Formação clássica ‘casal com filhos’ deixou de ser maioria no Brasil: segundo o IBGE, representa 49,9% dos domicílios, enquanto outros tipos de famílias já somam 50,1%
A família brasileira se multiplicou. O modelo de casal com filhos deixou de ser dominante no Brasil. Pela primeira vez, o censo demográfico captou essa virada, mostrando que os outros tipos de arranjos familiares estão em 50,1% dos lares. Hoje, os casais sem filhos, as pessoas morando sozinhas, três gerações sob o mesmo teto, casais gays, mães sozinhas com filhos, pais sozinhos com filhos, amigos morando juntos, netos com avós, irmãos e irmãs, famílias “mosaico” (a do “meu, seu e nossos filhos”) ganharam a maioria.
O último censo, de 2010, listou 19 laços de parentesco para dar conta das mudanças, contra 11 em 2000. Os novos lares somam 28,647 milhões, 28.737 a mais que a formação clássica.
Essa virada vem principalmente com a queda na taxa de fecundidade. Em 1940, a mulher tinha em média seis filhos, hoje tem menos de dois, fazendo a população crescer mais devagar e ficar mais velha.
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Ao optar por uma família menor, a mulher entrou forte no mercado de trabalho: em 1969, elas eram 27,3% da força de trabalho, em 2009, 43,6%. A renda feminina trouxe a segurança para a mulher seguir seu caminho sem marido e os costumes chegaram à legislação, como a nova lei do divórcio, que dispensa a mediação do juiz. E, lembra o sociólogo Marcelo Medeiros, da UnB, o trabalho feminino distribuiu melhor a renda:
— Menos filhos e mais renda ajudaram a reduzir a desigualdade.
Viver pelo mundo é mais barato que no Rio
Os casais sem filhos crescem e já chegam a dois milhões. São os dinks, sigla em inglês para “Dupla renda, nenhum filho”. Vinicius Teles e Patrícia Figueira são exemplo. Eles só têm endereços temporários pelo mundo ou os contatos eletrônicos. No Facebook, não poderia ser mais apropriado: Casal Partiu. Embora tenham se conhecido em Niterói, eles agora não têm casa: passam quatro meses no Brasil e, no resto do ano, vivem em países como Líbano, Japão, Argentina, Grécia, Índia ou Nova Zelândia. Juntos há dez anos, sempre tiveram uma certeza: não teriam filhos. A decisão de viver pelo mundo foi tomada com a evolução da carreira de ambos: ele trabalha remotamente na criação de softwares e ela é fotógrafa de casamentos.
— Não somos milionários. Viver viajando pelo mundo, mesmo na Europa, é mais barato que ter casa no Rio — afirma Vinícius.
— Nossas famílias cobravam os filhos, hoje entendem, isso é mais comum — diz Patricia.
— Antes, a realização era casar e ter filhos. Hoje os dinks são quatro milhões de pessoas, de renda alta, moram em apartamento e grandes metrópoles — diz José Eustáquio Diniz, professor da Escola Nacional de Estatística, do IBGE.
Os desafios para o IBGE permanecem. O instituto ainda não mede casados em casas separadas e filhos que têm duas casas. Ana Saboia, coordenadora de Indicadores Sociais, estuda como outros países tratam essas novíssimas famílias.
Henrique Gomes Batista e Cássia Almeida, O Globo
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