a estudante de licenciatura Jaqueline Dantas, que estagia no Colégio de Aplicação. “O comprometimento deles é diferente. Dou aula em outras escolas e dá para perceber que o projeto daqui é diferente, importante. Os alunos têm outra consciência”, diz Jaqueline. “Eles vêm com interesse, buscam mais, chegam até a ajudar a gente”, conta Marina Monteiro, estudante de bacharelado em química.
Outras escolas
O segundo lugar entre as escolas públicas no Ideb foi o Colégio Estadual Waldemiro Pita, na cidade de Cambuci, no Rio de Janeiro, com média 7,8, seguida por uma escola estadual da mesma cidade, a Oscar Batista, que obteve 7,7. O quarto lugar ficou com o Colégio Dom Pedro II, federal do Rio de Janeiro, com Ideb de 7,6, seguido pela Escola do Recife, ligada à Universidade de Pernambuco, que teve média de 7,3.
G1-PE