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Julgamento da ‘rainha das drogas’ é aguardado com expectativa e fascínio

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Grande parte do fascínio de Ávila se deve ao fato de ser mulher. Costuma-se ver o tráfico de drogas como algo dominado por machões e alimentado por testosterona, mas os especialistas dizem que as mulheres sempre tiveram um papel importante no negócio das drogas mexicano

Imagem de Sandra quando foi presa em 2007. A Suprema Corte mexicana autorizou sua extradição para os EUA. Foto: Divulgação da Polícia Federal Mexicana / AFP

Paul Harris, no The Guardian

Ela é elegante, atraente e aprecia Botox e as coisas boas da vida – mesmo na prisão. Mas a fantástica carreira de Sandra Ávila Beltrán, a suposta baronesa das drogas mexicana, parece fadada a terminar em uma prisão norte-americana.

Ávila foi extraditada na semana passada para os Estados Unidos, onde enfrentará acusações relacionadas a uma vasta rede de tráfico de drogas e ao obscuro poder do terrível cartel de Sinaloa. Ela chegou a Miami no fim da semana para se apresentar a um tribunal da Flórida.

Conhecida como a “Rainha do Pacífico” por sua imensa influência nas rotas de tráfico de drogas, Ávila é uma das figuras mais excêntricas que surgiram nos últimos anos na indústria do narcotráfico mexicano, cuja violência extrema já causou 60 mil vítimas desde que a ofensiva do governo teve início em 2006. “É uma personagem curiosa. É a primeira chefona realmente sexy a chamar a atenção da mídia. Além de elegante e vaidosa, existe um fascínio por ela por ser mulher”, diz Howard Campbell, especialista em tráfico de drogas mexicano da Universidade do Texas em El Paso.

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Há muito tempo os mexicanos são fascinados por Ávila, que é tema de uma popular balada sobre drogas, ou “narcocorrido”, gravada pela banda Los Tucanes, de Tijuana. “A Rainha das Rainhas” inspira o verso: “Quanto mais bela a rosa, mais afiados os espinhos”.

Ávila é famosa por apreciar boas roupas, e dizem que recebia a visita de um médico na prisão mexicana para lhe aplicar injeções de Botox. Ela queixou-se de que as regras prisionais que a impediram de receber em sua cela a comida enviada por restaurantes vizinhos infringiam os direitos humanos. E acreditava que servia de inspiração para a popular novela da TV mexicana, “La Reina del Sur”, sobre uma bela jovem envolvida no perigoso mundo dos cartéis.

Sandra Ávila, rainha do tráfico de drogas, antes de ser presa.

Mas na vida real Ávila não é mais tão jovem. Não se sabe exatamente qual é sua idade – acredita-se que tenha pouco mais de 50 anos –, mas passou praticamente toda a vida envolvida com o obscuro mundo dos cartéis. É provável que ela seja a terceira geração de traficantes pertencentes a uma família com extensas conexões no comércio de drogas. E é sobrinha de Miguel Ángel Félix Gallardo, famoso chefão da droga mexicano que hoje cumpre uma sentença de 40 anos.

Talvez por suas relações familiares e conjugais, e por seus dotes físicos, acredita-se que Ávila tenha galgado os escalões do cartel de Sinaloa ao especializar-se em lavagem de dinheiro. Mas era um mundo perigoso – dois maridos dela foram assassinados.

Embora apaixonar-se pela Rainha do Pacífico seja potencialmente letal, também pode gerar uma carreira lucrativa. Os investigadores acreditam que seu romance com o traficante colombiano Juan Diego Espinosa tenha sido um elo vital entre o país sul-americano e o cartel mexicano de Sinaloa. Acreditam também que tenha dado a Ávila o controle do fluxo de narcóticos da Colômbia para os portos do Pacífico no México, o que lhe rendeu o famoso apelido e financiou um estilo de vida de carros luxuosos e restaurantes finos.

Grande parte do fascínio de Ávila se deve ao fato de ser mulher. Costuma-se ver o tráfico de drogas como algo dominado por machões e alimentado por testosterona, mas os especialistas dizem que as mulheres sempre tiveram um papel importante no negócio das drogas mexicano.

No ano passado, a imprensa mexicana divulgou que Enedina Arellano Félix tornou-se a primeira chefe de cartel ao assumir a organização de Tijuana. Esse fenômeno também contamina a cultura popular. No último filme de Oliver Stone, Selvagens, a bela atriz mexicana Salma Hayek faz o papel de uma implacável chefona das drogas.

Hoje, Ávila ganhou a atenção de todos. Após anos de atividade, ela foi presa no México em 2007 e condenada por lavagem de dinheiro, embora alegasse ser uma mera dona de casa que ganhava dinheiro vendendo roupas e em bicos no mercado imobiliário. E o juiz concluiu que não havia provas suficientes para uma condenação por tráfico de drogas.

Desde então as autoridades norte-americanas esperavam sua extradição. Ávila fez de tudo para impedir, até uma tumultuada campanha na mídia. Escreveu um livro e chegou a dar uma entrevista em 2009 para um jornalista da TV americana, Anderson Cooper, culpando o governo mexicano pelo crescimento do comércio de drogas. “É óbvio e lógico. O governo tem de se envolver em tudo o que é corrupto”, ela disse.