O professor diz que, caso a empresa volte, subirá de novo nas árvores contra o corte. Segundo a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, o serviço será feito ainda nesta semana
O historiador e professor da USP Henrique Carneiro, de 52 anos, acordou ontem com o som de motosserras podando árvores da Praça Laerte Garcia da Rosa, perto da sua casa, no Jardim Rizzo, Butantã, zona oeste. Preocupado com os fícus, seringueiras e amoreiras, que, segundo ele, já haviam sido podados indiscriminadamente na sexta-feira, Carneiro saiu correndo, mas era tarde. Uma das árvores tinha perdido três partes do tronco e funcionários da empresa contratada para o serviço seguiam na direção de outra. Como seus argumentos pareciam não convencê-los, o professor subiu na árvore e se recusou a sair até desistirem de cortá-la.
A reportagem é publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 07-08-2012.
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“Alguns riram de mim, outros até concordaram. As árvores estavam saudáveis, não atrapalhavam a rede elétrica e a ordem era de poda generalizada. Esse tipo de ação é irreparável. Depois de cortadas, nada poderia ser feito”, afirma. “A herança brasileira é de destruição do verde, a começar pela Mata Atlântica. Há uma cultura ‘antiárvore’, as pessoas parecem ter horror ao verde. O que houve aqui foi crime, atentado ao espaço verde e lúdico.”
Segundo a Subprefeitura do Butantã, um pedido de poda foi feito ao Conselho de Segurança do bairro. A poda, no entanto, seria de uma única seringueira e não das 15 árvores podadas pelas motosserras. A justificativa seria garantir a segurança do local com mais luminosidade – argumento compartilhado por alguns moradores.
“Essa praça é uma escuridão só. Ficamos preocupados com assalto. Concordo com a poda”, disse a aposentada Claudette Franco, de 66 anos, vizinha de Carneiro e da praça. “Precisamos de ar, verde, mas tudo que é exagerado deve ser questionado”, afirmou a também aposentada Marlene Marcondes, de 77.
Para o artista plástico Ivan Pereira, de 72 anos, a segurança é uma preocupação, mas outra solução poderia ter sido encontrada. “Precisamos de iluminação, mas o que fizeram aqui não foi poda, foi estupidez. Tenho uma foto do meu filho brincando naquela árvore quando ainda era uma criança. Cortaram 30 anos de história.”
A subprefeitura garante que, antes da execução dos serviços, agrônomos fazem vistoria e elaboram laudo técnico sobre a condição das árvores. Ainda segundo o órgão, podas são feitas quando as árvores apresentam más condições, estão prestes a cair ou interferem na fiação elétrica.
Durante todo o dia, Carneiro e sua mulher, Sílvia Miskulin, de 41 anos, também historiadora e professora universitária, ficaram de prontidão para evitar a poda. Eles procuraram vizinhos para pedir apoio e enviaram denúncia ao Ministério Público. O professor diz que, caso a empresa volte, subirá de novo nas árvores contra o corte. Segundo a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, o serviço será feito ainda nesta semana.
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