Grande parte do fascínio de Ávila se deve ao fato de ser mulher. Costuma-se ver o tráfico de drogas como algo dominado por machões e alimentado por testosterona, mas os especialistas dizem que as mulheres sempre tiveram um papel importante no negócio das drogas mexicano
Paul Harris, no The Guardian
Ela é elegante, atraente e aprecia Botox e as coisas boas da vida – mesmo na prisão. Mas a fantástica carreira de Sandra Ávila Beltrán, a suposta baronesa das drogas mexicana, parece fadada a terminar em uma prisão norte-americana.
Ávila foi extraditada na semana passada para os Estados Unidos, onde enfrentará acusações relacionadas a uma vasta rede de tráfico de drogas e ao obscuro poder do terrível cartel de Sinaloa. Ela chegou a Miami no fim da semana para se apresentar a um tribunal da Flórida.
Conhecida como a “Rainha do Pacífico” por sua imensa influência nas rotas de tráfico de drogas, Ávila é uma das figuras mais excêntricas que surgiram nos últimos anos na indústria do narcotráfico mexicano, cuja violência extrema já causou 60 mil vítimas desde que a ofensiva do governo teve início em 2006. “É uma personagem curiosa. É a primeira chefona realmente sexy a chamar a atenção da mídia. Além de elegante e vaidosa, existe um fascínio por ela por ser mulher”, diz Howard Campbell, especialista em tráfico de drogas mexicano da Universidade do Texas em El Paso.
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Há muito tempo os mexicanos são fascinados por Ávila, que é tema de uma popular balada sobre drogas, ou “narcocorrido”, gravada pela banda Los Tucanes, de Tijuana. “A Rainha das Rainhas” inspira o verso: “Quanto mais bela a rosa, mais afiados os espinhos”.
Ávila é famosa por apreciar boas roupas, e dizem que recebia a visita de um médico na prisão mexicana para lhe aplicar injeções de Botox. Ela queixou-se de que as regras prisionais que a impediram de receber em sua cela a comida enviada por restaurantes vizinhos infringiam os direitos humanos. E acreditava que servia de inspiração para a popular novela da TV mexicana, “La Reina del Sur”, sobre uma bela jovem envolvida no perigoso mundo dos cartéis.
Mas na vida real Ávila não é mais tão jovem. Não se sabe exatamente qual é sua idade – acredita-se que tenha pouco mais de 50 anos –, mas passou praticamente toda a vida envolvida com o obscuro mundo dos cartéis. É provável que ela seja a terceira geração de traficantes pertencentes a uma família com extensas conexões no comércio de drogas. E é sobrinha de Miguel Ángel Félix Gallardo, famoso chefão da droga mexicano que hoje cumpre uma sentença de 40 anos.
Talvez por suas relações familiares e conjugais, e por seus dotes físicos, acredita-se que Ávila tenha galgado os escalões do cartel de Sinaloa ao especializar-se em lavagem de dinheiro. Mas era um mundo perigoso – dois maridos dela foram assassinados.
Embora apaixonar-se pela Rainha do Pacífico seja potencialmente letal, também pode gerar uma carreira lucrativa. Os investigadores acreditam que seu romance com o traficante colombiano Juan Diego Espinosa tenha sido um elo vital entre o país sul-americano e o cartel mexicano de Sinaloa. Acreditam também que tenha dado a Ávila o controle do fluxo de narcóticos da Colômbia para os portos do Pacífico no México, o que lhe rendeu o famoso apelido e financiou um estilo de vida de carros luxuosos e restaurantes finos.
Grande parte do fascínio de Ávila se deve ao fato de ser mulher. Costuma-se ver o tráfico de drogas como algo dominado por machões e alimentado por testosterona, mas os especialistas dizem que as mulheres sempre tiveram um papel importante no negócio das drogas mexicano.
No ano passado, a imprensa mexicana divulgou que Enedina Arellano Félix tornou-se a primeira chefe de cartel ao assumir a organização de Tijuana. Esse fenômeno também contamina a cultura popular. No último filme de Oliver Stone, Selvagens, a bela atriz mexicana Salma Hayek faz o papel de uma implacável chefona das drogas.
Hoje, Ávila ganhou a atenção de todos. Após anos de atividade, ela foi presa no México em 2007 e condenada por lavagem de dinheiro, embora alegasse ser uma mera dona de casa que ganhava dinheiro vendendo roupas e em bicos no mercado imobiliário. E o juiz concluiu que não havia provas suficientes para uma condenação por tráfico de drogas.
Desde então as autoridades norte-americanas esperavam sua extradição. Ávila fez de tudo para impedir, até uma tumultuada campanha na mídia. Escreveu um livro e chegou a dar uma entrevista em 2009 para um jornalista da TV americana, Anderson Cooper, culpando o governo mexicano pelo crescimento do comércio de drogas. “É óbvio e lógico. O governo tem de se envolver em tudo o que é corrupto”, ela disse.